sábado, 12 de abril de 2008

[bwin Liga 26.ª jornada] SL Benfica 0-3 Académica

Cheguei do Estádio da Luz, comi uma peça de fruta e, como não poderia deixar de ser, sentei-me em frente ao computador, a ler as mais diversas reacções à "catástrofe" desta noite.
Começo por afirmar que o momento mais triste não foi protagonizado por Miguel Pedro, Berger ou Luís Aguiar. Faltavam cerca de 10 minutos para o final quando vejo uma miúda, que deveria ter entre os 10 a 12 anos, levada pela mão de um Pai inconsolável. Quando passaram perto de mim, ouço a seguinte frase: "Pai, eu não disse que preferia ter ido ao McDonald's"?
Depois da exibição bem conseguida no Bessa, os adeptos compareceram em número bastante considerável. Na blogosfera identificada com o ideal encarnado, foram vários os pedidos para uma comparência em massa, quase como um chamamento à esperança que resta(va) até ao fim da temporada. Mais uma vez o público correspondeu. Mais uma vez saímos defraudados. Desanimados. Envergonhados.
A "Briosa" não vencia os encarnados como visitante desde a época 1953/54 mas igualou a pior derrota caseira de sempre das águias em jogos do campeonato nacional. Nem o mais faccioso adepto de capa e batina esperaria tal resultado. A realidade não podia ser mais irónica e cruel.
Quando relembro a desconfiança respeitante a Edcarlos, fico perplexo como aos 4 minutos Luisão consegue fazer o impensável: falha colossal num atraso de bola e o avançado da Académica a entrar na área encarnada e a abrir o marcador. Após o "filme de terror" realizado por Luisão, a restante sequência protagonizada pelo "girafa" e pelo seu colega Nélson, foi como se nas bancadas estivéssemos a assistir a uma trágico-comédia. Será que Luís Filipe, Edcarlos e Maxi Pereira fariam melhor? Quando a dúvida se coloca é porque o "filme" já acabou há muito e ficámos estáticos a olhar para um "pano negro".
Chegou a hora de uma intervenção mais pessoal. Depois do terceiro golo, pensei que havia ameça de bomba ou tinham raptado a águia Vitória. Vi um mar de gente a abandonar o Estádio mas, como sempre, fiquei até ao fim. Chamem-me masoquista. É certo que nos últimos 20 minutos já não falava com ninguém. Limitava-me a tapar as mãos, com frio, e a olhar para o relvado com aquele semblante de quem já viveu situações semelhantes, num passado não muito distante. O jogo teve 90+4 minutos, porque se tivesse prolongamento poderia ter vindo para casa com uma derrota de mão cheia.
Hoje, a "Catedral" estava repleta de famílias e crianças, talvez pelo facto dos menores de 18 anos não terem de pagar bilhete. Perto de mim, estavam novos e velhos, homens e mulheres. Eu tenho trinta e três anos, sou sócio há dezassete e hoje senti-me como um elemento de uma geração à parte. Por um lado, é visível o desencantamento no olhar daqueles que têm quarenta, cinquenta ou mais anos. Agitam-se nas bancadas. Barafustam. Mas, acabam por não resistir ao desgosto e terminam derrotados. Perderam a esperança. Por outro lado, é notória a resignação na cara daqueles que ainda lutam com o borbulhar da adolescência. Agitam-se nas bancadas, mas sem a paixão dos mais velhos. Barafustam, mas falta-lhes o espírito de vitórias e a presença da história. Entende-se o fenómeno quando olhamos para as estatísticas: um adepto do FC Porto com dezoito anos, já viu o seu clube campeão em doze ocasiões. Assim, compreende-se quem prefira ir ao McDonald's.
Não querendo generalizar, até porque o sentimento não escolhe idades, julgo que pertenço a uma geração que está no limiar de dois mundos. Da glória e do fracasso. Pertenço ao tempo em que o Benfica partilhava o domínio nacional com o FC Porto e dividia campeonatos. Pertenço a um tempo de dirigentes ainda competentes, de treinadores qualificados, de jogadores de classe. Porém, também fui observando o lado escuro da decadência, da quebra de hegemonia desportiva e do declínio financeiro. Não vivi o período dourado das conquistas europeias, mas senti as noites "infernais" do antigo Estádio da Luz. Talvez esteja na fronteira: já sou velho para saber decifrar o peso da história, mas ainda sou novo para não perder a esperança.
Esta noite, ao terminar o jogo, apeteceu-me um regresso ao passado. Lembrei-me de como há dez ou quinze anos atrás, este resultado teria consequências completamente diferentes. Desde logo, jogadores e dirigentes sentiriam a fúria de valentes milhares de adeptos que não arredariam pé tão cedo. Violência nunca, mas um clamor colectivo na hora certa faz milagres.
O futuro não se conquista com falinhas mansas, mas sim com o legítimo direito à indignação. Lembram-se do FC Porto antes de José Mourinho? Recordam-se dos cânticos utilizados? Essas frases de "joguem à bola, palhaços joguem à bola" e "são uma vergonha, vocês são uma vergonha", serviram, como gritos de união no balneário de um FC Porto que venceu a Taça Uefa e a Liga dos Campeões, nos anos seguintes.
Sou a favor de apoio incondicional durante 90 minutos, mas não consigo tolerar, de ânimo leve, exibições como a desta noite. Não há desculpas. Os jogadores mereceram todos os assobios e impropérios no final da partida e, se calhar, ainda ficou aquém. Neste sentido, durante toda a época desportiva, as claques fazem o seu trabalho fantástico de apoio e paixão por uma causa, mas são acéfalas e cegas na hora em que se devia abanar o status quo. Aquela ladainha no final do jogo é irritante. A atitude correcta, no momento certo não é uma forma de criticar o Benfica. É uma forma de ajudar a torná-lo mais forte, como forma de agitar mentalidades e promover a mudança.
Durante a semana, após a bela exibição no Bessa e, principalmente, derivado de acontecimentos ligados à arbitragem e aos casos de corrupção, desejei que o Estádio da Luz apresentasse uma moldura humana que fosse o espelho fiel da união e força benfiquista. Pela blogosfera pedia-se que o patamar dos 50.000 fosse ultrapassado. Os adeptos sempre responderam. A equipa é que nunca soube receber esse apoio. Não ganhámos ao FC Porto. Nem ao Sporting. Tampouco ao Braga. Nem ao Nacional. Idem para o V. Guimarães. Nem sequer ao Getafe. Na bwin Liga, perdemos dezoito pontos em casa. Hoje foi a gota de água. A paciência esgotou-se.
No próximo jogo, frente ao Belenenses, o meu pedido é diferente. Não vão ao Estádio. Fiquem em casa, a ver pela televisão ou escolham outro programa mais interessante, desde que não seja o McDonald's. A sério, não vão. Esqueçam a fasquia dos 50.000 ou prenúncios de casa cheia. O ideal mesmo seria uma lotação a rondar os níveis de Leiria. Vamos tentar contribuir para o fenómeno das bancadas vazias, como sinal de protesto. Talvez os jogadores não sintam a pressão da nossa presença.
Depois, frente ao V. Setúbal, esqueçam estas últimas linhas. Na despedida, o Rui Costa merece um estádio com 65.000 almas a cantar.

6 comentários:

Paulo Santos disse...

Companheiro de paixoões, partilho este momento contigo, também vim de lá, também ainda não consegui sair de frente do pc desde que cheguei.
Percebo cada linha do teu texto.
Não acho que a exibição tenha sido assim tão má, do ponto de vista colectivo. Esta época o Benfica já jogou pior (miseravelmente pior, mesmo) e ganhámos. O que esteve em causa foram erros individuais. As três jogadas de golo ficaram carimbadas por três erros individuais, qual deles o mais infantil...

Os últimos minutos, esses já foram do coração, da ansiedade e do desespero.
Contudo, em termos colectivos o futebol do Benfica melhorou substancialmente após a era "camacho", tal como tu próprio já reconheceste quando abordaste o jogo do Bessa, ao que eu acrescentaria o jogo na Luz frente ao Paços. A equipa, no processo ofensivo, já denota várias melhorias, movimentações e combinações, permanentes variações de flanco, apoio dos laterais nesses movimentos, por aí fora. A questão, é que não há milagres. Quinze dias, não podem apagar uma época inteira de equívocos. Chalana resgatou um sistema que foi trabalhado com sucesso durante uma época inteira, sustentando-se nele como a base para trabalhar a organização ofensiva, mas apenas essa, quando uma equipa, como nós sabemos, actualmente, se deve começar a trabalhar a partir de trás (da organização defensiva). Não o critico, o tempo é escasso e o Benfica precisa de ganhar jogos se quiser salvar esta medonha época. O problema é que desta forma, a equipa expõe-se ao risco. A transição defensiva não está minimanente trabalhada e jogando contra equipas que exploram o contra-ataque e o erro, poderia dar nisto. E deu!

Agora, a única coisa que espero é que LFV assuma a sua responsabilidade nesta triste época, e que nos assegure que a próxima época já está a ser planeada. Já tem que haver um treinador contratado, neste momento a trabalhar nos vários aspectos que têm que ser trabalhados, desde a constituição do plantel, etc etc.

É o mínimo que espero, enquanto sócio.

Grande abraço.

Velho Estilo disse...

Com tantos textos exemplificativos de paixão exacerbada pelo Benfica será que nós (e perdoem-me a presunção..) não conseguimos fazer nada para tirar o Benfica desta espiral?

A sensação da época do 6º lugar está tão presente...

Parabéns pelo texto.

Jorge Diogo disse...

Mais uma vez, continuo a dizer o que vejo neste campeonato mal jogado por vários clubes entre eles o vosso,a vergonha, é o que eu vejo nas vossas caras embora desfarçadas pelas derrotas de outros concorrentes directos.
Mencionei no texto antes a minha previsão([bwin Liga] Lugar de acesso directo à Champions League), e agora está completamente certa, isto para dizer que mesmo com milhões gastos pela vossa direção não chega para os objectivos, 9 milhões por Cardozo, isto dá para rir.
Agora vão ter mais 2 derrotas uma para a taça e outra para a Bwin no Dragão.
Não ir ao estádio não é solução para não serem gozados.
Briosa ALLEZ.

Catenaccio disse...

Paulo Santos,

Agradeço o comentário exaustivo e bem escrito. Uma apreciação mais a frio, mas ainda assim realista. Já faziam falta as tuas visitas a este espaço.

Velho Estilo,

Agradeço a visita. Penso que estamos na mesma onda. Passei pelo teu blogue e concordo que ontem devia ser noite de "Carnaval". Venham de lá os tempos à Benfica!

Caro amigo Jorge Diogo,

Para si digo, apenas, o seguinte:

Sporting campeão - época 2001/02

Anos de "jejum" (contando com a presente temporada) = 6

Campeonatos:

SLB = 31
FCP = 23
SCP = 18

Claramente o 3. grande em Portugal. É escusado perder tempo com mais.

Cumprimentos.

Jorge Diogo disse...

Amigo Ricardo, eu sei que o canal história vem sempre aos dias de hoje, mas digo que se atualize.
Pois é uma verdade que estou a ser ultrapassado pelos tripeiros, mas também é verdade que eles estão a chegar perto de voçês a nivel nacional, porque já passaram a nível internacional.
Quanto ao 2º lugar e 3º este ano só mesmo em somhos.

apenasfutebol disse...

Ricardo, Tenho cá vindo sempre visitar. Não tenho comentado porque não tenho tido muito tempo.

Mas o Catenaccio nunca deixou de ser uma visita obrigatória para mim.

Abraço