Como falar do que aconteceu? Como
traduzir por palavras a agrura de um desfecho assim? Vamos começar do princípio
e recuar ao dia 15 de Maio de 2013. O ano passado, na final da Liga Europa
2012/13 (aventura Amesterdão aqui retratada), tinha dito a pessoas mais
próximas que a presença no Arena seria a oportunidade de uma vida. Tão cedo não
esperava que o Benfica voltasse a uma final. Estava profundamente enganado. E,
uma vez mais, perante a possibilidade de ver o clube do meu coração conquistar
um troféu europeu, sabia que tinha de abraçar uma nova aventura, desta feita em
terras italianas. O texto será dividido por diversos capítulos, suportado por
algumas fotos que dão colorido a esta viagem. Espero que gostem!
Os preparativos
Não esperava que a equipa fosse capaz de resistir ao assédio na Juventus, aquando da 2.ª mão das meias-finais. Mas, a verdade é que os jogadores foram valentes e o Benfica preparava-se para a sua 2.ª final europeia consecutiva. Tal como no ano anterior, por um conjunto variado de razões, optei por viajar de charter de ida e volta (Benfica Viagens) no dia da partida. Munido do ingresso mágico (obrigado aos amigos que ajudaram a tornar esta aventura realidade), restou organizar alguma logística e aguardar, impacientemente, pelo grande dia.
14 de Maio de 2014: a partida de Lisboa
O voo estava marcado para as 08h30, com o requisito de estar no aeroporto por volta das 05h30. Nessa manhã, acordei às 04h00, após uma curta noite de sono, mas com a motivação em alta de que a maldição iria ser quebrada. Ao pequeno-almoço, tempo para olhar para o mapa de Turim e delinear um percurso: almoço, visita à Granata Store e passagem pelas principais praças e ruas da cidade.
Não esperava que a equipa fosse capaz de resistir ao assédio na Juventus, aquando da 2.ª mão das meias-finais. Mas, a verdade é que os jogadores foram valentes e o Benfica preparava-se para a sua 2.ª final europeia consecutiva. Tal como no ano anterior, por um conjunto variado de razões, optei por viajar de charter de ida e volta (Benfica Viagens) no dia da partida. Munido do ingresso mágico (obrigado aos amigos que ajudaram a tornar esta aventura realidade), restou organizar alguma logística e aguardar, impacientemente, pelo grande dia.
14 de Maio de 2014: a partida de Lisboa
O voo estava marcado para as 08h30, com o requisito de estar no aeroporto por volta das 05h30. Nessa manhã, acordei às 04h00, após uma curta noite de sono, mas com a motivação em alta de que a maldição iria ser quebrada. Ao pequeno-almoço, tempo para olhar para o mapa de Turim e delinear um percurso: almoço, visita à Granata Store e passagem pelas principais praças e ruas da cidade.
14 de Maio de 2014: a chegada a Turim
Havia, no entanto, um problema: à chegada (prevista para as 12h00), o transfere iria-me deixar, e às pessoas que foram comigo, no Juventus Stadium. Por isso, teríamos de encontrar uma alternativa rápida que nos deixasse no centro. Felizmente, e por um custo de apenas 20 euros, foi possível partilhar um táxi de 7 pessoas e, em poucos minutos, o grupo estava perto da Piazza Castello. Assim, o plano estipulado de irmos almoçar para depois percorrer algumas das zonas mais centrais e turísticas da cidade foi mantido. Pouco passava das 13h00 quando nos sentámos numa esplanada da bonita Piazza Carignano, já ansiosos de saborear as iguarias da gastronomia italiana: penne, raviolis, vinho branco, grappa e esta foccacia que a foto documenta.
14 de Maio de 2014: em Turim
A primeira impressão foi positiva. Já conhecia Roma e Florença e sou um admirador de tudo o que é italiano: comida, vinhos, queijos, gelados, história, língua, futebol. Porém, Turim é uma cidade do norte do país, com as suas particularidades especiais. Porventura mais cosmopolita, mas igualmente bela na arquitectura dos seus icónicos edifícios. Ao fundo, os Alpes transmitem uma magia especial. Em termos gerais, não posso dizer que tenha ficado entusiasticamente apaixonado pela cidade. Ainda assim, as expectativas que tinha foram cumpridas e, noutras coisas que falarei adiante, até superadas.
Após o almoço, havia que apressar o passo. Duas paragens teriam de ser feitas. A primeira seria numa das muitas gelatarias que existem em redor da Piazza Castello. Posso afirmar, sem qualquer dúvida, que o pistacchio (verde di Bronte) foi o melhor que provei na vida. A segunda seria na famosa Granata Store: a loja oficial com merchandising do Torino FC. Tinha muita curiosidade em ver de perto o material desportivo do emblema italiano e acabou por ser o local escolhido para algumas compras de recordação, como por exemplo o DVD do testemunho histórico do Benfica 4-3 Torino de 3 de Maio de 1949. A fotografia da praxe, já com a cap visiera 2014 a completar o figurino.
Após estas duas paragens, tempo para um breve passeio a pé pela cidade. Fomos
pela Via Roma, no intuito de pisar a Piazza San Carlo. Regressámos para a
Piazza Castello, por entre ruelas mais estreitas, até apanharmos a Via Po.
Sempre em direcção ao rio, novas bifurcações foram conquistadas. Pausa para uma
cerveja, já perto do museu do cinema, e com a imponente Mole Antonelliana no
horizonte. Dali foi um pulinho até à Piazza Vittorio Veneto, onde se
concentravam muitos adeptos encarnados. Como sabíamos que o meeting point era
no Parco del Valentino, onde gratuitamente seriam colocados à disposição
autocarros para o estádio, com partida até às 17h30, acelerámos o passo junto
ao magnífico Fiume Po.
14 de Maio de 2014: a chegada ao Juventus Stadium
Afortunadamente, conseguimos chegar a horas de entrar num dos quatro autocarros que nos iriam levar para o palco da final. Foi a partir deste momento que vivenciei os episódios mais marcantes desta viagem. Vou tentar traduzir por palavras.
Em primeiro lugar, o autocarro. Imaginem quando o Benfica é campeão nacional e vão no metro a caminho do Marquês. Tudo a cantar. Tudo aos saltos. É linda aquela comunhão, não é? Foi mais ou menos parecido. Só que ali, com a polícia a furar o trânsito (demorámos cerca de 15 minutos a chegar ao estádio), o bónus foi ver carros de italianos (adeptos do Torino, pois claro) a apitar, com braços de fora da janela. Senti um bocadinho da efervescência que os jogadores da selecção portuguesa viveram aquando do Euro 2004. E cada vez gritávamos mais alto. E cada vez pulávamos mais rápido. Foi maravilhoso sentir aquele apoio. Este vídeo é uma amostra do que estou a falar. Em segundo lugar, já nas imediações do Juventus Stadium, estou a beber uma cerveja junto a uma das roulottes, não muito longe do ponto C, quando dois fulanos chegam-se ao pé de mim. Um deles aponta para o meu boné do Torino FC e diz algo em italiano que não percebi de imediato. Demorei um segundo a entender o contexto. O rapaz aponta para o meu cachecol da Liga Europa (oferta da Benfica Viagens), com o emblema do Benfica a tapar o do Sevilha. De forma educada, neguei-lhe o pedido. Ele não desarma, quase a suplicar. De seguida, enquanto olhava por cima do ombro, despe parte do casaco e mostra-me uma incrível tatuagem que tinha no braço: o desenho de um lindo touro, acompanhado de mais adereços respeitantes ao clube amigo de Turim. Viro-me para a minha mulher e, sem hesitar, digo: “tira o meu cachecol da mala (o que esteve sempre presente ao longo da época 2013/14) que vou-lhe oferecer”. Eu passo-lhe o adereço para as mãos, o tipo dá-me um abraço e, num ápice, sai dali disparado a correr que nem uma criança, enquanto o cachecol se agitava ao vento. Antes da partida propriamente dita, e da entrada (sem problemas, diga-se), dizer que ainda houve oportunidade de encontrar amigos de Portugal, alguns por mero acaso, sem nada previamente combinado. Foi óptimo estar ali à conversa, com caras conhecidas. Um abraço para todos aqueles com quem me cruzei.
E o que dizer do estádio? Não muito bonito da parte de fora, sou sincero. Parece uma sanduíche. Mas, lá dentro, já instalado no sector 118, fila 17, a impressão melhorou substancialmente. O Juventus Stadium tem pinta, a acústica é fabulosa e as bancadas parece que estão em cima do relvado. Nota muito positiva.
Afortunadamente, conseguimos chegar a horas de entrar num dos quatro autocarros que nos iriam levar para o palco da final. Foi a partir deste momento que vivenciei os episódios mais marcantes desta viagem. Vou tentar traduzir por palavras.
Em primeiro lugar, o autocarro. Imaginem quando o Benfica é campeão nacional e vão no metro a caminho do Marquês. Tudo a cantar. Tudo aos saltos. É linda aquela comunhão, não é? Foi mais ou menos parecido. Só que ali, com a polícia a furar o trânsito (demorámos cerca de 15 minutos a chegar ao estádio), o bónus foi ver carros de italianos (adeptos do Torino, pois claro) a apitar, com braços de fora da janela. Senti um bocadinho da efervescência que os jogadores da selecção portuguesa viveram aquando do Euro 2004. E cada vez gritávamos mais alto. E cada vez pulávamos mais rápido. Foi maravilhoso sentir aquele apoio. Este vídeo é uma amostra do que estou a falar. Em segundo lugar, já nas imediações do Juventus Stadium, estou a beber uma cerveja junto a uma das roulottes, não muito longe do ponto C, quando dois fulanos chegam-se ao pé de mim. Um deles aponta para o meu boné do Torino FC e diz algo em italiano que não percebi de imediato. Demorei um segundo a entender o contexto. O rapaz aponta para o meu cachecol da Liga Europa (oferta da Benfica Viagens), com o emblema do Benfica a tapar o do Sevilha. De forma educada, neguei-lhe o pedido. Ele não desarma, quase a suplicar. De seguida, enquanto olhava por cima do ombro, despe parte do casaco e mostra-me uma incrível tatuagem que tinha no braço: o desenho de um lindo touro, acompanhado de mais adereços respeitantes ao clube amigo de Turim. Viro-me para a minha mulher e, sem hesitar, digo: “tira o meu cachecol da mala (o que esteve sempre presente ao longo da época 2013/14) que vou-lhe oferecer”. Eu passo-lhe o adereço para as mãos, o tipo dá-me um abraço e, num ápice, sai dali disparado a correr que nem uma criança, enquanto o cachecol se agitava ao vento. Antes da partida propriamente dita, e da entrada (sem problemas, diga-se), dizer que ainda houve oportunidade de encontrar amigos de Portugal, alguns por mero acaso, sem nada previamente combinado. Foi óptimo estar ali à conversa, com caras conhecidas. Um abraço para todos aqueles com quem me cruzei.
E o que dizer do estádio? Não muito bonito da parte de fora, sou sincero. Parece uma sanduíche. Mas, lá dentro, já instalado no sector 118, fila 17, a impressão melhorou substancialmente. O Juventus Stadium tem pinta, a acústica é fabulosa e as bancadas parece que estão em cima do relvado. Nota muito positiva.
14 de Maio de 2014: o jogo
Como é que vou escrever sobre o jogo? Não me apetece falar sobre maldições antigas. Não quero debater lances de arbitragem. Confesso: estava muito esperançoso que, após 52 anos de espera, finalmente o Benfica iria voltar à glória europeia. Mesmo sem a possibilidade de contar com Enzo, Salvio e Markovic. Apesar da lesão de Sulejmani. Não vou comentar a solução encontrada de colocar Maxi Pereira com André Almeida do lado direito, ao invés da entrada de Cavaleiro. Para mim, até fez sentido. Sim, interiormente, acreditava que iria presenciar a conquista de um troféu europeu. Mas, à medida que o tempo foi passando, os nervos foram-se acumulando. Quando o prolongamento chegou, dirigi-me sozinho à casa de banho. Envolto nos meus pensamentos. Fiquei por ali, alguns minutos, a olhar para o estádio, a ouvir as vozes que sopravam perto, completamente anestesiado no que o coração me dizia. Será que ainda era possível? Já na bancada, quando aquela onda vermelha puxava pela equipa, erguia a cabeça para o céu, fechava os olhos, e cantava com toda a força que podia. Só quando Cardozo falhou o penalty é que esmoreci. Foi nesse preciso momento que senti a derrota. Ainda hoje me dói. Quando vi o último remate do jogador do Sevilha, lembrei-me da final contra o PSV. Tinha 13 anos. E as lágrimas caíram. Ao contrário de Amesterdão, esta foi difícil de digerir e as emoções foram mais fortes. Senti-me injustiçado. Impotente. Foi uma tristeza porque não sei quando poderá ser a próxima final. Não sei se, em vida, conseguirei ver o meu clube ganhar uma competição europeia. No plano nacional levamos vantagem em relação aos concorrentes directos. Já vi o Benfica vencer campeonatos, taças de Portugal. Este troféu era mesmo muito importante, para mim e de certeza para milhares que sofreram como eu. Pensei nisto tudo quando saí do estádio. E as lágrimas foram mais fortes.
Como é que vou escrever sobre o jogo? Não me apetece falar sobre maldições antigas. Não quero debater lances de arbitragem. Confesso: estava muito esperançoso que, após 52 anos de espera, finalmente o Benfica iria voltar à glória europeia. Mesmo sem a possibilidade de contar com Enzo, Salvio e Markovic. Apesar da lesão de Sulejmani. Não vou comentar a solução encontrada de colocar Maxi Pereira com André Almeida do lado direito, ao invés da entrada de Cavaleiro. Para mim, até fez sentido. Sim, interiormente, acreditava que iria presenciar a conquista de um troféu europeu. Mas, à medida que o tempo foi passando, os nervos foram-se acumulando. Quando o prolongamento chegou, dirigi-me sozinho à casa de banho. Envolto nos meus pensamentos. Fiquei por ali, alguns minutos, a olhar para o estádio, a ouvir as vozes que sopravam perto, completamente anestesiado no que o coração me dizia. Será que ainda era possível? Já na bancada, quando aquela onda vermelha puxava pela equipa, erguia a cabeça para o céu, fechava os olhos, e cantava com toda a força que podia. Só quando Cardozo falhou o penalty é que esmoreci. Foi nesse preciso momento que senti a derrota. Ainda hoje me dói. Quando vi o último remate do jogador do Sevilha, lembrei-me da final contra o PSV. Tinha 13 anos. E as lágrimas caíram. Ao contrário de Amesterdão, esta foi difícil de digerir e as emoções foram mais fortes. Senti-me injustiçado. Impotente. Foi uma tristeza porque não sei quando poderá ser a próxima final. Não sei se, em vida, conseguirei ver o meu clube ganhar uma competição europeia. No plano nacional levamos vantagem em relação aos concorrentes directos. Já vi o Benfica vencer campeonatos, taças de Portugal. Este troféu era mesmo muito importante, para mim e de certeza para milhares que sofreram como eu. Pensei nisto tudo quando saí do estádio. E as lágrimas foram mais fortes.
14 de Maio de 2014: o fim da viagem
O que fica desta aventura? A recordação de um dia único. De mais de 24h seguidas acordado à procura de um sonho que virou pesadelo. O futebol pode ser tão ingrato. Cheguei a casa às 6h00 da manhã de quinta-feira. De coração destroçado. Foi duro. Continua a ser duro. Mas olhando para tudo o que vivi, houve tantos momentos positivos, que não me arrependo um segundo de ter embarcado nesta aventura. Da cumplicidade com tantos benfiquistas, unidos a uma só voz. Da minha mulher e amigos, com quem partilhei esta história de amor por um clube, que muitos compreendem, e outros tantos estranham. Não se explica. Sente-se. E, agora, recordando o passado tão recente, sorrio ao ver as fotos na Granata Store, fico emocionado com as memórias daquela caravana em direcção ao estádio, comovo-me com o rapaz do Torino que levou ao meu cachecol, orgulho-me do aceno de amizade daquele tipo da Groundforce, a apontar para o meu boné, quando nos preparávamos para o voo de regresso. O meu, o nosso, clube é tão grande. Impossível não ficar arrepiado com as manifestações de carinho dos adeptos do Torino. Uma cidade que admira e respeita o meu emblema. É uma alegria ter a oportunidade de ver as nossas cores no estrangeiro. Um privilégio quando se trata de uma final europeia. Obrigado, Benfica!
O que fica desta aventura? A recordação de um dia único. De mais de 24h seguidas acordado à procura de um sonho que virou pesadelo. O futebol pode ser tão ingrato. Cheguei a casa às 6h00 da manhã de quinta-feira. De coração destroçado. Foi duro. Continua a ser duro. Mas olhando para tudo o que vivi, houve tantos momentos positivos, que não me arrependo um segundo de ter embarcado nesta aventura. Da cumplicidade com tantos benfiquistas, unidos a uma só voz. Da minha mulher e amigos, com quem partilhei esta história de amor por um clube, que muitos compreendem, e outros tantos estranham. Não se explica. Sente-se. E, agora, recordando o passado tão recente, sorrio ao ver as fotos na Granata Store, fico emocionado com as memórias daquela caravana em direcção ao estádio, comovo-me com o rapaz do Torino que levou ao meu cachecol, orgulho-me do aceno de amizade daquele tipo da Groundforce, a apontar para o meu boné, quando nos preparávamos para o voo de regresso. O meu, o nosso, clube é tão grande. Impossível não ficar arrepiado com as manifestações de carinho dos adeptos do Torino. Uma cidade que admira e respeita o meu emblema. É uma alegria ter a oportunidade de ver as nossas cores no estrangeiro. Um privilégio quando se trata de uma final europeia. Obrigado, Benfica!