terça-feira, 7 de abril de 2009

A reflexão interna da família benfiquista

Penitencio-me pela menor disponibilidade em escrever algo mais do que meia dúzia de linhas, apesar do interesse pelo dia-a-dia encarnado não ter diminuído. Antes pelo contrário. Em primeiro lugar, tenho andado mais activo aqui: http://www.twitter.com/catenacc10. Em segundo lugar, nos últimos dias (semanas) tenho dialogado, presencialmente, com várias figuras ligadas ao universo benfiquista.

Tal como se tem repetido nos anos mais recentes, o clube volta a atravessar um período atribulado onde o nível exibicional da equipa cria um sentimento de desconfiança nos sócios e adeptos encarnados. É verdade que os jogadores tardam a produzir um futebol que tranquilize as bancadas e até Quique Flores já perdeu o seu estado de graça. Todavia, o momento actual de descrença encontra eco num ponto fundamental: o FC Porto caminha, a passos largos, para 4.º título consecutivo e a hegemonia nacional do Benfica encontra-se seriamente ameaçada. Já há quem comece a contar os anos que restam para que o FC Porto ultrapasse o Benfica no número de campeonatos conquistados (dados retirados do jornal «A Bola»). Ao contrário da selecção, não é preciso máquina de calcular:

FC Porto (23)

I Liga: 1934/35 (1)
I Divisão: 1938/39; 1939/40; 1955/56; 1958/59; 1977/78; 1978/79; 1984/85; 1985/86; 1987/88; 1989/90; 1991/92; 1992/93; 1994/95; 1995/96; 1996/97; 1997/98 e 1998/99 (17)
Superliga: 2002/03 e 2003/04 (2)
Liga: 2005/06; 2006/07 e 2007/08 (3)

SL Benfica (31)

I Liga: 1935/36; 1936/37 e 1937/38 (3)
I Divisão: 1941/42; 1942/43; 1944/45; 1949/50; 1954/55; 1956/57; 1959/60; 1960/61; 1962/63; 1963/64; 1964/65; 1966/67; 1967/68; 1968/69; 1970/71; 1971/72; 1972/73; 1974/75; 1975/76; 1976/77; 1980/81; 1982/83; 1983/84; 1986/87; 1988/89; 1990/91 e 1993/94 (27)
Superliga: 2004/05 (1)

Os 14 títulos conquistados desde a época 1987/88 mostram a sequência avassaladora do FC Porto nos últimos vinte anos. A manter este ritmo, com ou sem benefícios do 'sistema', não tardará a que vejamos muitos homens adultos a chorar, sentados ao colo da mãe. Força de expressão, mas não deixa de ser dramático.

Na semana passada, aquando do lançamento do 'Anuário do Futebol Mundial 2008/09', escrito por Rui Malheiro, tive o prazer de debater este assunto (entre outros) com o conhecido José Marinho. A propósito, a sua crónica semanal já está publicada no sítio do costume.
Num ponto concordamos: não é possível o Benfica continuar com a mesma política desportiva, com as prioridades centradas na (in)justiça dos tribunais quando, em última instância, as vitórias e os campeonatos decidem-se (queremos acreditar) no relvado. O actual discurso da actual Direcção, com o presidente ocupado a inaugurar casas do clube por esse país fora e demasiado preocupado com a promoção da intangível marca Benfica, deve ser rejeitado, sob pena dos verdadeiros activos (jogadores) fracassarem na espinhosa missão de acrescentar companhia aos troféus gloriosamente conquistados por gerações anteriores.
Noutra questão divergimos ou, por outras palavras, temos diferenças de entendimento quanto à solução praticável: na opinião de José Marinho, uma figura bem conhecida dos benfiquistas, também de nome José, mas apelido Veiga, seria a pessoa melhor preparada para combater (o termo é mesmo este) o domínio azul e branco. Não desfazendo do seu profícuo trabalho enquanto director desportivo, os anticorpos do passado, com epicentro numa longíqua casa do Luxemburgo, não estão totalmente curados e compreendidos pela nação encarnada. Embora várias qualidades profissionais de José Veiga mereçam ser tidas em conta, o seu temperamento e modo de acção sugere uma rixa dentro do 'sistema'. Correndo o risco de alguma ingenuidade, prefiro um Benfica situado numa supra-dimensão, ou seja, jamais pretendo que o meu clube combata o 'sistema' com as mesmas armas, mas antes o derrube, não nos tribunais, mas em campo, com classe e mística à Benfica.

O texto já vai longo, mas não poderia deixar de escrever umas linhas finais sobre o meu encontro de ontem à tarde com um notável benfiquista, bem conhecido do público em geral. Tudo começou através de troca acesa de razões sobre a competência, ou falta dela, de Quique Flores. O debate virtual sublinhou distintos pontos de vista – essencialmente sobre o papel de Rui Costa e o modelo de jogo do treinador – mas, ao mesmo tempo, a esgrima de argumentos foi acompanhada por uma admiração crescente quanto ao tom e nível de conversação utilizado. Sem espantar, passados alguns emails de cá para lá, foi marcada uma breve tertúlia para discutir a actualidade do Benfica. A conversa durou praticamente uma hora e correspondeu plenamente às expectativas criadas, pese as naturais diferenças e visões que temos sobre aquilo que é (pode ser) melhor para o clube do qual partilhamos o cartão de sócio. Foi um final de tarde bem passado, em tom descontraído, esperando que a ocasião se repita amiúde, noutros locais e em outras circunstâncias. Em traços gerais, não ferindo questões do foro privado, diria que chegámos a idêntica conclusão: desportivamente, porém com prováveis consequências económicas, torna-se insustentável persistir num rumo contrário ao do sucesso, sendo crucial apontar baterias para o regresso das vitórias – o panorama presente exige que nós, benfiquistas, honremos a história deixada pelos mais antigos e façamos uma reflexão séria sobre os principais assuntos que dizem respeito à nação encarnada. Caso contrário, pode muito bem acontecer que daqui por dez anos estejamos a pensar como foi possível o FC Porto ter alcançado a marca do 32.º título nacional.

7 comentários:

apenasfutebol disse...

O Benfica merecia e devia ser debatido semanalmente - já para não dizer diariamente - pelos benfiquistas como tu, eu e muitos outros, mais ou menos notáveis, mais ou menos mediáticos!
A situação neste momento merece muita reflexão e muita discussão.
Sinceramente, não me consigo situar ainda, de forma objectiva, em algumas perspectivas que vão surgindo...
Uma coisa é certa, e vou recorrer a uma metáfora para simplificar...o monstro foi ferido de morte, ficou mais de uma década em coma, a lutar contra essa morte que muitos quiseram forçar, de repente, ganhou forças e deu um ar da sua graça, começou a sarar as suas feridas aos poucos, só que súbitamente teve uma recaída, os seus inimigos voltaram a lançar-lhe farpas e ele voltou a cair numa depressão profunda...

E isto parece um ciclo que nunca mais acaba...

É preciso fazer algo, não sei o quê, nmas é preciso fazer algo, daí a necessidade de se falar e discutir o clube. Disto tenho eu a certeza.


Abraço

Constantino disse...

Bom no dia em que escrevi no meu blog algo acerca do presidente, ver a minha opinião corroborada aqui não deixa de saber bem. Tambem pertenço à falange que defende a mudança de direcção, mas sou um pouco mais radical, defendo eleições antecipadas. Eleições em Outubro é perfeitamente idiota e só servira para a nova direcção não assumir responsabilidades acerca da 1ª temporada de vigência. Não sou muito entendido destas coisas, falo mais com o coração do que com a razão do conhecimento, mas em meu entender o futuro do SLB passa pelo Quique, passa pelo Rui Costa, mas não passa pelo populismo do LFV. Aliás, batam-me se quiserem, mas haverá pessoa mais eprfeita para assumir as rédeas do SLB do que o Humberto Coelho??

www.a-mao-de-vata.blogspot.com

Catenaccio disse...

Paulo,

Obrigado por teres vindo comentar. Não vale a pena retorquir, pois temos a sorte de nos conhecer pessoalmente e, nem que seja no 'twitter', ir trocando pontos de vista.

Constantino,

Agradeço a visita. E, não podia estar mais de acordo: eleições em Outubro é um disparate e os benfiquistas deviam-se unir para evitar essa alarvidade, quando a época 2009/10 já leva 2 ou 3 meses de competição.

dezazucr disse...

Qual a tua opinião acerca do Bruno Carvalho? Apesar de não gostar da sua postura onde aparenta ser demasiado pró-porto esquecendo-se de como construiram a sua hegemonia, identifico-me com muitas das críticas que faz, nomeadamente sobre o facto de, os benfiquistas raramente procurarem justificações internas para as suas crises.
Enquanto o Benfica não estancar na gestão interna eficientemente, de nada vale gastar cartuxos com teorias de corrupção. Este ano por exemplo, pareceu-me que tinhamos mais que condições para estarmos melhor, no entanto, já estamos em 3º e pouco ânimo há para mais. O Benfica desde o início do ano tem jogado deplorávelmente, não se notando evolução em fase nenhuma do seu jogo. Voltando à questão, qual a tua opinião sobre o BC.

dezazucr disse...

ps: tmb não compreendo porque razão apenas há eleições em outubro.

Catenaccio disse...

Dezazucr,

Muito sinceramente ainda nem sequer me debrucei sobre o tema 'Bruno Carvalho'. Li uma ou outra intervenção, mas não dei crédito ou importância. Acho que isso explica tudo.

Não creio que se trate de uma candidatura séria. Penso que apareceu como uma espécie de 'testa de ferro', para agitar as águas e como forma de auscultar reacções da nação benfiquista. Pouco mais há a dizer.

Abraço.

Anónimo disse...

Concordo em absoluto com o Catenaccio. Também me parece que a candidatura de B.C. é mais uma "lebre" que outra coisa.
Recorde-se, aliás, que o blogue desse candidato teve honras de lançamento com a presença de LFV e foi elaborado pelo Sapo (ver agradecimentos nos primeiros posts) que, como se sabe, patrocina o Benfica.

Saudações Gloriosas