domingo, 4 de julho de 2010

Benfica Stars Fund: cronologia dos acontecimentos

No dia 25 de Setembro de 2009, a Sport Lisboa e Benfica - Futebol, SAD, comunicou a constituição do Fundo "Benfica Stars Fund – Fundo Especial de Investimento Mobiliário Fechado”, a ser gerido pela "ESAF – Espírito Santo Fundos de Investimento Mobiliário, S.A". O objecto principal do Fundo consiste no direito a participar em determinada percentagem nas receitas e potenciais mais valias decorrentes da eventual transferência de um conjunto de jogadores vinculados desportivamente ao clube.

No dia 30 de Setembro de 2009, o Benfica veio informar a alienação, a título definitivo ao referido Fundo, dos direitos económicos, nas percentagens e preços abaixo mencionados, dos seguintes jogadores:

Nome do atleta - % adquirida pela Fundo - Preço pago pelo Fundo

David Luiz - 25% - 4.500.000,00 €
David Simão - 25% - 375.000,00 €
Di María - 20% - 4.400.000,00 €
Javi García - 25% - 3.400.000,00 €
Leandro Pimenta - 25% - 375.000,00 €
Miguel Vítor - 25% - 500.000,00 €
Nélson Oliveira - 25% - 2.000.000,00 €
Roderick Miranda - 25% - 2.000.000,00 €
Ruben Amorim - 50% - 1.500.000,00 €
Shaffer - 40% - 1.400.000,00 €
Urretaviscaya - 20% - 1.200.000,00 €
Yartey - 25% - 375.000,00 €

Nota: Valor monetário total embolsado pela SAD = 22.025.000,00 € (aproximadamente 22 milhões de euros).

No dia 6 de Outubro de 2009, o Benfica subscreveu 1.200.000 unidades de participação no referido Fundo ao preço unitário de 5 €, perfazendo um investimento global de 6.000.000 €, correspondente a 15% do valor total do Fundo. Relembro que o respectivo Fundo foi constituído no dia 30 de Setembro de 2009 com um capital de 40.000.000 €.

No dia 10 de Fevereiro de 2010, o Benfica vem informar que alienou, a título definitivo ao Fundo, os direitos económicos dos seguintes atletas, nas percentagens e preços abaixo mencionados:

Nome do atleta - % adquirida pela Fundo - Preço pago pelo Fundo

Cardozo - 20% - 4.000.000,00 €
Fábio Coentrão - 20% - 3.000.000,00 €
Felipe Menezes - 30% - 1.500.000,00 €
Halliche - 20% - 400.000,00 €
Maxi Pereira - 30% - 1.350.000,00 €

Nota: Valor monetário total embolsado pela SAD = 10.250.000,00 € (cerca de 10 milhões de euros).

Finalmente, no dia 20 de Junho de 2010, o Benfica veio informar a alienação, a título definitivo ao referido Fundo, dos direitos económicos, nas percentagens e preços abaixo mencionados, dos seguintes jogadores:

Nome do atleta - % adquirida pela Fundo - Preço pago pelo Fundo

Airton - 40% - 3.000.000,00 €
Alan Kardec - 50% - 3.000.000,00 €

Nota: Valor monetário total embolsado pela SAD = 6.000.000,00 € (6 milhões de euros).

Para entendermos um pouco melhor como os valores dos "passes" são negociados entre a Sport Lisboa e Benfica - Futebol, SAD e o gestor do Fundo "ESAF – Espírito Santo
Fundos de Investimento Mobiliário, SA", veja-se o exemplo de Alan Kardec: o clube alienou 50% dos direitos económicos do jogador, pela quantia de 3.000.000,00 €, pelo que o avançado brasileiro encontra-se 'avaliado' por 6 milhões de euros. Utilizando o mesmo raciocínio para Cardozo, os 20% adquiridos pelo Fundo "Benfica Stars Fund", pelo preço de 4.000.000,00 €, significa que o valor do "passe" corresponde a 20 milhões de euros.

Nota: No conjunto dos três comunicados à CMVM, informando sobre a alienação de percentagens de direitos económicos, e descontando a recente operação com a venda de Di María ao Real de Madrid, encontram-se 18 atletas consignados ao "Benfica Stars Fund", totalizando um montante de 33.875.000,00 € (38,275 milhões de euros antes do negócio associado ao extremo argentino).

Quais os prós & contras da constituição de um Fundo Especial de Investimento Mobiliário Fechado, com directa participação em determinada percentagem nas receitas e potenciais mais valias decorrentes de eventuais transferências? Façamos a analogia através de um simples 'exercício':

Suponha o leitor que é detentor de um património constituído por um apartamento (não interessa a tipologia) e um automóvel (não importa a cilindrada). Por motivos ligados a necessidades de financiamento decide, por exemplo, desfazer-se de parte dos seus 'activos', alienando 20% do seu imóvel e 40% do seu veículo. Má ideia? Depende. Qual o destino a dar ao capital recebido? Imaginemos os seguintes cenários: (i) aquisição de um terreno para futura construção de uma vivenda ou inscrição num curso de formação indispensável à progressão na carreira; e, (ii) liquidação imediata de créditos vencidos (em atraso), de dívidas fiscais ou para utilização no pagamento de despesas correntes, como água, luz, entre outras. No primeiro caso, estamos perante uma oportunidade de financiamento para posterior re-investimento. Na segunda situação, estamos diante de uma necessidade de financiamento urgente para compensar dificuldades de tesouraria permanentes. Na Sport Lisboa e Benfica - Futebol, SAD, esta linha de pensamento é semelhante. Perceberam a ideia?

No meio disto tudo, qual a minha principal preocupação? De forma sucinta, não querendo aborrecer os leitores, merece a pena escrever um breve apontamento. Tal como numa qualquer empresa, uma Sociedade Anónima Desportiva (SAD) conta com activos de diversa ordem: (i) tangíveis, como instalações desportivas (estádio e centro de estágio), frota automóvel, entre outras; e, (ii) intangíveis, onde estão contabilizados os "passes" dos jogadores de futebol, relativos aos direitos de inscrição desportiva dos mesmos. Esta última categoria de activos representa novas vantagens competitivas e simbolizam aquilo que de mais importante os clubes detêm: o seu capital humano, na medida em que os jogadores representam um elemento essencial na contribuição de benefícios económicos futuros. Assim, uma eventual alienação de "passes" de atletas veiculados ao clube, ainda que realizada por partes percentuais, deve ser gerida com necessária cautela e ponderação, correndo o risco do clube descapitalizar em demasia os seus mais relevantes activos. Vale a pena reflectir sobre este tema, pois é da máxima importância nas decisões tomadas em matéria de política desportiva.

Para terminar, o Benfica adquiriu alguns jogadores de talento emergente para a nova época desportiva 2010/11, pelo que faz todo o sentido recordar os números oficiais envolvidos através dos comunicados prestados à CMVM: Roberto, 8.500.000,00 €; Nicolás Gaitán, 8.400.000,00 €; Franco Jara, 5.500.000,00 €; e, por fim, Fábio Faria, 1.000.000,00 €. No total, em contratações para a temporada que se avizinha, a SAD encarnada já gastou cerca de 23,4 milhões de euros.

Se pensarmos que o clube já alienou, a título definitivo ao "Benfica Stars Fund", nas percentagens e preços acima referidos, direitos económicos de 18 atletas (sem contar com Di María), no valor de 33.875.000,00 €, significa que ainda se encontram disponíveis aproximadamente 10 milhões de euros para alguma contratação de última hora. Isto no caso de querermos vislumbrar uma relação directa entre os recursos financeiros obtidos com estas operações de financimento e os montantes envolvidos no reforço da equipa de futebol.

Num futuro próximo, provavelmente em Setembro, ou Outubro, do presente ano, creio como expectável que mais novidades apareçam em termos de alienação de percentagens de direitos económicos de atletas ao "Benfica Stars Fund". No meu entendimento, os novos jogadores (activos) como Roberto, Fábio Faria, Nicolás Gaitán e Franco Jara podem, no seu conjunto, implicar um valor realizável muito próximo dos 12 milhões de euros. Regressaremos a este tema, sempre que se justificar.

6 comentários:

Manuel Oliveira disse...

Boa explanação para quem não esteja a par do que é esse Fundo e como funciona.

Pedro Soares Lourenço disse...

Excelente texto; para memoria futura.

JJD disse...

Muito Bom.Esclarece tudo certinho direitinho.Obrigado.
SLB4EVER Rumo****

Viriato de Viseu disse...

Vou guardar nos meus favoritos, porque há aqui muita matéria para "encornar".
Tenho que sorver isto aos poucos, porque numa primeira leitura, é muita areia para a minha camioneta!!!

Abraço.

Ricardo disse...

Finalmente alguém a escrever sobre o Fundo com alguma profundidade!

Obrigado, Ricardo, por teres explando as tuas ideias, acho que compreendi finalmente o intuito do Fundo.

E é por isso que agora digo com total convicção: não gosto do Fundo. Acho que na balança dos prós e contras, o Benfica fica claramente a perder. Muito mais agora, que tem os jogadores a serem valorizados por termos feito uma grande época, por termos vários jogadores no Mundial e por - tudo o indica - a política de continuidade se manter, o que quererá dizer mais provável sucesso desportivo. Nestas condições, será absurdo alienar percentagens dos passes dos jogadores a preços claramente abaixo do que eles valem.

Abraço!

Gomes disse...

Boas!

Excelente explicação. A meu ver, só falta uma coisa: a venda de partes dos passes dos jogadores ao fundo torna possível a "tangibilização" dos activos intangíveis, importante para a real aferição do valor do clube e consequente negociação de melhores condições de financiamento.

Acho que esta é uma boa estratégia, até porque recebemos pelos dois lados (parte do passe que detemos e a parte que detemos do fundo) e ainda conseguimos criar melhores condições de financiamento, para além da efectiva solução para a necessidade de nos financiarmos no curto prazo.

Abraço,
Ricardo Gomes