domingo, 10 de fevereiro de 2008

#2 Táctica: Novembro 2007

Selecção Nacional

Prós & Contras da táctica portuguesa


Selecção nacional: clube de topo?

Qualquer que seja a selecção nacional, espera-se que o grupo de jogadores escolhidos seja representativo do melhor que a nação tem para oferecer. Portugal não foge à regra e as escolhas técnicas - sempre polémicas - procuram envolver parâmetros como a forma física ou o simples talento futebolístico de cada atleta. Objectivo prioritário: a constituição de um conjunto de eleição.
Contudo, a experiência portuguesa e a história recente mundial demonstram que nem sempre um lote de óptimos jogadores personifica uma boa equipa. Uma das razões para esse desfasamento prende-se com o menor tempo disponível do seleccionador para promover mecanismos de entrosamento e incutir princípios de jogo adaptados às características dos jogadores.
Nesta medida, torna-se notório que treinar um clube não tem nada que ver com o ritmo próprio de treinar uma selecção. No primeiro cenário, o treinador tem contacto diário com os atletas e as suas ideias sobre o jogo são assimiladas de uma forma mais gradual e consistente. No caso da selecção nacional, o treinador funciona mais como um coleccionador de identidades, tendo em conta as diversas posições do terreno. Por outras palavras, o seleccionador é obrigado a saltar etapas estratégicas como forma de impor o seu estilo futebolístico, assente num desenho táctico que melhor se adapte ao tal conjunto de eleição nacional.

Selecção nacional: escolhas técnicas

Antes de entramos directamente no tema relacionado com as diversas formas do esquema táctico nacional, há que enunciar uma regra base que vem nos livros: qualquer equipa deverá ter, no mínimo, dois jogadores por posição. E, quais são os escolhidos preferenciais do actual seleccionador nacional? Atente-se nos principais nomes que constituem o núcleo duro de Scolari:

Guarda-redes: Ricardo (Bétis); Quim (SL Benfica)
Defesa direito: Bosingwa (FC Porto); Miguel (Valência)
Defesa central: Ricardo Carvalho (Chelsea); Jorge Andrade (Juventus); Fernando Meira (Estugarda); Bruno Alves (FC Porto)
Defesa esquerdo: Paulo Ferreira (Chelsea); Antunes (AS Roma)
Médio defensivo: Petit (SL Benfica); Raúl Meireles (FC Porto)
Médio de transição: Maniche (Atl. Madrid); João Moutinho (Sporting CP)
N.º 10: Deco (Barcelona); Tiago (Juventus)
Médio ala/Extremo: Cristiano Ronaldo (Manchester United); Simão (Atl. Madrid); Ricardo Quaresma (FC Porto)
Avançado/Ponta-de-lança: Nuno Gomes (SL Benfica); Hélder Postiga (FC Porto); Hugo Almeida (Werder Bremen); João Tomás (Sp. Braga)

Na maioria das convocatórias, estes jogadores correspondem ao lote de eleição nacional e, porventura, serão aqueles em quem os portugueses depositam maiores esperanças para o Euro 2008. Eventualmente, pode-se pensar noutras alternativas com valor para integrar a selecção nacional:

Guarda-redes: Nuno (FC Porto)
Defesa direito/esquerdo/central: Caneira (Valência)
Defesa direito: Abel (Sporting CP)
Defesa central: Tonel (Sporting CP); Ricardo Rocha (Tottenham)
Médio defensivo: Miguel Veloso (Sporting CP)
Médio de transição: Manuel Fernandes
Médio ala/Extremo/N.º 10: Nani
Avançado/Ponta-de-lança: Ariza Makukula (Marítimo)

Enquadramento táctico: sistema habitual 4x2x3x1

O desenho de jogo centrado num trio criativo, suportado pelo duplo pivot defensivo e tendo um avançado centro como referência, vem dos tempos de Humberto Coelho. Após o Euro 1996, disputado em Inglaterra, António Oliveira e Luiz Felipe Scolari têm mantido a mesma orientação táctica, com ligeiras alterações circunstanciais.

Actualmente, parece ser o sistema que melhor serve os interesses da selecção, quer pela matéria-prima disponível, quer pelas características dos futebolistas portugueses. Conhece-se a dificuldade de preencher o lugar de ponta-de-lança e as faixas defensivas não apresentam elevada concorrência, excepção feita ao lado direito. Deste modo, uma das principais pechas da equipa nacional prende-se com a inexistência de um lateral esquerdo verdadeiramente canhoto, existindo a esperança que Antunes possa crescer no futebol transalpino. Por sua vez, a posição de homem mais avançado tem ficado orfã desde a saída de Pauleta e aguarda-se, com expectativa, a evolução de Hugo Almeida no Werder Bremen.
Ainda assim, os mecanismos colectivos mostram-se mais solidários no 4x2x3x1 por ser o enquadramento táctico treinado há mais tempo e aquele onde os jogadores se sentem mais à-vontade. Por conseguinte, a descoberta de pontos de entrosamento será mais natural e as ideias do seleccionador mais facilmente assimiladas, favorecendo o talento individual de craques como Simão, Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma, verdadeiras pérolas do futebol fantástico.

Nuance estratégica: sistema renovado 4x3x3

Em Portugal, Benfica e FC Porto concebem o seu modelo de jogo no 4x3x3 mas, de forma ligeiramente distinta. Enquanto Camacho é adepto do 4x2x31 como variante do sistema tradicional, Jesualdo Ferreira prefere o 4x3x3 puro, com a utilização de um único pivot defensivo e onde os médios ala desempenham, mais amiúde, o papel de extremos. Também na selecção, consoante o adversário e o resultado no marcador, Scolari pode imprimir uma nuance estratégica que tem reflexo numa maior preponderância de médios de transição e no aproveitamento dos extremos como forma de oferecer profundidade ao jogo colectivo.

A imagem pretende revelar outras opções para a zona intermediária, lembrando um episódio verificado no Euro 2004, disputado em Portugal. Na altura, vivia-se a época dourada de José Mourinho no FC Porto onde pontificavam nomes como Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Nuno Valente, Maniche, Deco, entre outros. A partida inaugural, frente à Grécia, não correu de feição às cores portuguesas e o seleccionador viu-se obrigado a operar uma revolução cirúrgica em lugares-chave, apostando nalguns atletas que tinham experimentado o sucesso europeu.
Cerca de quatro anos volvidos, o Sporting dá mostras de ser o clube que mais valores tem conseguido inserir na equipa principal e diversas correntes de opinião acreditam que a espinha-dorsal da selecção do futuro devia ter a marca da Academia de Alcochete. Sendo certo que jogadores como Tonel, Miguel Veloso e João Moutinho são presenças, mais ou menos, assíduas nas convocatórias, outros como Abel e Yannick Djaló podem, também, ter a sua oportunidade. Tal como em 2004, reunir vários atletas do mesmo clube pode significar uma vantagem extra pelo facto da maioria revelar melhor entrosamento e conhecimento dos momentos da transição, graças ao trabalho diário desenvolvido no seu clube de origem.

Exigência de um plano B: sistema alternativo 4x4x2

É sabido que a selecção portuguesa tem o costume de bater-se, bravamente, com selecções de topo mundial mas, estranhamente, tem o péssimo hábito de fraquejar diante de adversários teoricamente mais fracos. Quando o oponente é de respeito, é normal existirem mais espaços para circular a bola o que funciona lindamente para jogadas de contra-ataque e serve as características dos jogadores portugueses. Ao contrário, frente a selecções menos cotadas, que actuam num bloco médio-baixo com vários jogadores atrás da linha da bola, existe maior dificuldade para criar lances de perigo e oportunidades de golo. A resposta pode estar na implementação de um sistema alternativo, mais ofensivo, que contemple a presença de dois avançados. Vejamos, então, qual a possibilidade de sucesso de um plano B centrado no 4x4x2.

Mesmo tendo consciência que a principal força de Portugal reside na qualidade dos centrocampistas e no talento individual dos médios ala ou extremos, em determinadas circunstâncias exige-se a presença de dois homens mais avançados, nomeadamente nos jogos em casa, onde o favoritismo é maior, ou quando o resultado no marcador seja adverso.
Este plano B para situações difíceis assemelha-se ao desenho planificado por Rafa Benítez no Liverpool, com duas linhas de quatro elementos ao melhor estilo britânico. Ao invés do 4x4x2 losango, preconizado por Paulo Bento, este esquema mantém a virtude do 4x2x3x1 ao assumir a presença de mágicos como Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma. A diferença está na saída de um jogador do triângulo central, pela entrada de mais um avançado, de maior mobilidade ou com maior presença na área.
Por sua vez, face às escolhas constantes do seleccionador, a sociedade ofensiva seria, naturalmente, constituída pelos seguintes jogadores: Nuno Gomes, Hélder Postiga, Hugo Almeida, João Tomás e...Ariza Makukula. Destaca-se o avançado do Marítimo por diversas razões: experiência internacional adquirida no Sevilha, excelente início de campeonato (4 Golos/6 Jogos) e impressionante envergadura física (190 cm/85 kg). Natural da República Democrática do Congo, este ainda jovem ponta-de-lança (26 anos) marcou presença nos escalões inferiores da selecção nacional e, pelas suas características ímpares no futebol português, representa uma opção que não deve ser descurada.
Em resumo, quando a bola teima em não entrar nas redes adversárias e exige-se um futebol mais directo e menos elaborado do ponto de vista técnico, há que perspectivar novas hipóteses tácticas e o 4x4x2 pode ser uma solução de recurso interessante. Para que o desenho no papel tenha expressão no relvado, nada como optar por dois avançados de características distintas que melhor compreendam o objectivo da complementaridade. Assim, entre Hugo Almeida, João Tomás e, quem sabe, Ariza Makukula, um deles desempenharia a função de ser o homem de referência, capaz de prender os centrais adversários e abrir espaços de penetração para os restantes companheiros, enquanto Nuno Gomes e/ou Hélder Postiga teriam liberdade de movimentos para percorrer toda a frente de ataque.

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