terça-feira, 11 de março de 2008

Política desportiva de aposta na formação

Nos meses mais próximos, a direcção da SAD, liderada por Luís Filipe Vieira, terá a derradeira oportunidade de promover a profissionalização da estrutura de futebol. Espera-se que de uma forma mais tranquila e acertada. Para tal, torna-se fundamental definir um organigrama e atribuir responsabilidades dentro de uma hierarquia conhecida por todos.
Para cumprir com o delineado, há que clarificar a figura do director desportivo e definir o perfil do futuro treinador, dentro de parâmetros que respeitem a grandeza da instituição. Assim que o sucessor de Camacho seja apresentado, será possível perspectivar a época 2008/09 em todas as suas vertentes: liderança, comunicação (interna e externa), metodologia de treino, sistema táctico base/alternativo e conceptualização do modelo de jogo.
Outro aspecto, não menos importante, diz respeito à política de contratações. A preferência será dada ao mercado sul-americano, de leste, nacional ou haverá uma maior aposta nos jovens valores que começam a despontar na equipa de juniores? As linhas seguintes são dedicadas ao papel da formação.

No meu entender, qualquer que seja o futuro treinador do Benfica, gostaria de observar uma maior aposta em jogadores vindos da formação. Para mim é ponto de honra. Não significa que o clube encarnado siga a política leonina, porque sou favorável à existência de uma espinha-dorsal constituída por elementos mais experientes. No entanto, sou da opinião que num plantel de, por exemplo, 25 jogadores, o regresso de jovens emprestados e/ou promoção de jogadores oriundos da equipa de juniores. deve corresponder a uma percentagem perto dos 20%. Aqui ficam as minhas razões para uma maior aposta na formação:

Transmissão de sangue novo e frescura física ao colectivo, permitindo pensar num processo de renovação gradual;
Criação de laços afectivos com os adeptos, possibilitando o aportuguesamento da equipa de futebol;
Identificação com a história do clube, a famosa mística benfiquista, garantindo o aparecimento do sentimento de "amor à camisola";
Harmonia nas relações de balneário, pois o processo de aprendizagem sugere paciência e humildade, dimunuindo focos de desestabilização;
Controlo da massa salarial, potenciando a contratualização por objectivos e premiando o rendimento efectivo.
Dependendo do treinador, sistema táctico preferencial e modelo de jogo asssociado, alguns dos jovens ligados ao Benfica têm primazia sobre outros e as oportunidades necessitam de ser pensadas pela futura estrutura do futebol profissional.
Ainda assim, supondo que tivesse responsabilidade na(s) escolha(s), adianto a minha visão pessoal sobre algumas individualidades. Começo por Fábio Coentrão. Caso o Benfica mantenha Cristián Rodríguez, ganha força a manutenção do empréstimo do jogador - ao Nacional ou outro clube da bwin Liga - até pelo facto de tanto Di María, como Freddy Adu, pisarem habitualmente o corredor esquerdo. Sobre João Coimbra optaria pela mesma solução. Continuemos. Após uma curta experiência no plantel encarnado, decidia pelo regresso de Miguel Vítor, Ruben Lima e Romeu Ribeiro, enquanto procurava o empréstimo de Yu Dabao a um clube mais competitivo. Esta opção segue os motivos referidos anteriormente. Para cumprir com a percentagem de 20%, atrás evidenciada, ficam a faltar 2 jogadores. Graças ao belíssimo trabalho efectuado por João Alves oferecia a oportunidade a alguns valores, protagonistas de recentes convocatórias de Camacho. O meu destaque vai para:

Nome completo
David Martins Simão
(camisola 6)
Data de nascimento
15.05.1990 (17 anos)
Internacionalizações: 5
Altura:
Peso:
Posição
Médio interior/ofensivo


[Resumo 2007/08] Edição - Jogos / Golos / Minutos (Amarelos - Vermelhos)
2007/08 Juniores - 20J / 1G / 1.534Min. (3A - 1V)
2006/07 Juvenis A - 17J / 11G / 1.388Min. (1A - 0V)

Nome completo
Miguel Alexandre Jesus Rosa
(camisola 10)
Data de nascimento
13.01.1989 (19 anos)
Internacionalizações: 10
Altura: 1,74m
Peso: 67kg
Posição
Médio interior/ofensivo



[Resumo 2007/08] Edição - Jogos / Golos / Minutos (Amarelos - Vermelhos)
2007/08 Juniores - 21J / 12G / 1.845Min. (1A - 1V)
2006/07 Juniores - 16J / 2G / 1.378Min. (0A - 0V)

Nome completo
André Filipe da Silva Carvalhas
(camisola 7)
Data de nascimento
07.03.1989 ( 19 anos)
Internacionalizações: 35
Altura: 1,66m
Peso: 63kg
Posição
Avançado móvel/Médio ofensivo



[Resumo 2007/08] Edição - Jogos / Golos / Minutos (Amarelos - Vermelhos)
2007/08 Juniores - 23J / 17G / 1.915Min. (3A - 0V)
2006/07 Juniores - 23J / 8G / 2.033Min. (1A - 0V)

A conjuntura actual apresenta um clima de incertidão que aconselha prudência e muitas das decisões estão sujeitas a circunstâncias difíceis de apurar. De qualquer modo, não me vou esquivar ao desafio e avanço com um resumo que espelha as minhas convicções:

Miguel Vítor, defesa central
Ruben Lima, defesa/lateral esquerdo
Romeu Ribeiro/David Simão, médio defensivo/interior
Miguel Rosa, médio interior/ofensivo
André Carvalhas, avançado móvel/médio ofensivo

Esta seria a escolha dos meus 5 magníficos, que perfaz o patamar de 20%. Porém, não fica por aqui. Em Dezembro, por altura da reabertura de mercado, lembrando os empréstimos de Miguel Vítor, Ruben Lima, Romeu Ribeiro e Yu Dabao, tomaria decisão idêntica face a Miguel Rosa e André Carvalhas, salvo a ocorrência de um progresso individual inquestionável. O período compreendido entre Agosto e Dezembro seria de enorme utilidade, pela aprendizagem junto do plantel principal e, após o mercado de Inverno, o intuito passaria por garantir rodagem competitiva noutra realidade. Em substituição destes, ou de outros nomes, sempre dependendo da evolução manifestada, apontaria o plantel de juniores como viveiro preferencial: André Magalhães, 19 anos, lateral direito (português); Leandro Pimenta, 17 anos, médio (português); Fellipe Bastos, 18 anos, médio defensivo (brasileiro); Abdoulaye Fall, 19 anos, médio defensivo (senegalês); Orphée Demel, 19 anos, avançado centro (costa-marfinense); e, Wang Gang, 19 anos, avançado móvel (chinês).

Termino com um pedido aos leitores. Penso que este espaço é de leitura obrigatória, para alguns, e tem vindo a ganhar fidelidade, por parte de muitos outros. Contudo, gostaria que existisse mais feed-back entre mim e os leitores, mais motivos de debate, mais troca de opiniões. O tema relacionado com a aposta na formação incide sobre cenários, conjecturas e hipóteses, mas levanta tópicos de discussão, a meu ver, pertinentes. Digam de vossa justiça e partilhem a vossa visão sobre este aspecto da política desportiva. Obrigado.

6 comentários:

1234567vv disse...

Caro amigo!

A minha visão do Benfica passa por apostar forte na prospecção de jovens jogadores e na formação.

Na prospecção já tivemos excelentes resultados: Binya e David Luiz. Nenhum ainda atingiu o seu máximo mas (em conjunto com Sepsi) são jogadores de futuro do Benfica.

Na formação temos hoje condições que nunca tivemos. E temos uma boa equipa a trabalhar e a gerir. É preciso é formar futebolistas e pessoas que acreditem no projecto.

O Benfica não pode viver de contratar... em termos de receitas nunca conseguirá combater os grandes de Espanha, de Itália, da Alemanha ou Inglaterra. Por isso formar bons jogadores (mesmo que sejam segundas opções) é melhor que pagar por Luís Filipes ou Edcarlos.

Não sou de números... pois acima de tudo é preciso é cabeça. Para ter confiança neles em vez de andar a comprar ao desbarato.

Eu sou um grande fã da escola do AJAX. Uma escola que forma jogadores em todas as posições e que tem uma excelente continuidade.

É que as pessoas falam... mas nos anos 90 as escolas do Benfica deram ao mundo 2 dos mais impressionantes jogadores mundiais: Paulo Sousa e Rui Costa!

E nessa altura havia uma boa equipa à volta, que os ajudava a se integrarem. Eles tinham a ajuda de Thern, Kulkov, Schwartz e Isaías. É isso que faz falta...

Ricardo disse...

Antes de tudo, dar-te os parabéns pela excelente crónica que escreveste: lúcida, perspicaz, coerente, apontando linhas estruturais seguras com ideias excelentes, algumas delas - arrisco-me a dizer - de uma originalidade sem par.

Reflectindo um pouco sobre o que escreves: concordo com tudo o que dizes. O número que apresentas de 20 % de jovens benfiquistas no plantel principal parece-me o mais acertado - não é demasiado, e portanto não "enfraquece" ao nível da experiência o mesmo e não é tão pouco, que não permita um correcto desenvolvimento dos jovens, até porque, para o seu crescimento como jogadores de futebol, será necessário terem alguns outros jovens que com eles vêm dos Júniores para uma mais fácil adaptação à exigente vida de jogador profissional.

Concordo também com as linhas de força que orientam a tua justificação para que estes mesmos jovens consigam ter o seu espaço na equipa principal. Parece-me que apresentaste as linhas gerais correctas. Nada tenho a apontar.

Espera-se que o treinador do Benfica da próxima época seja um defensor da aposta forte e segura nos jovens que chegam da formação. Ou seja, o Benfica deverá escolher, mais do que nomes, competências, currículos profissionais e um historial do técnico a eleger. Identificar quais os técnicos que correspondem às exigências que o clube tem (sempre baseado nas linhas conceptuais a definir quanto antes e estruturadamente) e agir. De um lote de técnicos, procurar, então, a contratação de um, especificamente, apontando-lhe os vectores principais da ideologia do Clube. Parece-me que sem esta convergência de ideais nunca chegaremos a lado algum. Admitindo que tudo isto será feito, então aí sim, o teinador - já tendo interiorizado as ideias do clube - poderá desenvolver o seu trabalho de forma tranquila e com todo o espaço, dentro da sua área, para actuar. Só faz sentido ter uma Formação de alto nível, como temos actualmente, se ela tiver uma sequência lógica no momento de "desaguar" no plantel principal. Se chamarmos um técnico que não ache necessário ter, por exemplo, o número que apontas de jovens (20%), chegaremos a uma situação insustentável de empréstimos, jovens que saem do clube depois de terem passado 10 anos no mesmo, conflitos, desmotivação por saberem que não são aposta do técnino principal, etc. É este o ponto fulcral: uma linha transversal ao Clube, que oriente todos os profissionais que por ele passarem. Procurar, quando se contrata um técnico, uma empatia entre o que são as ideias do Clube e qual a idiossincrasia do próprio treinador. Será nesse "namoro" que a eficácia, a cultura de vitória e o sucesso se encontrarão.

Tudo isto me parece muito certo, mas desconfio de que, no Benfica, haja esta possibilidade de profissionalização. Espero muito estar errado, mas não vejo, até ao momento, capacidade em Vieira para, de facto, "abandonar" o Departamento de Futebol e o poder entregar a quem realmente sabe. Espero estar enganado.

Uma nota para uma gralha: dizes "André Lima" quando é, como sabes, "Rúben Lima".


Continua a escrever. Sempre. É um prazer imenso ver estas tuas crónicas. Excelente escrita, ideias claras, inteligentes e, neste caso, um claro amor ao Benfica.

Anónimo disse...

Catennacio:

acrescentava duas outras coisas/dimensões.

dentro do item "comunicação interna/externa.
Esta vertente para um clube como o Benfica é do mais fundamental que existe.
Tem tanta importância como a metodologia de treino por exemplo.

Dou alguns exemplos:
a) quando um jogador dá duas cotoveladas em dois jogos seguídos a comunicação interna do clube deverá ser multar o jogador e aplicar-lhe um castigo não o pondo a jogar "x" número de jogos
b) acabar com as entrevistas dadas por jogadores sem qualquer critério antes de jogos importantes a dizerem parvoíces umas atrás das outras.

Se existe rotatividade nos jogadores que são chamados às conferências de imprensa deve existir o mesmo nem dar entrevistas.

Até diria mais: quando o Benfica tiver o canal de televisão os jogadores só falam para lá.


Outra dimensão: o Benfica constituir um grupo de estudo e prospectiva do que ser ao Benfica daqui a 30 anos por exemplo. É o que ser´ao futebol daqui a 30 anos.

José Marinho disse...

Caro Catenaccio! É o que se pode chamar de boa leitura de jogo. Só faltou acrescentar que na próxima época terá forçosamente de ser assim. Quer queiram, quer não queiram. A UEFA impõe uma quota mínima de jogadores formados nos clubes, igualmente com um mínimo de três anos de ligação ao clube. A nacionalidade dos jogadores é indiferente. Com esta exigência, o próximo plantel do Benfica terá uma percentagem de jogadores formados no clube muito próxima daquela que o texto idealiza. Abraço.

Catenaccio disse...

Vamos por partes.

Caro vermelhovzky,

Sábias palavras. A "escola" do Ajax representa um marco do futebol europeu e mundial. Tornar-se-ia exaustivo recordar grandes nomes formados na "cantera" holandesa.
Estamos a falar de realidades diferentes, mas o Benfica tem a necessidade - quase obrigação - de colher "frutos" das camadas jovens. Há exemplos do passado que corroboram esta ideia e julgo que a aposta faz todo o sentido, desde que realizada de uma forma gradual e profissional.

Caro Ricardo,

Tocaste pontos fundamentais. Para que o talento dos jovens desponte há que definir uma estratégia e organização rigorosa na estrutura do futebol.
Esse planeamento passa pela escolha de um organigrama onde cada elemento saiba o lugar que ocupa e as tarefas que tem de desempenhar.
O treinador é peça chave. O perfil tem de corresponder à grandeza histórica de um clube como o Benfica. Saber dominar todas as áreas do treino e da táctica é factor decisivo, mas torna-se crucial referir o conceito ligado à gestão de recursos humanos. O treinador tem de ser um homem conhecedor do futebol, mas também da personalidade de cada jogador que lidera.
Obrigado pelas palavras finais. Elevam-me o ego, mas funcionam como um incentivo para transmitir ainda mais qualidade a este espaço.

Caro dissidentex,

Sabemos que o Benfica é um clube de paixões. A sua dimensão, assente numa franja de adeptos numerosos, implica que a curiosidade da imprensa é feroz. Neste sentido, o Benfica é (sempre) notícia.
Também creio que nesse aspecto há espaço para melhorar. A começar pela postura comunicacional da direcção encarnada, pois há que definir regras mais rígidas no contacto com a imprensa. Não é suportável que a pressão pública interfira com a harmonia do balneário e o futuro treinador terá influência vital, na forma como motiva para o interior e faz passar a mensagem para o exterior. Aos jogadores, resta bom senso e respeito pela hierarquia.

Caro José Marinho,

Antes de mais, agradeço a visita e o comentário. O seu contributo para esta discussão é elucidativo: "A UEFA impõe uma quota mínima de jogadores formados nos clubes, igualmente com um mínimo de três anos de ligação ao clube".
Fui investigar os regulamentos da Uefa Champions League para 2007/08 (presente época) e já existem regras claras quanto ao preenchimento das listas de jogadores a enviar pelos clubes.
Leia-se a partir da pág. 22: http://pt.uefa.com/newsfiles/19071.pdf

Para terminar, obrigado pelos comentários até agora efectuados.

Carlos Calaveiras disse...

Ora viva:
Não posso estar mais de acordo com este post.

Está na altura do Benfica se deixar de lírismos e loucuras.

É fundamental respeitar o passado glorioso e nunca o deixar esquecer mas, por outro lado, há que começar de uma vez por todas a pensar o futuro do clube.

"Glorioso" não pode ser só uma alcunha do Benfica que vemos na RTP Memória.

O Benfica tem que voltar às vítórias de forma sustentada, com jogadores portugueses, com jogadores da formação, com jogadores estrangeiros indiscutíveis.

Não sei se isso pode ser já para a próxima época (duvido muito) mas espero, pelo menos, perceber o rumo (um rumo) do clube.

É bom não esquecer o trabalho fundamental de Luís Filipe Vieira na recuperação financeira do Benfica - a gestão de Vale e Azevedo envergonha qualquer benfiquista - mas alguém tem que dizer ao actual presidente para ele não falar de futebol, não tratar de futebol, deixar o futebol a quem percebe.

Já parece não haver dúvidas que vai ser Rui Costa a assumir a direcção desportiva do clube.

Dando de barato que é a decisão correcta (tenho algumas dúvidas pelo facto da "transferência" ser directa do relvado para o gabinete, mas...), é preciso que ele se rodeie de um "núcleo duro" de gente experiente e competente.

A aposta nos jovens da casa é importante, desde que haja qualidade, mas o fundamental é acabar com os "descarregamentos" de jogadores novos todos os anos.