sábado, 6 de novembro de 2010

[Antevisão] FC Porto: SL Benfica: Onze titular encarnado

Dei por mim a pensar: que estará Jorge Jesus a fazer neste preciso momento? A esta hora, lembrei-me que poderia estar a acompanhar uma qualquer partida do brasileirão. Em busca de um 'novo' Ramires. Ou, pelo contrário, será que se encontra a ponderar qual o onze titular que irá subir ao 'dragão', respeitando a estratégia que melhor responda aos pontos fortes & fracos do adversário? Talvez. Porém, a ser verdade, não deve ser o único. Muito possivelmente, vários milhares de benfiquistas devem estar a cogitar sobre o mesmo tema. Exercício teórico sempre muito curioso. Então, indo directamente ao assunto, aqui vai a minha aposta:

Roberto; Maxi Pereira, Luisão, David Luiz e Fábio Coentrão; Javi García; Carlos Martins, Pablo Aimar e César Peixoto; Javier Saviola e Alan Kardec (4-1-3-2).

A meu ver, esta seria a escolha que melhor serviria os interesses do Benfica. Curiosamente, estou convencido que o treinador encarnado irá decidir no mesmo sentido? Porquê? É o que irei sintetizar de seguida:

- Em primeiro lugar, por razão de ordem intrínseca. Por outras palavras, os princípios gerais inerentes ao modelo de jogo manter-se-iam intocáveis, nomeadamente as traves mestras inerentes ao sistema táctico que está implementado;

- Em segundo lugar, por motivo de carácter exógeno. Ou seja, as principais virtudes atacantes do rival directo (já lá iremos) implicam uma nuance estratégica na transição defensiva, embora sem cair na tentação de adaptações posicionais que desvirtuem o funcionamento do colectivo.

Por vezes, na abordagem inicial às partidas, os treinadores caem no erro primário de descaracterizar completamente a filosofia e identidade futebolística do clube que dirigem. O deslize conceptual está identificado: trata-se de reagir (tacticamente) em função dos estímulos ditados pelo adversário. Contudo, nem sempre a proactividade é boa conselheira: em determinadas situações (como a diferença pontual, o estado anímico do grupo ou o palco do jogo, por exemplo), sugere-se maior prudência nos minutos iniciais. Obviamente, não espero a presença de jogadores apáticos, mas gostaria de observar uma equipa na expectativa - as circunstâncias actuais recomendam alguma cautela. Pode não ser muito atractivo, mas nem sempre o melhor ataque é a melhor defesa. O momento não é de romantismos. A altura é de realismo táctico. Querem ver?

Football Fans Know Better

Recapitulando, um dos pontos fortes da equipa comandada por Villas-Boas prende-se com a organização ofensiva em posse: capacidade de explosão nos duelos 1v1 por parte dos extremos Hulk e Varela e entrada dos médios de 2.ª linha em zona de construção próxima da área contrária. A imagem de cima pretende retratar esse momento do jogo em que o FC Porto apresenta predicados. Na situação ilustrada, é Hulk que conduz a bola pela direita e, para além da opção individual, conta com soluções óbvias de passe curto para Belluschi e Falcao, enquanto os ex-sportinguistas Varela e João Moutinho interiorizam para o lado da bola. O exemplo serve, igualmente, para o corredor esquerdo, com dinâmicas e respostas semelhantes. Como deve o Benfica comportar-se face a este potencial movimento de perigo?

Na minha opinião, vários mecanismos de jogo devem estar formatados para responder aos estímulos e problemas criados pelo adversário. Em primeiro lugar, o desposicionamento para o lado da bola do triângulo defensivo formado pelos centrais e pelo pivot espanhol deve ser harmónico e suficiente de modo a que o espaço central não fique demasiado desguarnecido. Em segundo lugar, cabe a César Peixoto recuar para junto de Fábio Coentrão, de forma a impedir que Hulk possa desequilibrar no 1v1. Em consequência, David Luiz deve observar a hipótese do passe vertical para Falcao ou ficar atento à dobra na meia-esquerda e Javi García deve preencher a zona onde Belluschi pode realizar a aproximação. Em terceiro lugar, Maxi Pereira e Luisão devem precaver a diagonal (de fora para dentro) de Varela, enquanto Carlos Martins interioriza para junto de João Moutinho. Por fim, caso a posse de bola seja recuperada, as setas a tracejado espelham o papel fundamental de Carlos Martins, Pablo Aimar e Javier Saviola na busca de soluções práticas no momento de transição ofensiva.

No meu entender, face ao potencial demonstrado pelo FC Porto na organização ofensiva, a abordagem colectiva encarnada deve respeitar estes movimentos de marcação zonal e aproximação ao lado da bola. Senão, veja-se: (a) se o 2v1 sobre o avançado brasileiro for efectuado com David Luiz e Fábio Coentrão, Falcao pode aproveitar o espaço deixado no eixo central da defesa; (b) se o 2v1 sobre Hulk for efectuado através da aproximação de Javi García junto do internacional português, é Belluschi que pode usufruir do corredor central para criar desequilíbrios.

Deste modo, voltamos ao início do texto: só um 4x1x3x2 'mascarado' com uma grande dose de maleabilidade funcional pode contrariar um problema táctico que o FC Porto irá tentar repetir amiúde. Assim, com o onze titular apresentado, o modelo de jogo não perde a sua identidade futebolística, mas (sem bola) o sistema pode transfigurar-se num 4x3x1x2 mais apetrechado para o momento defensivo. Neste sentido, César Peixoto, na esquerda, ou Carlos Martins, na direita, são os únicos médios disponíveis com capacidade multifuncional para entenderem a mudança do jogo (questões posicionais) e integrarem-se em distintas compensações e tarefas, adaptando-se em função do adversário. Nem Nicolás Gaitán, nem Toto Salvio, por exemplo, têm essa capacidade de recuperação em função da posição da bola. Em relação a Airton, o seu contributo de pressão e intensidade competitiva pode ser útil ao colectivo numa fase mais adiantada da partida, dependendo das circunstâncias (desenrolar do marcador) da mesma.

Em suma, estou confiante com a 'matéria-prima' disponível porque a equipa tem recursos desportivos de qualidade para saber o que fazer com bola. A dúvida principal reside no momento em que a equipa tem de recuperar a sua posse. Nada a dizer em relação ao talento, porém alguma desconfiança e preocupação quanto à ordem da 'fábrica' táctica liderada por Jorge Jesus. Apesar de ser muito agradável assistir a gambetas, dribles e fulgor ofensivo, espero um Benfica maduro, isto é, consciente das forças do opositor e das suas próprias debilidades. Com atitude de campeão, sem dúvida, embora munido de elevadas doses de realismo táctico. Seria muito bonito ganhar, mas também é muito importante não perder.

Sem comentários: