Após a primeira semana de trabalho no Seixal, mantém-se a expectativa em relação a novos reforços e aumenta a incerteza quanto a possíveis dispensados. Alguns exemplos: a "novela" Aimar tarda em chegar ao último capítulo; Codina encontra-se em stand-bye; Fábio Coentrão é emprestado ao Feyenoord, com a opção de compra avaliada em 5 milhões de euros; e, o Mónaco sonda a possibilidade de contar com Freddy Adu. Para além destes casos, o uruguaio Urretavizcaya e o argelino Hadj Aïssa tentam evidenciar-se e diversos jovens, vindos da formação, procuram conquistar o seu espaço. Por fim, acrescente-se o facto de só mais tarde os internacionais juntarem-se ao grupo. Neste momento, apenas uma certeza: Quique Flores pretende um plantel constituído por 25 jogadores. O resto é um mero exercício de especulação.
Quique Flores: 4x2x3x1 ou 4x4x2?
Se quanto às caras, que vão compor a fotografia, as dúvidas persistem, quanto ao sistema táctico já se vislumbram algumas novidades. O treinador espanhol tem procurado treinar o 4-4-2 com a utilização de médios-ala. Espera-se, portanto, que o desenho se aproxime do modelo clássico, existindo a alternativa de um 4x2x3x1 mais defensivo e conservador. Em termos de princípios de jogo, também é visível que Quique Flores pretende utilizar a defesa em linha, explorando a técnica do fora-de-jogo. A pergunta que se coloca é: será este o esquema principal? Haverá espaço para o 4x3x3 ou para o 4x4x2 losango?
A experiência em Valência
Para responder a estas questões, nada como recuar até à época 2005/06. Vindo do Getafe, o actual treinador do Benfica chega a Valência com a missão de substituir Claudio Ranieri. Apesar das naturais diferenças quanto à realidade específica que rodeia ambos os clubes, resulta interessante conhecer qual a abordagem inicial protagonizada por Quique Flores. Mesmo que as circunstâncias sejam distintas e a história não se repita, uma coisa é certa: as ideias e convicções do homem forte encarnado não devem ser muito díspares. Vamos, então, analisar os seus primeiros passos, como forma de extrapolar o seu pensamento táctico para o futuro benfiquista.
Revolução - parte II?
Em primeiro lugar, o início de temporada foi marcado por uma autêntica revolução: cerca de duas dezenas de saídas e perto de quinze entradas. Só para citar alguns exemplos, saliente-se os empréstimos de Caneira, ao Sporting, e David Silva, ao Celta de Vigo, assim como as contratações de David Villa (Zaragoza), Patrick Kluivert (Newcastle) e Raúl Albiol (Getafe). Tal corropio de jogadores não impediu a implementação de um modelo de jogo consistente, baseado num grupo sólido. A prova disso mesmo é que o Valência alcançou o 3.º lugar na liga espanhola, atrás de Barcelona (campeão) e a um ponto do Real Madrid. Pelas indicações dos últimos dias, o futebol do Benfica será marcado, concerteza, sob o signo de uma revolução, mais ou menos, acentuada.
Valência 1-0 Real Bétis
27 de Agosto de 2005. Primeira jornada da liga espanhola. O Valência recebe o Real Bétis no Mestalla e vence pela margem mínima. Golo marcado por...Pablo Aimar, aos 53’ minutos. O primeiro onze titular segue os preceitos do 4x2x3x1: Cañizares (GR), R. Albiol (DD), Ayala (DC), Moretti (DC), F. Aurélio (DE), Albelda (MC), Baraja (MC), Rufete (MD/MOD), Vicente (ME/MOE), P. Aimar (MO) e Mista (PL). Curiosamente, vale a pena analisar as substituições realizadas por Quique Flores: (i) aos 62’ minutos (pouco depois do golo que garantiu a vitória), Mista dá o lugar a Patrick Kluivert; (ii) aos 81’ minutos, Marchena substitui Rufete; e (iii) aos 87’ minutos, P. Aimar troca com D. Villa. Conclusões? Talvez por ter sido o jogo inaugural, houve o cuidado de refrescar o ataque, num primeiro momento, e preencher a zona defensiva com a entrada de Marchena, aquando da segunda substituição.
Zaragoza 2-2 Valência
11 de Setembro de 2005. Segunda jornada da liga espanhola. O Valência desloca-se ao terreno do Zaragoza e empata a duas bolas. Golos marcados por Angulo e D. Villa. Primeira alteração a merecer destaque: Quique Flores passa do 4x2x3x1 para o 4x4x2 clássico. Onze titular da altura: Cañizares (GR), R. Albiol (DD), Ayala (DC), Moretti (DC), F. Aurélio (DE), Albelda (MC), Baraja (MC), Rufete (MD), Angulo (ME), Di Vaio (PL) e Mista (PL). Na segunda parte, a perder por 2-1, o treinador espanhol regressa ao 4x2x3x1: Vicente, mais incisivo, substitui Angulo e P. Aimar, entre linhas, troca com Di Vaio. Na frente, Mista coloca-se em cunha entre os centrais contrários. Aos 80’ minutos, nova jogada de risco: sai Baraja (MC) e entra D. Villa (PL). O Valência desenha um losango a toda a largura do relvado e o golo do empate surge um minuto depois, por intermédio de...D. Villa.
Barcelona 2-2 Valência
Depois de na 3.ª jornada registar-se novo empate a duas bolas, na recepção frente ao Deportivo, a 21 de Setembro dá-se o primeiro grande teste: visita a Camp Nou, para defrontar o Barcelona. Mais uma vez, 2-2 foi o resultado final. Quique Flores explanou a equipa titular em 4x2x3x1: Cañizares (GR), Caneira (DD), Ayala (DC), Marchena (DC), Moretti (DE), Albelda (MC), F. aurélio (MC), Rufete (MD/MAD), Vicente (ME/MAE), P. Aimar (MO) e D. Villa (PL). Aos 54’ minutos, o Valência vencia por 2-1, com golos da nova coqueluche: o espanhol D. Villa. Ao contrário do que se faria supor, o novo treinado encarnado não defendeu a margem mínima, pois Hugo Viana entrou para o lugar de F. Aurélio (na zona do meio-campo) e P. Aimar deu a sua vez ao ponta-de-lança Mista. Já agora, o golo do empate foi obtido por Deco aos 80’ minutos.
[Valência] Sistema(s) táctico(s): resumo
Ao longo de toda a prova caseira, o 4x2x3x1 foi o esquema mais utilizado, alternando, ocasionalmente, com o 4x4x2 clássico. Da análise efectuada, sublinhe-se ainda duas particularidades que ajudam a conhecer o pensamento táctico/estratégico de Quique Flores: (i) quando em desvantagem no marcador, a aposta recaía na saída de um médio centro (MC), pela respectiva entrada de um ponta-de-lança (PL), desenhando-se assim um 4x4x2 losango com alas e suportado por um único pivot defensivo; e (ii) quando em vantagem, era comum observar-se a entrada de mais um defesa central (DC), como forma de proteger a zona mais recuada, transformando o esquema táctico em algo parecido com o 5x4x1, assente num bloco médio-baixo.
[SL Benfica] Sistema(s) táctico(s): suposições
Depois deste breve exercício, estamos em melhores condições para prever a forma como Quique Flores irá moldar o novo Benfica. À partida, até pelas características dos jogadores, é passível que o 4x2x3x1 seja o sistema táctico mais natural. A grande dúvida reside no posicionamento e interligação entre os homens do meio-campo. Por exemplo, não existem certezas quanto à coexistência de médios-ala (extremos) como Di María e Javier Balboa, porque Sepsi ou Jorge Ribeiro, na esquerda, podem actuar com funções mais defensivas e Maxi Pereira pode desempenhar o mesmo papel do lado contrário.
Também não é a mesma coisa jogar com duplo pivot defensivo, ou com um médio centro mais recuado (Petit?) e outro mais de transição (Carlos Martins?). Neste caso, vamos dar nomes às palavras. Cenário 1: imaginem um meio-campo com Petit e Katsouranis (ou Fellipe Bastos) e Pablo Aimar na posição de n.º 10. Estaríamos perante um triângulo suportado por dois n.º 6, de características vincadas na marcação e recuperação. Cenário 2: imaginem, agora, um meio-campo composto por Petit (ou outro) e Ruben Amorim (ou Hassan Yebda), com Pablo Aimar (ou Carlos Martins e Freddy Adu) uns metros à frente. O triângulo ganha inclinação com a entrada de um n.º8, jogador mais participativo nas transições.
A hipótese do 4x4x2 losango
Mesmo sabendo que o Benfica dispõe de alguns atletas que podem desequilibrar junto às faixas, a vinda (ou não) de Pablo Aimar quase que exigia um 4x4x2 losango. Até pelas diversas alternativas disponíveis no plantel, que se pretende homogéneo. Para finalizar, atente-se nas diversas variantes possíveis: vértice recuado, Petit (Fellipe Bastos/Ruben Amorim); vértice direito, Katsouranis (Rubem Amorim/Hassan Yebda); vértice esquerdo, Carlos Martins (Jorge Ribeiro); e, vértice ofensivo, Pablo Aimar (Carlos Martins/Freddy Adu). Escolhas para todos os gostos.
Apesar de extenso, espero que este artigo tenha ajudado a perceber algumas das ideias tácticas de Quique Flores e principais vicissitudes do modelo de jogo, consoante o sistema utilizado.
Quique Flores: 4x2x3x1 ou 4x4x2?
Se quanto às caras, que vão compor a fotografia, as dúvidas persistem, quanto ao sistema táctico já se vislumbram algumas novidades. O treinador espanhol tem procurado treinar o 4-4-2 com a utilização de médios-ala. Espera-se, portanto, que o desenho se aproxime do modelo clássico, existindo a alternativa de um 4x2x3x1 mais defensivo e conservador. Em termos de princípios de jogo, também é visível que Quique Flores pretende utilizar a defesa em linha, explorando a técnica do fora-de-jogo. A pergunta que se coloca é: será este o esquema principal? Haverá espaço para o 4x3x3 ou para o 4x4x2 losango?
A experiência em Valência
Para responder a estas questões, nada como recuar até à época 2005/06. Vindo do Getafe, o actual treinador do Benfica chega a Valência com a missão de substituir Claudio Ranieri. Apesar das naturais diferenças quanto à realidade específica que rodeia ambos os clubes, resulta interessante conhecer qual a abordagem inicial protagonizada por Quique Flores. Mesmo que as circunstâncias sejam distintas e a história não se repita, uma coisa é certa: as ideias e convicções do homem forte encarnado não devem ser muito díspares. Vamos, então, analisar os seus primeiros passos, como forma de extrapolar o seu pensamento táctico para o futuro benfiquista.
Revolução - parte II?
Em primeiro lugar, o início de temporada foi marcado por uma autêntica revolução: cerca de duas dezenas de saídas e perto de quinze entradas. Só para citar alguns exemplos, saliente-se os empréstimos de Caneira, ao Sporting, e David Silva, ao Celta de Vigo, assim como as contratações de David Villa (Zaragoza), Patrick Kluivert (Newcastle) e Raúl Albiol (Getafe). Tal corropio de jogadores não impediu a implementação de um modelo de jogo consistente, baseado num grupo sólido. A prova disso mesmo é que o Valência alcançou o 3.º lugar na liga espanhola, atrás de Barcelona (campeão) e a um ponto do Real Madrid. Pelas indicações dos últimos dias, o futebol do Benfica será marcado, concerteza, sob o signo de uma revolução, mais ou menos, acentuada.
Valência 1-0 Real Bétis
27 de Agosto de 2005. Primeira jornada da liga espanhola. O Valência recebe o Real Bétis no Mestalla e vence pela margem mínima. Golo marcado por...Pablo Aimar, aos 53’ minutos. O primeiro onze titular segue os preceitos do 4x2x3x1: Cañizares (GR), R. Albiol (DD), Ayala (DC), Moretti (DC), F. Aurélio (DE), Albelda (MC), Baraja (MC), Rufete (MD/MOD), Vicente (ME/MOE), P. Aimar (MO) e Mista (PL). Curiosamente, vale a pena analisar as substituições realizadas por Quique Flores: (i) aos 62’ minutos (pouco depois do golo que garantiu a vitória), Mista dá o lugar a Patrick Kluivert; (ii) aos 81’ minutos, Marchena substitui Rufete; e (iii) aos 87’ minutos, P. Aimar troca com D. Villa. Conclusões? Talvez por ter sido o jogo inaugural, houve o cuidado de refrescar o ataque, num primeiro momento, e preencher a zona defensiva com a entrada de Marchena, aquando da segunda substituição.
Zaragoza 2-2 Valência
11 de Setembro de 2005. Segunda jornada da liga espanhola. O Valência desloca-se ao terreno do Zaragoza e empata a duas bolas. Golos marcados por Angulo e D. Villa. Primeira alteração a merecer destaque: Quique Flores passa do 4x2x3x1 para o 4x4x2 clássico. Onze titular da altura: Cañizares (GR), R. Albiol (DD), Ayala (DC), Moretti (DC), F. Aurélio (DE), Albelda (MC), Baraja (MC), Rufete (MD), Angulo (ME), Di Vaio (PL) e Mista (PL). Na segunda parte, a perder por 2-1, o treinador espanhol regressa ao 4x2x3x1: Vicente, mais incisivo, substitui Angulo e P. Aimar, entre linhas, troca com Di Vaio. Na frente, Mista coloca-se em cunha entre os centrais contrários. Aos 80’ minutos, nova jogada de risco: sai Baraja (MC) e entra D. Villa (PL). O Valência desenha um losango a toda a largura do relvado e o golo do empate surge um minuto depois, por intermédio de...D. Villa.
Barcelona 2-2 Valência
Depois de na 3.ª jornada registar-se novo empate a duas bolas, na recepção frente ao Deportivo, a 21 de Setembro dá-se o primeiro grande teste: visita a Camp Nou, para defrontar o Barcelona. Mais uma vez, 2-2 foi o resultado final. Quique Flores explanou a equipa titular em 4x2x3x1: Cañizares (GR), Caneira (DD), Ayala (DC), Marchena (DC), Moretti (DE), Albelda (MC), F. aurélio (MC), Rufete (MD/MAD), Vicente (ME/MAE), P. Aimar (MO) e D. Villa (PL). Aos 54’ minutos, o Valência vencia por 2-1, com golos da nova coqueluche: o espanhol D. Villa. Ao contrário do que se faria supor, o novo treinado encarnado não defendeu a margem mínima, pois Hugo Viana entrou para o lugar de F. Aurélio (na zona do meio-campo) e P. Aimar deu a sua vez ao ponta-de-lança Mista. Já agora, o golo do empate foi obtido por Deco aos 80’ minutos.
[Valência] Sistema(s) táctico(s): resumo
Ao longo de toda a prova caseira, o 4x2x3x1 foi o esquema mais utilizado, alternando, ocasionalmente, com o 4x4x2 clássico. Da análise efectuada, sublinhe-se ainda duas particularidades que ajudam a conhecer o pensamento táctico/estratégico de Quique Flores: (i) quando em desvantagem no marcador, a aposta recaía na saída de um médio centro (MC), pela respectiva entrada de um ponta-de-lança (PL), desenhando-se assim um 4x4x2 losango com alas e suportado por um único pivot defensivo; e (ii) quando em vantagem, era comum observar-se a entrada de mais um defesa central (DC), como forma de proteger a zona mais recuada, transformando o esquema táctico em algo parecido com o 5x4x1, assente num bloco médio-baixo.
[SL Benfica] Sistema(s) táctico(s): suposições
Depois deste breve exercício, estamos em melhores condições para prever a forma como Quique Flores irá moldar o novo Benfica. À partida, até pelas características dos jogadores, é passível que o 4x2x3x1 seja o sistema táctico mais natural. A grande dúvida reside no posicionamento e interligação entre os homens do meio-campo. Por exemplo, não existem certezas quanto à coexistência de médios-ala (extremos) como Di María e Javier Balboa, porque Sepsi ou Jorge Ribeiro, na esquerda, podem actuar com funções mais defensivas e Maxi Pereira pode desempenhar o mesmo papel do lado contrário.
Também não é a mesma coisa jogar com duplo pivot defensivo, ou com um médio centro mais recuado (Petit?) e outro mais de transição (Carlos Martins?). Neste caso, vamos dar nomes às palavras. Cenário 1: imaginem um meio-campo com Petit e Katsouranis (ou Fellipe Bastos) e Pablo Aimar na posição de n.º 10. Estaríamos perante um triângulo suportado por dois n.º 6, de características vincadas na marcação e recuperação. Cenário 2: imaginem, agora, um meio-campo composto por Petit (ou outro) e Ruben Amorim (ou Hassan Yebda), com Pablo Aimar (ou Carlos Martins e Freddy Adu) uns metros à frente. O triângulo ganha inclinação com a entrada de um n.º8, jogador mais participativo nas transições.
A hipótese do 4x4x2 losango
Mesmo sabendo que o Benfica dispõe de alguns atletas que podem desequilibrar junto às faixas, a vinda (ou não) de Pablo Aimar quase que exigia um 4x4x2 losango. Até pelas diversas alternativas disponíveis no plantel, que se pretende homogéneo. Para finalizar, atente-se nas diversas variantes possíveis: vértice recuado, Petit (Fellipe Bastos/Ruben Amorim); vértice direito, Katsouranis (Rubem Amorim/Hassan Yebda); vértice esquerdo, Carlos Martins (Jorge Ribeiro); e, vértice ofensivo, Pablo Aimar (Carlos Martins/Freddy Adu). Escolhas para todos os gostos.
Apesar de extenso, espero que este artigo tenha ajudado a perceber algumas das ideias tácticas de Quique Flores e principais vicissitudes do modelo de jogo, consoante o sistema utilizado.