A justiça tarda, mas não falha.
Sinceramente, pouco me importa que ganhe força a hipótese do Benfica ir disputar a pré-eliminatória da Liga dos Campeões. O meu regozijo deriva do facto de observar o mais que provável fim de um clima de impunidade, baseado num discurso arrogante e numa prática virada para o confronto institucional e pessoal.
Façam um slow rewind à memória. Lembram-se, concerteza, de anos e anos povoados de inúmeros casos que foram provocando desconfiança quanto à idoneidade dos senhores vestidos de azul. São mais de duas décadas recheadas de arbitragens vergonhosas. Se, no passado, a incerteza sobre actos de corrupção era palco de conversa de bastidores, e nunca assumida pelos agentes do futebol, o dia 4 de Junho fica assinalado como a decisão que quebra com toda a hipocrisia do passado.
O epílogo da organização europeia só vem comprovar que os nossos olhos viram um filme que não orgulha a verdade desportiva. Não falo da conhecida obra de João Botelho. Falo da longa metragem assente na liderança do senhor Jorge Nuno Pinto da Costa: de Calheiros e agência Cosmos, de viagens ao Brasil e café com leite, de figuras como o guarda Abel e de salada de frutas. Muitos iluminados da nossa praça faziam questão de colocar óculos de tonalidade azulada e as sequelas da vergonha sobrepunham-se umas a seguir às outras. Todos conheciam o título do filme - sistema - mas, a bobine rodava e rodava sem parar. Nunca mais se vislumbrava o fim da história.
A justiça tarda, mas não falha. Aconteça o que acontecer daqui para a frente, respira-se um ar mais puro. Hoje é um dia diferente. É o dia em que os Miguéis Sousas Tavares de Portugal metem as mãos nos bolsos e coram de vergonha enquanto, de cabeça baixa, percorrem um caminho repleto de lodo que eles mesmo fizeram questão de construir.
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