sábado, 17 de maio de 2014

[Europa League Final] Sevilha 0-0 Benfica (4-2p): A Aventura Turim

Como falar do que aconteceu? Como traduzir por palavras a agrura de um desfecho assim? Vamos começar do princípio e recuar ao dia 15 de Maio de 2013. O ano passado, na final da Liga Europa 2012/13 (aventura Amesterdão aqui retratada), tinha dito a pessoas mais próximas que a presença no Arena seria a oportunidade de uma vida. Tão cedo não esperava que o Benfica voltasse a uma final. Estava profundamente enganado. E, uma vez mais, perante a possibilidade de ver o clube do meu coração conquistar um troféu europeu, sabia que tinha de abraçar uma nova aventura, desta feita em terras italianas. O texto será dividido por diversos capítulos, suportado por algumas fotos que dão colorido a esta viagem. Espero que gostem!
 
Os preparativos

Não esperava que a equipa fosse capaz de resistir ao assédio na Juventus, aquando da 2.ª mão das meias-finais. Mas, a verdade é que os jogadores foram valentes e o Benfica preparava-se para a sua 2.ª final europeia consecutiva. Tal como no ano anterior, por um conjunto variado de razões, optei por viajar de charter de ida e volta (Benfica Viagens) no dia da partida. Munido do ingresso mágico (obrigado aos amigos que ajudaram a tornar esta aventura realidade), restou organizar alguma logística e aguardar, impacientemente, pelo grande dia.

14 de Maio de 2014: a partida de Lisboa

O voo estava marcado para as 08h30, com o requisito de estar no aeroporto por volta das 05h30. Nessa manhã, acordei às 04h00, após uma curta noite de sono, mas com a motivação em alta de que a maldição iria ser quebrada. Ao pequeno-almoço, tempo para olhar para o mapa de Turim e delinear um percurso: almoço, visita à Granata Store e passagem pelas principais praças e ruas da cidade.


14 de Maio de 2014: a chegada a Turim

Havia, no entanto, um problema: à chegada (prevista para as 12h00), o transfere iria-me deixar, e às pessoas que foram comigo, no Juventus Stadium. Por isso, teríamos de encontrar uma alternativa rápida que nos deixasse no centro. Felizmente, e por um custo de apenas 20 euros, foi possível partilhar um táxi de 7 pessoas e, em poucos minutos, o grupo estava perto da Piazza Castello. Assim, o plano estipulado de irmos almoçar para depois percorrer algumas das zonas mais centrais e turísticas da cidade foi mantido. Pouco passava das 13h00 quando nos sentámos numa esplanada da bonita Piazza Carignano, já ansiosos de saborear as iguarias da gastronomia italiana: penne, raviolis, vinho branco, grappa e esta foccacia que a foto documenta.


14 de Maio de 2014: em Turim

A primeira impressão foi positiva. Já conhecia Roma e Florença e sou um admirador de tudo o que é italiano: comida, vinhos, queijos, gelados, história, língua, futebol. Porém, Turim é uma cidade do norte do país, com as suas particularidades especiais. Porventura mais cosmopolita, mas igualmente bela na arquitectura dos seus icónicos edifícios. Ao fundo, os Alpes transmitem uma magia especial. Em termos gerais, não posso dizer que tenha ficado entusiasticamente apaixonado pela cidade. Ainda assim, as expectativas que tinha foram cumpridas e, noutras coisas que falarei adiante, até superadas.
Após o almoço, havia que apressar o passo. Duas paragens teriam de ser feitas. A primeira seria numa das muitas gelatarias que existem em redor da Piazza Castello. Posso afirmar, sem qualquer dúvida, que o pistacchio (verde di Bronte) foi o melhor que provei na vida. A segunda seria na famosa Granata Store: a loja oficial com merchandising do Torino FC. Tinha muita curiosidade em ver de perto o material desportivo do emblema italiano e acabou por ser o local escolhido para algumas compras de recordação, como por exemplo o DVD do testemunho histórico do Benfica 4-3 Torino de 3 de Maio de 1949. A fotografia da praxe, já com a cap visiera 2014 a completar o figurino.


Após estas duas paragens, tempo para um breve passeio a pé pela cidade. Fomos pela Via Roma, no intuito de pisar a Piazza San Carlo. Regressámos para a Piazza Castello, por entre ruelas mais estreitas, até apanharmos a Via Po. Sempre em direcção ao rio, novas bifurcações foram conquistadas. Pausa para uma cerveja, já perto do museu do cinema, e com a imponente Mole Antonelliana no horizonte. Dali foi um pulinho até à Piazza Vittorio Veneto, onde se concentravam muitos adeptos encarnados. Como sabíamos que o meeting point era no Parco del Valentino, onde gratuitamente seriam colocados à disposição autocarros para o estádio, com partida até às 17h30, acelerámos o passo junto ao magnífico Fiume Po.


14 de Maio de 2014: a chegada ao Juventus Stadium

Afortunadamente, conseguimos chegar a horas de entrar num dos quatro autocarros que nos iriam levar para o palco da final. Foi a partir deste momento que vivenciei os episódios mais marcantes desta viagem. Vou tentar traduzir por palavras.

Em primeiro lugar, o autocarro. Imaginem quando o Benfica é campeão nacional e vão no metro a caminho do Marquês. Tudo a cantar. Tudo aos saltos. É linda aquela comunhão, não é? Foi mais ou menos parecido. Só que ali, com a polícia a furar o trânsito (demorámos cerca de 15 minutos a chegar ao estádio), o bónus foi ver carros de italianos (adeptos do Torino, pois claro) a apitar, com braços de fora da janela. Senti um bocadinho da efervescência que os jogadores da selecção portuguesa viveram aquando do Euro 2004. E cada vez gritávamos mais alto. E cada vez pulávamos mais rápido. Foi maravilhoso sentir aquele apoio. Este vídeo é uma amostra do que estou a falar. Em segundo lugar, já nas imediações do Juventus Stadium, estou a beber uma cerveja junto a uma das roulottes, não muito longe do ponto C, quando dois fulanos chegam-se ao pé de mim. Um deles aponta para o meu boné do Torino FC e diz algo em italiano que não percebi de imediato. Demorei um segundo a entender o contexto. O rapaz aponta para o meu cachecol da Liga Europa (oferta da Benfica Viagens), com o emblema do Benfica a tapar o do Sevilha. De forma educada, neguei-lhe o pedido. Ele não desarma, quase a suplicar. De seguida, enquanto olhava por cima do ombro, despe parte do casaco e mostra-me uma incrível tatuagem que tinha no braço: o desenho de um lindo touro, acompanhado de mais adereços respeitantes ao clube amigo de Turim. Viro-me para a minha mulher e, sem hesitar, digo: “tira o meu cachecol da mala (o que esteve sempre presente ao longo da época 2013/14) que vou-lhe oferecer”. Eu passo-lhe o adereço para as mãos, o tipo dá-me um abraço e, num ápice, sai dali disparado a correr que nem uma criança, enquanto o cachecol se agitava ao vento. Antes da partida propriamente dita, e da entrada (sem problemas, diga-se), dizer que ainda houve oportunidade de encontrar amigos de Portugal, alguns por mero acaso, sem nada previamente combinado. Foi óptimo estar ali à conversa, com caras conhecidas. Um abraço para todos aqueles com quem me cruzei.
E o que dizer do estádio? Não muito bonito da parte de fora, sou sincero. Parece uma sanduíche. Mas, lá dentro, já instalado no sector 118, fila 17, a impressão melhorou substancialmente. O Juventus Stadium tem pinta, a acústica é fabulosa e as bancadas parece que estão em cima do relvado. Nota muito positiva.


14 de Maio de 2014: o jogo

Como é que vou escrever sobre o jogo? Não me apetece falar sobre maldições antigas. Não quero debater lances de arbitragem. Confesso: estava muito esperançoso que, após 52 anos de espera, finalmente o Benfica iria voltar à glória europeia. Mesmo sem a possibilidade de contar com Enzo, Salvio e Markovic. Apesar da lesão de Sulejmani. Não vou comentar a solução encontrada de colocar Maxi Pereira com André Almeida do lado direito, ao invés da entrada de Cavaleiro. Para mim, até fez sentido. Sim, interiormente, acreditava que iria presenciar a conquista de um troféu europeu. Mas, à medida que o tempo foi passando, os nervos foram-se acumulando. Quando o prolongamento chegou, dirigi-me sozinho à casa de banho. Envolto nos meus pensamentos. Fiquei por ali, alguns minutos, a olhar para o estádio, a ouvir as vozes que sopravam perto, completamente anestesiado no que o coração me dizia. Será que ainda era possível? Já na bancada, quando aquela onda vermelha puxava pela equipa, erguia a cabeça para o céu, fechava os olhos, e cantava com toda a força que podia. Só quando Cardozo falhou o penalty é que esmoreci. Foi nesse preciso momento que senti a derrota. Ainda hoje me dói. Quando vi o último remate do jogador do Sevilha, lembrei-me da final contra o PSV. Tinha 13 anos. E as lágrimas caíram. Ao contrário de Amesterdão, esta foi difícil de digerir e as emoções foram mais fortes. Senti-me injustiçado. Impotente. Foi uma tristeza porque não sei quando poderá ser a próxima final. Não sei se, em vida, conseguirei ver o meu clube ganhar uma competição europeia. No plano nacional levamos vantagem em relação aos concorrentes directos. Já vi o Benfica vencer campeonatos, taças de Portugal. Este troféu era mesmo muito importante, para mim e de certeza para milhares que sofreram como eu. Pensei nisto tudo quando saí do estádio. E as lágrimas foram mais fortes.




14 de Maio de 2014: o fim da viagem

O que fica desta aventura? A recordação de um dia único. De mais de 24h seguidas acordado à procura de um sonho que virou pesadelo. O futebol pode ser tão ingrato. Cheguei a casa às 6h00 da manhã de quinta-feira. De coração destroçado. Foi duro. Continua a ser duro. Mas olhando para tudo o que vivi, houve tantos momentos positivos, que não me arrependo um segundo de ter embarcado nesta aventura. Da cumplicidade com tantos benfiquistas, unidos a uma só voz. Da minha mulher e amigos, com quem partilhei esta história de amor por um clube, que muitos compreendem, e outros tantos estranham. Não se explica. Sente-se. E, agora, recordando o passado tão recente, sorrio ao ver as fotos na Granata Store, fico emocionado com as memórias daquela caravana em direcção ao estádio, comovo-me com o rapaz do Torino que levou ao meu cachecol, orgulho-me do aceno de amizade daquele tipo da Groundforce, a apontar para o meu boné, quando nos preparávamos para o voo de regresso. O meu, o nosso, clube é tão grande. Impossível não ficar arrepiado com as manifestações de carinho dos adeptos do Torino. Uma cidade que admira e respeita o meu emblema. É uma alegria ter a oportunidade de ver as nossas cores no estrangeiro. Um privilégio quando se trata de uma final europeia. Obrigado, Benfica!


sábado, 18 de maio de 2013

[Europa League Final] Chelsea 2-1 Benfica: A Aventura Amesterdão

Desaparecido do blogue, mas nunca afastado do Benfica. Esta época, salvo raríssimas excepções (por exemplo, o jogo caseiro frente ao Braga por motivos de férias), não tenho perdido um jogo na Luz. Quando se proporcionou a hipótese de ir a Amesterdão, acompanhar o clube do meu coração a uma final europeia, não hesitei: tinha de estar presente num evento desta importância. Assim, esta crónica persegue dois objectivos: por um lado, partilhar com os leitores, muitos deles amigos e conhecidos, a experiência vivida; por outro lado, deixar um testemunho histórico que mais tarde possa recordar. O texto será dividido por diversos capítulos, suportado por algumas fotos que dão colorido a esta aventura. Espero que gostem!

Os preparativos

Logo na noite após o 3-1 diante do Fenerbahçe, comecei a magicar qual a melhor maneira de ir a Amesterdão. Para ser mais preciso, semanas antes andava já a pesquisar alguns cenários nos Skyscanner desta vida, tendo concluído que os preços das deslocações aéreas aumentavam de dia para dia. Como a marcação dos dias de férias prometiam algum embaraço, na sexta-feira de manhã perdi a cabeça e avancei para um charter de ida e volta no dia do jogo. A mola impulsionadora foi a seguinte: em primeiro lugar, o facto de nunca ter ido ver um jogo do Benfica ao estrangeiro e, em segundo lugar, a lembrança da final dos penaltis com o PSV (com 13 anos) e a final do golo solitário de Rijkaard (com 15 anos). Ou seja, agora com 38 anos de idade, 23 anos depois da última final, e sem saber quando será a próxima, a única certeza que tinha era que desta vez não iria falhar.


Os dias antes da viagem

Posto isto, reservei o charter e fiquei motivadíssimo para a jornada europeia que ia (íamos viver). Por pouco tempo. No sábado, após ter conhecimento da forma como os bilhetes iam ser colocados à venda, temi pelo acesso ao ingresso mais desejado. Como sou sócio com Red Pass (normal), comecei fortemente a stressar com a possibilidade de não conseguir bilhete. Sábado. Domingo. Segunda. Terça. Vários dias angustiado com o receio de que não conseguiria cumprir o sonho. Felizmente, diria que quase no sprint final, com a ajuda de amigos que impecavelmente se disponibilizaram, e preocuparam para ajudar, consegui na quarta de manhã o tão desejado voucher que permitiu, mais tarde, levantar o bilhete que a foto documenta. Aos que aturaram o meu estado de ansiedade nesses dias, e me ajudaram a tornar realidade a aventura Amesterdão, o meu muito obrigado.

15 de Maio de 2013: a partida de Lisboa

O voo estava marcado para as 08h30, com o requisito de estar no aeroporto por volta das 07h00. Nessa manhã, acordei às 05h30 e, ao contrário de outros dias, a cama mais parecia um trampolim, pelo que me levantei num impulso elástico, com uma energia fácil de entender. Já no aeroporto, e na hora marcada, tempo para uma breve troca de impressões com a pessoa da agência que nos iria acompanhar (aproveito para agradecer toda a organização e logística da operação) e para um pequeno-almoço retemperador para a viagem que se avizinhava.


15 de Maio de 2013: a chegada a Amesterdão

Inicialmente, estava previsto chegar à cidade que iria acolher milhares de benfiquistas ao meio-dia. No entanto, houve um ligeiro atraso na partida de Lisboa e só aterrei perto das 13h00. Nesta altura, também por razões de segurança, a impaciência tomou conta dos passageiros, porque estivémos retidos longos minutos até a chegada do transfer que nos levaria até à zona do Museum Square. Assim, o plano que estipulei com os meus companheiros de viagem foi o seguinte: mal estivéssemos por nossa conta, íamos rapidamente almoçar para depois percorrer algumas das zonas mais centrais e turísticas da cidade.


15 de Maio de 2013: em Amesterdão

A primeira impressão foi positiva. A cidade é, realmente, magnífica. Sente-se uma espécie de harmonia, um ritmo de boa onda, talvez pelo ar descontraído dos holandeses, que circulavam para todo o lado nas suas já famosas bicicletas. Depois, observar as ruas ordenadas na sua simplicidade, com edifícios belíssimos, não muito altos naquela zona mais central, e tudo salpicado com canais e pontes que dão um toque especial à denominada Veneza do Norte.

Após uma série de fotos em movimento, pausa para almoço num restaurante argentino perto da Rembrandt Square que serviu para reforçar calorias para o resto do dia. Tudo perfeito, a preços não muito diferentes dos praticados em Lisboa. Contudo, o relógio já marcava 15h00, sabia que tínhamos de estar de volta ao Museum Square às 18h00, para o transfer que nos iria levar ao Arena, pelo que havia que apressar o passo em direcção à Dam Square. 


Em passo frenético, sem destino certo, fomos descendo até Damrak, em direcção à Central Station e começámos a virar à direita, entre ruelas planas que faziam lembrar um pouco o Bairro Alto, sem subidas e descidas acentuadas, no intuito de observar a zona intitulada De Wallen (Red Light District). Ao longo do percurso, diga-se que o mar de benfiquistas impressionava: em todo o lado se viam camisolas e cachecóis vermelhos. Em cada esquina, em cada rua, uma quantidade enorme de lojas, pessoas, cafés, bicicletas, numa espécie de caos controlado, uma confusão melodiosa, entre cheiros reconhecíveis e sons familiares de Benfica, Benfica, Benfica. Era altura de uma cerveja para matar a sede.


Enquanto caminhava, comecei a avistar alguns grupos de ingleses afectos ao Chelsea, com as suas habituais large beers nas mãos, enquanto o nome de José Mourinho não era esquecido. Ainda assim, continuava a ver com os meus próprios olhos que, ao contrário do que se fazia prever, os benfiquistas tinham invadido a cidade de amesterdão.


Por ali andei um bom bocado, a fintar pessoas e bicicletas, tendo-me cruzado com caras conhecidas, como Abel Xavier e Veloso, por exemplo. Foi aqui que comecei a viver mais intensamente a partida propriamente dita, e a afastar-me do papel de turista, que estava a deambular sem destino, de máquina fotográfica em punho. Tinha chegado a hora de ir para o Arena de Amesterdão, não sem antes uma última picture de recordação.


15 de Maio de 2013: a chegada ao Arena

Em primeiro lugar, voltar a referir que a organização teve nota elevada. O transfer até ao estádio decorreu sem problemas e todos os autocarros, e eram muitos, ficaram estacionados num parque situado 10 minutos a pé do Arena. Para tal, referir também o staff de apoio local, desde forças de segurança, até ao pessoal de trânsito. Sabendo que na próxima época o Estádio da Luz vai acolher a final da Champions League, julgo que teríamos alguns ensinamentos a retirar do planeamento e execução desta logística.


Por esta altura, junto ao fun center do lado dos adeptos encarnados, umas vezes combinado, outras nem tanto, foram acontecendo encontros com vários amigos, desde o Ricardo Silveirinha, do blogue Ontem vi-te no Estádio da Luz, passando por dois colegas de trabalho, até outros companheiros sempre presentes na nossa Catedral. Troca de impressões sobre a viagem, brilhozinhos nos olhos de quem esperava uma conquista europeia, imensa ilusão pontuada por abraços e sorrisos cúmplices. O tempo foi passando e, cerca das 19h15, o Amsterdam Arena resolveu dizer Welkom in.


À entrada, a sensação de conforto, de estarmos em família, já com os cânticos a ecoar na cabeça e a palavra Benfica a ritmar o batimento cardíaco. Emoção. Identidade. Sentimento de pertença. O cérebro dava ordens para as pernas andarem, mas todos nós naquele momento éramos coração. É então que surge uma visão magnífica, mais propriamente do que se passava no Zuid H.



15 de Maio de 2013: o jogo

Dentro do Arena, a primeira impressão partilhada com um amigo foi, mais ou menos, a seguinte: "sim senhor, o estádio é bonitinho, a cobertura é uma obra de engenharia interessante blá blá blá, os dois enormes écrans de cada lado têm muita pinta, mas estas cadeiras às cores e o facto da lotação rondar os 52.000 espectadores... isto, no fundo, é um Alvalade e vamos partir isto tudo".




O jogo começa, os pulmões enchem-se de ar e a minha voz encontra eco em milhares de outras que comigo partilham a emoção de podermos vir a presenciar um feito marcante na história do clube. A entrada foi à Benfica: com dinâmica, com garra, com vontade. Foram 15 minutos espantosos. Empolgantes. Como nem sempre acontece, nunca senti os adeptos tão próximos da equipa, numa sintonia homogénea, onde novos e velhos, homens e mulheres, todos juntos, empurravam aqueles onze heróis para cima da baliza dos ingleses. Lamentavelmente, ou é o último passe que falha, ou o remate que sai defeituoso e a bola, altiva e caprichosa, rainha máxima deste jogo capaz de nos transmitir as maiores alegrias, e as maiores tristezas, não chega a entrar. Apito para o intervalo.

Enquanto descia as escadas do sector 427, mais um reencontro com uma cara conhecida, desta feita o Pedro Ferreira, da Tertúlia Benfiquista. A opinião era comum: estávamos a ser superiores em todas as frentes, os adeptos nas bancadas, os jogadores no terreno de jogo. Um exibição avassaladora, a deixar o ainda campeão europeu em título à beira de um ataque de nervos. Só a estupenda defesa de Artur a um remate do incontornável Lampard (uma espécie de Rui Costa deles) nos fez tremer um bocadinho. Despedimo-nos com um abraço e com a ilusão de que podíamos, e merecíamos, ser felizes.

A segunda parte dava para escrever um livro. Ainda hoje não consigo expressar por palavras o que vivi, e senti, durante aqueles 45+ 3 minutos fatídicos. Julgo que daqui por 10, ou 20 anos, me hei-de lembrar do golo anulado ao Cardozo, do remate (quem mais?) de Lampard à barra, do golo de Fernando Torres, da forma selvática como festejei o penalty marcado pelo nosso 7, do golo quase em slow motion de Ivanovic e do desespero daquele lance final. Tudo isto no meio de milhares e milhares de benfiquistas unidos à espera da felicidade que não quis aparecer.




15 de Maio de 2013: o fim da viagem

Agora, sei o que sentiram os adeptos do Milan quando deixaram fugir o troféu para o Liverpool, depois de estarem a vencer por 3-0 ao intervalo. Agora, sei o que sentiram os adeptos do Bayern de Munique quando deixaram fugir a taça para o Manchester, depois de estarem a ganhar 1-0 até quase ao fim da partida. Agora, após vivenciar aquela tragédia em forma de jogo de futebol, reconheço o sentimento. A cabeça andava à roda. O coração batia incessantemente. Naqueles instantes, recordei-me de outras finais perdidas, como um flash de amargura e tristeza. Lembrei-me de outros amigos ali presentes, e de tantos outros que não tiveram oportunidade de estar no Arena, e pensei no que estariam a sentir naquele preciso momento. Olhei em volta e vi Benfica. E, mesmo no infortúnio daqueles minutos finais, senti que todos, dirigentes, técnicos, jogadores e adeptos, estávamos mais unidos do que nunca. Como se milhares de personalidades, experiências e identidades convergissem numa só. Viveu-se a mística encarnada. Quem lá esteve, sabe bem do que falo. Foi isso que me deu força e discernimento para confortar quem estava próximo. Porque senti esse espírito intangível que explodiu da energia de toda aquela gente que ama o mesmo clube que eu. Uma espécie de energia cósmica que me sossegou a alma. No fim, orgulho. Repito: orgulho em defender este emblema. O meu benfiquismo saíu reforçado.


Para terminar, uma analogia que serve de conclusão. Se pensarmos o clube, a equipa, como um edifício, diria que o Benfica atingiu um patamar (andar) bastante alto, embora ainda não tenha chegado ao topo (telhado). Estamos, talvez, a três ou quatro lances de escada do céu.

Isto porque, e há que tentar ser justo e verdadeiro com a realidade, faltam alguns detalhes que precisam de ser limados: acertar o posicionamento institucional no panorama nacional (relacionamento com os orgãos que regem o nosso futebol e com os dirigentes, treinadores e jogadores de outros clubes); promover uma comunicação interna e externa mais assertiva e complementar à ideal global para o futebol; planear com mais pormenor a construção do plantel na pré-época desportiva, de forma a colmatar posições carenciadas e dotar o grupo de maior homegeneidade qualitativa; e, por fim, para além de um modelo de jogo assente num futebol explosivo e esteticamente aliciante, treinar e implementar alternativas estratégicas de maior controlo táctico/emocional que tornem o colectivo mais preparado para enfrentar os mais variados desafios.

Porém, e usando também de um sentido de justiça, há que afirmar peremptoriamente que ainda há não muito tempo o Benfica vivia pouco acima do rés-do-chão. Alguns anos atrás, olhava-se para a conjuntura do momento e havia a perfeita noção que muitos lances de escada tinham de ser percorridos. Ao contrário de outras agremiações desportivas vizinhas que, praticamente, vivem numa cave baforenta, sem a luz do sol que os ilumine, nós podemos dizer que ultrapássamos muitos obstáculos, subimos muitos andares e estamos numa posição em que competimos com os melhores. Há que aproveitar este capital futebolístico, que foi sendo lentamente conquistado, e não pretender alterar as fundações (mudar de treinador; modificar substancialmente o plantel) que demoraram anos a ser construídas. Cada vez mais, aproximamo-nos do telhado. Não provoquemos, agora, uma queda acentuada de vários lances de escada. Um dia, tocaremos o céu.

Este, foi o meu testemunho. Viva o Benfica! Viva o BENFICA! VIVA O BENFICA!

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Homem da Táctica

Sozinho na noite
um clube ruma para onde vai.
Uma luz no escuro brilha a direito
ofusca as demais.

E mais que uma bola, mais que um pontapé...
Tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a tempestade,
vai quem já nada teme, vai o homem da táctica...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o estádio e partir,
a liga é sempre a perder...

No fundo do mar
jazem os outros, os que lá ficaram.
Em dias cinzentos
descanso eterno lá encontraram.

E mais que uma bola, mais que um pontapé...
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a tempestade,
vai quem já nada teme, vai o homem da táctica...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o estádio e partir,
a liga é sempre a perder...

No calendário horizonte
sopra o murmúrio para onde vai.
No calendário do tempo
foge o título, é tarde demais...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o estádio e partir,
a liga é sempre a perder...

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Anda Comigo Ver Os Campeões

Anda comigo ver os campeões
Levantar voo,
A rasgar os flancos,
Rasgar o céu.

Anda comigo ao estádio do Leixões
Ver os jogadores
A levantar ferro,
Rasgar o mar.

Um dia eu ganho a liga,
Ou faço uma magia,
Mas que eu morra aqui.
Vieira tu sabes o quanto eu te amo,
O quanto eu gosto de ti.
E que eu morra aqui
Se um dia que não te levo a Champions
Nem que eu leve a Uefa até ti.

Anda comigo ver os automóveis,
A Alverca,
A rasgar as curvas,
Queimar pneus.

Um dia vamos ver os laterais levantar voo,
A rasgar os flancos,
Rasgar o céu.

Um dia eu ganho o totobola,
Ou pego na pistola,
Mas que eu morra aqui.
Vieira tu sabes o quanto eu te amo,
O quanto eu gosto de ti.
E que eu morra aqui
Se um dia eu não te levo ao Jamor
Nem que eu roube a Federação só p'ra ti.

Um dia eu ganho o totobola,
Ou pego na pistola,
Mas que eu morra aqui.
Vieira tu sabes o quanto eu te amo,
O quanto eu gosto de ti.
E que eu morra aqui
Se um dia que não te levo a Champions
Nem que eu leve a Uefa até ti.

domingo, 20 de maio de 2012

A escolha de um caminho desportivo

Poucas horas passadas após o Chelsea conquistar a (sua primeira) prova máxima de clubes, dei por mim a pensar que há muitas maneiras de vencer. Não me refiro a arbitragens escabrosas, antes porém a distintas filosofias desportivas que vão muito para além da escolha do treinador e do plantel. Não deixa de ser curioso que, de um ano para o outro, de Barcelona a Londres, exista um tão curto espaço de tempo entre dois caminhos desportivos. Como se viu, ambos com sucesso.

Se pensarmos, apenas, nos semi-finalistas deste ano, conseguimos vislumbrar, para lá das naturais particularidades tácticas, características estruturais que conferem um ADN diferente a cada emblema. Senão vejamos. O Real Madrid adopta uma estratégia 'galáctica', ou seja, aposta milionária em craques de cariz ofensivo, de forma a potenciar o merchandising e garantir espectáculo aos adeptos. Por sua vez, o arqui-rival Barcelona, sem deixar de cirurgicamente contratar talento, exprime uma ideia de clube baseada na 'cantera' e num modelo de jogo admirado em todo o mundo. Em traços sucintos, o conceito é este. Depois, o Bayern de Munique mostra insistir numa fórmula, diria, quase pré-Bosman, com um onze marcadamente nacional, onde as grandes figuras (Lahm, Schweinsteiger, ou os mais novos Neuer, Kroos, Müller, entre outros) funcionam como um forte elo de ligação com os adeptos. Numa sociedade marcada pela globalização, resulta quase estranho ver que do onze titular, oito eram alemães. A memória da história, transportada para o tempo presente. Por fim, chegamos ao vencedor deste ano: o Chelsea. À primeira vista, talvez mais parecido, na sua génese 'milionária', com o Real Madrid. Contudo, enquanto a equipa espanhola tem um prestígio centenário, e uma ideologia algo tradicionalista em questões de discurso e imagem, a equipa inglesa é o expoente máximo do futebol moderno. A entrada de capital estrangeiro, personificada no mediático Abramovich, traduziu-se em investimento de milhões. Já agora, sabiam que o presidente do clube chama-se Bruce Buck? O Chelsea representa uma espécie de 'football manager' real, com os milhões a comandarem o sonho de transformar um clube, igual a tantos outros, numa equipa preparada para as maiores conquistas. Por fim, esta época, conseguiram retirar dividendos desportivos dessa aposta.

Bem, mas para quê esta conversa toda? Porque, por vezes, é interessante pensar que o futebol é mais do que técnicos e jogadores, quando existe uma estrutura directiva que arquitecta um planeamento, uma estratégia, um caminho para, no fundo, ser o melhor em competição. E, claro, para chegar ao Benfica. Tenho andado a ler muito a blogosfera e, confesso, as conversas andam um bocado para o aborrecido. Demasiado centradas no indivíduo: jogador "X", treinador "Y", presidente e/ou (suposto) candidato "Z". Durante o dia, leio muitos argumentos, na sua maioria bem escritos, não ponho em causa, embora também excessivos na linguagem entre os anti e os pró-Vieira. Um confronto entre benfiquistas "keyboard warriors", em que a forma se superioriza à substância. Obviamente, a liderança pode, e deve, ser questionada, mas o que gostava de ver debatido eram ideias. Ideias de um caminho desportivo, baseado numa estratégia que esteja acima dos meandros tácticos do treinador. Um verdadeiro rumo para o clube, capaz de conciliar a saúde financeira com o sucesso nos relvados. Face aos exemplos que dei anteriormente, e sabendo de antemão que o Benfica apresenta um traço genético inimitável, com que ideologia futebolística mais se identificam? Qual a que mais admiram? Gostariam, por exemplo, de repetir a fórmula do Bayern, contando com vários portugueses no onze titular, alguns com vários anos de águia ao peito? Ou, pelo contrário, preferiam uma filosofia com uma aposta baseada na 'cantera', transportada para um modelo de jogo tipo Barcelona? Seria possível "copiar" (com tudo o que a palavra implica) os aspectos positivos, sem desvirtuar a cultura existente? Viam com bons olhos a entrada de um magnata, capaz de dotar o plantel de mais-valias qualitativas inquestionáveis? Eu diria, e o leitor deve estar a pensar o mesmo, que o Benfica tem de pensar e percorrer o seu próprio caminho. Evitando que termine num precípicio. Num ciclo sem retorno. Que estratégia institucional? Que política de activos? Que caminho desportivo? Futuro, precisa-se.

domingo, 6 de maio de 2012

Obrigado NN



Obrigado pelo apoio ao longo de uma época com maiores tristezas que alegrias. Obrigado por estarem sempre presentes em todos os estádios do país: quer faça chuva, quer faça sol. Sem querer nada em troca. Apenas pelo Amor ao Benfica. Obrigado por cantarem, gritarem e defenderem o nome do clube acima de tudo. Obrigado por pensarem Benfica 24 horas por dia. Obrigado por viverem Benfica 7 dias por semana. Por terem no coração a glória de um passado. Por partilharem na voz a força de uma esperança. Obrigado pela exigência, pela perfeita consciência que um emblema desta dimensão merece mais e melhor. Obrigado pela fidelidade e paixão a um símbolo com uma história grandiosa, que mostram conhecer e saber respeitar. Obrigado pelos quilómetros percorridos e noites mal dormidas. Na adrenalina da vitória. Na frustração da derrota. Obrigado pela bandeira do Cosme. Pelo reconhecimento de quem merece. Pela gratidão aos jogadores, mas sempre tendo a consciência de que a instituição representa um bem maior. Obrigado por estarem do lado certo. O lado da mudança. Uma mudança de regresso às origens, com valores assentes numa mística de conquistas que não se explica, mas que se sente. Conquistas feitas de sangue, suor e lágrimas. Com determinação. Com humildade. Com grandeza nas vitórias. Com orgulho nas derrotas. À Benfica. Sem vergonha. Obrigado pelo apoio, pela crença, pela convicção num ideal pintado de vermelho e branco. Obrigado por tudo. Nota final: o meu Red Pass está no piso 3 da bancada Sagres; o meu Benfica encontra-se no piso 0, junto de todos vocês.

segunda-feira, 30 de abril de 2012