Depois de uma espera de 44 anos, a Espanha voltou a conquistar o Campeonato da Europa, ao bater na final do UEFA EURO 2008™ a Alemanha, por 1-0, no Ernst-Happel-Stadion. Fernando Torres foi o herói dos espanhóis, ao apontar, ainda na primeira parte, o golo solitário da partida.
Onze titular
No início da prova, Luis Aragonés tinha desenhado um 4x4x2 que apostava no seguinte: (i) versatilidade de movimentos de dois avançados (diferente do conceito puro de ponta-de-lança), (ii) dinamismo de três homens de segunda linha, com e sem bola; (iii) critério posicional transmitido pelo melhor pivot do torneio, e (iv) capacidade de antecipação de um quarteto defensivo, comandado pelo enorme Iker Casillas.
Após a lesão de David Villa, a equipa espanhola estendeu-se num 4x1x4x1, mas os princípios de jogo mantiveram-se intactos e a ideia principal – leia-se filosofia colectiva – nunca foi posta em causa. Inclusive, a entrada de Cesc Fabregas revelou-se crucial no prolongamento da identidade espanhola. Venceu, sem margem para dúvidas, a prática do bom futebol.
Razões para uma Espanha triunfante
Os principais motivos são publicamente conhecidos: concentração competitiva, rigor nos movimentos de transição, qualidade na posse e na circulação de bola. Em suma, poderia enumerar aspectos ligados à condição física, enaltecer a força mental e elogiar os atributos técnicos. Prefiro, no entanto, centrar-me na questão táctica.
Na sua coluna semanal, Rodrigo Azevedo Leitão escreve o seguinte: "Verticalmente, ao analisarmos o campo de jogo notaremos que quanto menor o número de linhas que orientam a lógica de uma equipe, maior o espaço vertical descoberto presente no campo. Por outro lado, ao analisarmos a distribuição horizontal, notaremos que o número menor de linhas faz com que elas possam ficar mais longas, o que em largura pode promover uma melhor ocupação do espaço do jogo"..."Por fim, o mais importante é que haja entendimento da complexidade, variáveis e nuances que a plataforma de jogo e o número de linhas podem trazer para o cumprimento efetivo de um modelo de jogo".
Esta abordagem sobre o número de linhas, com influência directa no tipo de pressão (vertical vs horizontal), abre espaço para uma análise gráfica bem curiosa.
Cenário 1: Fase de Grupos (D) e ¼ de Final
N.º linhas = 4 (4 defesas, 1 pivot defensivo – Marcos Senna – um trio criativo e 2 avançados)
N.º golos marcados = 4+2+2 = 8
N.º golos sofridos = 0+1+1 = 2
O jogo frente à Itália não é considerado, pois foi resolvido no desempate por pontapés de grande penalidade.
Pressão em profundidade, meio-campo em 1x3x(2 avançados)
Cenário 2: ½ de Final (após saída de Villa) e Final
N.º linhas = 4 (4 defesas, 1 pivot defensivo – Marcos Senna – um quarteto criativo e 1 avançado)
N.º golos marcados = 3+1 = 4
N.º golos sofridos = 0+0 = 0
Pressão em largura, meio-campo em 1x4x(1 avançado)
Este tema poderia levar a um debate de várias horas. Porém, uma coisa é certa: depois da vitória da Espanha servir de referência, em termos futuros, será previsível que, cada vez mais, o 4x4x2 e o 4x3x3 se transformem em 4x5x1. Quais as principais consequências?
No 4x3x3, será improvável a coexistência de dois extremos puros e, porventura, tentar-se-á privilegiar a utilização de médios-ala que saibam recuar e ocupar espaços defensivos.
No 4x4x2, o avançado móvel (dito n.º 9.5) poderá ser substituído por um jogador com características de n.º 10, que pense como médio e tenha o rigor táctico para ser o 5.º elemento do meio-campo.
Obviamente, uma suposta preponderância do 4x5x1 não passa de uma discussão teórica e cada caso (clube, realidade nacional) deve ser estudado separadamente.
Também Luís Freitas Lobo, através do seu artigo de opinião no jornal "Expresso", tece considerações pertinentes: "Por fim, o futebol espanhol cria um estilo para a sua selecção. Desenha-o a partir do meio-campo, onde os jogos se fazem por merecer, e tem, depois, também quem o decida já mais perto da área, com Villa e Torres. O Euro 2008 não inovou em termos tácticos, nem isso parece mais possível, mas fica para a história como o torneio-berço de um novo estilo para o futebol espanhol".
A grande vantagem de Espanha foi conhecer-se a si mesmo, sabendo adaptar-se às circunstâncias de cada desafio. Quer inicialmente em 4x4x2, quer mais tarde em 4x5x1, os campeões europeus mostraram argumentos na vertente táctica e criatividade suficiente para explanar as qualidades técnicas individuais.
Onze titular
No início da prova, Luis Aragonés tinha desenhado um 4x4x2 que apostava no seguinte: (i) versatilidade de movimentos de dois avançados (diferente do conceito puro de ponta-de-lança), (ii) dinamismo de três homens de segunda linha, com e sem bola; (iii) critério posicional transmitido pelo melhor pivot do torneio, e (iv) capacidade de antecipação de um quarteto defensivo, comandado pelo enorme Iker Casillas.
Após a lesão de David Villa, a equipa espanhola estendeu-se num 4x1x4x1, mas os princípios de jogo mantiveram-se intactos e a ideia principal – leia-se filosofia colectiva – nunca foi posta em causa. Inclusive, a entrada de Cesc Fabregas revelou-se crucial no prolongamento da identidade espanhola. Venceu, sem margem para dúvidas, a prática do bom futebol.
Razões para uma Espanha triunfante
Os principais motivos são publicamente conhecidos: concentração competitiva, rigor nos movimentos de transição, qualidade na posse e na circulação de bola. Em suma, poderia enumerar aspectos ligados à condição física, enaltecer a força mental e elogiar os atributos técnicos. Prefiro, no entanto, centrar-me na questão táctica.
Na sua coluna semanal, Rodrigo Azevedo Leitão escreve o seguinte: "Verticalmente, ao analisarmos o campo de jogo notaremos que quanto menor o número de linhas que orientam a lógica de uma equipe, maior o espaço vertical descoberto presente no campo. Por outro lado, ao analisarmos a distribuição horizontal, notaremos que o número menor de linhas faz com que elas possam ficar mais longas, o que em largura pode promover uma melhor ocupação do espaço do jogo"..."Por fim, o mais importante é que haja entendimento da complexidade, variáveis e nuances que a plataforma de jogo e o número de linhas podem trazer para o cumprimento efetivo de um modelo de jogo".
Esta abordagem sobre o número de linhas, com influência directa no tipo de pressão (vertical vs horizontal), abre espaço para uma análise gráfica bem curiosa.
Cenário 1: Fase de Grupos (D) e ¼ de Final
N.º linhas = 4 (4 defesas, 1 pivot defensivo – Marcos Senna – um trio criativo e 2 avançados)
N.º golos marcados = 4+2+2 = 8
N.º golos sofridos = 0+1+1 = 2
O jogo frente à Itália não é considerado, pois foi resolvido no desempate por pontapés de grande penalidade.
Pressão em profundidade, meio-campo em 1x3x(2 avançados)
Cenário 2: ½ de Final (após saída de Villa) e Final
N.º linhas = 4 (4 defesas, 1 pivot defensivo – Marcos Senna – um quarteto criativo e 1 avançado)
N.º golos marcados = 3+1 = 4
N.º golos sofridos = 0+0 = 0
Pressão em largura, meio-campo em 1x4x(1 avançado)
Este tema poderia levar a um debate de várias horas. Porém, uma coisa é certa: depois da vitória da Espanha servir de referência, em termos futuros, será previsível que, cada vez mais, o 4x4x2 e o 4x3x3 se transformem em 4x5x1. Quais as principais consequências?
No 4x3x3, será improvável a coexistência de dois extremos puros e, porventura, tentar-se-á privilegiar a utilização de médios-ala que saibam recuar e ocupar espaços defensivos.
No 4x4x2, o avançado móvel (dito n.º 9.5) poderá ser substituído por um jogador com características de n.º 10, que pense como médio e tenha o rigor táctico para ser o 5.º elemento do meio-campo.
Obviamente, uma suposta preponderância do 4x5x1 não passa de uma discussão teórica e cada caso (clube, realidade nacional) deve ser estudado separadamente.
Também Luís Freitas Lobo, através do seu artigo de opinião no jornal "Expresso", tece considerações pertinentes: "Por fim, o futebol espanhol cria um estilo para a sua selecção. Desenha-o a partir do meio-campo, onde os jogos se fazem por merecer, e tem, depois, também quem o decida já mais perto da área, com Villa e Torres. O Euro 2008 não inovou em termos tácticos, nem isso parece mais possível, mas fica para a história como o torneio-berço de um novo estilo para o futebol espanhol".
A grande vantagem de Espanha foi conhecer-se a si mesmo, sabendo adaptar-se às circunstâncias de cada desafio. Quer inicialmente em 4x4x2, quer mais tarde em 4x5x1, os campeões europeus mostraram argumentos na vertente táctica e criatividade suficiente para explanar as qualidades técnicas individuais.
1 comentário:
Acrescentaria também e a outro nível o facto de a Espanha ter um treinador, ao contrário do que sucedeu, sei lá... com Portugal...?
Para lá do estilo próprio que encontraram, também se notou que trabalharam a equipa como uma equipa deve ser trabalhada, maximizando os pontos fortes e minimizando os pontos fracos.
Depois, a qualidade individual, que era muita veio ao de cima conjugada com o trabalho, a táctica e a técnica.
Para Portugal deveria servir de Benchmark o que a Espanha fez, mas apenas vai servir para nada.
Ainda por cima a Espanha é uma equipa muito nova, e não é de não se pensar que esta selecção não possa ganhar um campeonato do mundo.
Em Portugal fazem-se estágios com jogos de treino assistidos por 12 mil pessoas.
Serei só eu que vejo a diferença de o que um país faz para outro?
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