segunda-feira, 10 de março de 2008

A demissão de José António Camacho

Data: 9 de Março, Domingo. Hora: 18h00, início da partida. Local: Estádio da Luz. Resultado: empate 2-2, o sexto verificado diante dos sócios, a perfazer quinze pontos perdidos em casa. Julgo ser despropositado analisar o jogo frente ao último classificado. Seria repetir as mesmas justificações para uma época muito aquém das expectativas. Importa, isso sim, reflectir sobre a demissão de José António Camacho.
Penso ser cedo para retirar conclusões imediatas. Daqui por meses, talvez anos, teremos o distanciamento certo para compreender o impacto real desta segunda passagem do treinador espanhol. A meu ver, o futuro vai mostrar que Camacho foi mais vítima do que réu. Nada como o tempo para nos dar essa lição. Por conseguinte, qual a imagem que ficará para as gerações vindouras?
Quando um dia os meus filhos me perguntarem quem foi Camacho, terei de distinguir o homem do treinador. As suas qualidades humanas da competência profissional. Se no primeiro caso faltam-me adjectivos que elogiem o homem, na segunda situação surge-me um sentimento de desconfiança face ao treinador.
Desde a primeira passagem pelos encarnados que enalteço a frontalidade do espanhol, o seu discurso directo e sincero. Inclusive, reconhece-se o apreço que nutria pelo Benfica e o respeito que sempre manifestou em relação à instituição. Também, na hora da despedida, teve um comportamento digno e a sua saída abre espaço para que a Direcção da SAD tenha o tempo necessário para preparar a temporada seguinte.
Contudo, sou da opinião que Camacho apresenta limitações na vertente táctica e na metodologia de treino. Considerem esta apreciação como uma constatação de um leigo habituado a observar o fenómeno desportivo, pois não tenho os conhecimentos técnicos para proceder a uma avaliação objectiva. De qualquer modo, no meu entender, o treinador espanhol é o principal responsável pelas dificuldades na operacionalização de um modelo de jogo adaptado à exigência de um grande clube e co-responsável – juntamente com o departamento clínico e restante equipa técnica – na gestão da condição física da equipa. Para bem da sua carreira, aconselharia seguir o exemplo de outros treinadores e procurar munir-se de mais e melhor formação na área da táctica e do treino. A evolução do futebol exige uma actualização de conhecimentos constante.
Volto ao tópico anterior. Camacho foi vítima ou réu? Penso que foi mais vítima do que réu por dois motivos. Primeiro, porque a responsabilidade da construção do plantel tem de ser associada à Direcção da SAD. Desde há meses que tenho vindo a criticar a planificação desportiva e, ao contrário de muitos benfiquistas, penso que a actual equipa está muito longe de ser a melhor dos últimos dez anos. Segundo, no seguimento da falta de qualidade de alguns elementos do plantel, faço minhas as palavras de Rui Costa quando refere que os jogadores devem assumir as suas responsabilidades. Para além de carências técnicas, nota-se falta de estrutura mental para jogar num clube da dimensão do Benfica.
Por conseguinte, vale a pena comparar a performance do Benfica com a excelente campanha protagonizada pelos Vitórias, de Guimarães e de Setúbal. No futebol de alta competição nada acontece por acaso. Teria muito a escrever, quem sabe noutro post, mas merece a pena destacar alguns pontos. Provavelmente, a Direcção destes outsiders é mais capaz e competente, os treinadores são globalmente melhores e até os jogadores são, porventura, melhores profissionais. De facto, não é normal tanto Guimarães, como Setúbal, mostrarem melhores argumentos futebolísticos quando existe um fosso enorme em termos de orçamento. Como não considero - na generalidade - os jogadores do Benfica inferiores em termos técnicos, a diferença só pode ser encontrada no panorama mental e físico. Se calhar, os jogadores comandados por Manuel Cajuda e Carlos Carvalhal são melhores profissionais, conseguem manter os índices motivacionais num plano elevado e fazem jus ao conceito de atletas de alta competição.
Vale a pena pensar neste último parágrafo. Reflectir sobre as palavras de Rui Costa e prestar atenção à pista deixada por Camacho. Caso o Benfica não siga um caminho mais exigente e profissional – começando na Direcção e acabando no elemento mais modesto – o futuro, a curto prazo, será desastroso. A perspectiva de um supermercado de jogadores e cemitério de treinadores deve assustar qualquer adepto encarnado. Ninguém quer o regresso dos tempos de Manuel Damásio, pois não?

2 comentários:

Ricardo disse...

Começa a ser difícil acreditar no que quer que seja vindo de LFV, mas ainda mantenho - secretamente - uma esperança de que desta vez, sabendo LFV que é a sua última oportunidade de fazer bem, o Presidente do Benfica saiba gerir, responsabelmente, a equipa de futebol do clube. Para isso acho que, em linhas gerais, poder-se-iam alinhavar alguns pontos:

- Muita responsabilidade na escolha do treinador. Camacho saiu numa altura que permite pensar muito bem quem o sucederá. Alguém que se identifique com o clube, que conheça a fundo quais são as ideias estruturais do Presidente e do Director Desportivo para o Benfica do futuro. Até lá, penso que manter Chalana é uma opção acertada.

- Definir, convictamente, quais são as responsabilidades do novo Director Desportivo (presumivelmente Rui Costa). Neste aspecto, amando o Maestro como todos os benfiquistas, algumas dúvidas assolam-me, principalmente a de saber se Rui Costa é mesmo o homem certo para o lugar certo. Penso que há uma certa confusão entre os benfiquistas: o facto de Rui Costa ser um amante de um clube e um jogador fenomenal não é garante algum para a sua competência como homem forte do Futebol encarnado. Um grande jogador não faz um grande técnico, como um grande jogador não faz um grande dirigente. Acredito na capacidade do Rui Costa em aprender, mas não sei até que ponto estará no imediato preparado para exercer essa função que, quanto a mim, será decisiva para o médio/longo prazo do clube. Tenho medo que seja apenas mais uma arma de LFV do que uma certeza clara de competência na gestão e ligação entre o balneário e a Direcção. No entanto, esperemos para ver.

- Acabar-se, de todas as formas, com o populismo. Dizer a verdade aos benfiquistas. Chega de mentiras, de falsas promessas, de demagogias baratas que só afundam o clube na sua própria grandeza. Os adeptos têm o direito a saber o que se passa com o clube. O Presidente o dever de ser honesto com eles.

- Não entrar em tempos de Damásio. O Benfica não tem um plantel de sonho, mas tem qualidade e potencial. Serão necessários óbvios ajustes, mas - espera-se sem exageros. Analisar e identificar quais as posições que necessitam de reforços de qualidade e, cirurgicamente, actuar. Que se evitem as comissões e os jogadores atrelados a outros. Identificar e actuar. É muito simples. Na minha opinião, penso que o Benfica necessita de 5 jogadores para 5 posições. E apenas isso. Espera-se que, em vez de comprar 15 jogadores a 1 milhão de euros, por exemplo, se comprem 5 a 3 milhões cada. De qualidade, bem identificados e prontos a entrarem na equipa titular. A meu ver as posições em falta: lateral-direito; médio box-to-box; «10»; extremo-direito; avançado móvel. Contratar bem e dispensar melhor. Procurar afastar jogadores com vencimentos muito acima da qualidade que têm (o caso de Butt é evidente, tanto mais que temos Moreira "encostado"). Penso que Butt, Zoro, Edcarlos e Luís Filipe não têm qualidade para jogar no Benfica.

Catenaccio disse...

Caro Ricardo,

Obrigado pelo comentário. Tocaste tópicos fundamentais que vão de encontro à minha perspectiva futura do Sport Lisboa e Benfica.

"Acredito na capacidade do Rui Costa em aprender, mas não sei até que ponto estará no imediato preparado para exercer essa função..."

Também receio que o maestrop se transforme no novo escudo protector do presidente, tal como foi Veiga no passado e, mais recentemente, Camacho.

"Dizer a verdade aos benfiquistas. Chega de mentiras, de falsas promessas, de demagogias baratas que só afundam o clube na sua própria grandeza."

Sem dúvida. Queremos clareza, transparência e honestidade. Chega de anunciar novos ciclos a cada desaire.

"Não entrar em tempos de Damásio. O Benfica não tem um plantel de sonho, mas tem qualidade e potencial."

Espero que não entremos no caminho do supermercado de jogadores. Concordo com as cinco posições chave que identificaste, mas aguardo, pacientemente, que não se repitam situações de "atrelamento" de jogadores.

Para terminar, corroboro da opinião em relação aos "mal amados", mas penso que Zoro, melhor enquadrado, pode ser um bom suplente e revelar-se últil em certos momentos da época.

Também conto com uma maior aposta na formação. Gostava de ver, no plantel principal, jovens como: Ruben Lima, David Simão e André Carvalhas. Provavelmente, promovia os regressos de Miguel Vítor e Romeu Ribeiro. Os ex-juniores treinavam e aprendiam com o plantel principal e em Dezembro poder-se-ia optar pelo seu empréstimo a outros clubes, como forma de ganhar maturidade e rodagem. Nessa altura, outros nomes poderiam começar a sentir o balneário encarnado: Miguel Rosa, Fellipe Bastos, Orphée Demel.

Cumprimentos.