terça-feira, 17 de junho de 2008

[Euro'2008] Antevisão 1/4: Portugal - Alemanha

Tal como se esperava, Portugal e Alemanha vão medir forças nos quartos-de-final do Europeu, na quinta-feira, em Basileia (19.45 h). Um confronto antecipado, porque inicialmente previsto para as meias-finais, não fosse a derrota germânica frente à Croácia, na segunda jornada do Grupo B.

Como vai jogar Portugal?

À partida, Scolari não deve apresentar nenhuma surpresa e será esta a equipa titular. Existe sempre a possibilidade de Fernando Meira ser chamado e não deixa de ser verdade o facto de Nani ter deixado boas indicações. De qualquer forma, não creio que o seleccionador altere a confiança nos atletas que iniciaram o Euro’2008. A questão principal está centrada numa "nuance" estratégica. O que será preferível? Colocar Cristiano Ronaldo à esquerda, de forma a Simão proteger as subidas de Lahm? Encostar o prodígio português ao flanco direito, de maneira a aproveitar a menor vocação defensiva dos germânicos nesse espaço?

Como vai jogar a Alemanha?

A imagem retrata o onze escolhido por Joaquim Low, isto após um triunfo por 1-0 sobre a Áustria ter assegurado à "Mannschaft" o segundo lugar do Grupo B, atrás da Croácia. Confesso que tenho imensa curiosidade sobre qual a opção do selecionador alemão. Será que vai manter esta equipa, mantendo a confiança em Mario Gómez e arriscando com a colocação de Lukas Podolski à esquerda? Ou, pelo contrário, abdica das suas convicções e, numa decisão de respeito para com a selecção portuguesa, opta por fazer regressar Bastian Schweinsteiger à equipa titular?

O que Portugal mais deve temer?

Luís Freitas Lobo costuma afirmar que uma boa equipa não existe sem um meio-campo forte, quer em terrenos de recuperação, quer em zonas de construção. Não há como deixar de concordar. Todavia, sem colocar de parte a ideia colectiva do modelo de jogo, e para além dos duelos individuais no centro do campo (Petit vs Michael Ballack; Deco vs Torsten Frings), a "chave" do jogo pode estar nas faixas laterais.
A imagem acima representada ilustra um dos movimentos que requer mais atenção por parte da selecção nacional: Lukas Podolski flecte para zonas interiores, abrindo espaço à subida de Philipp Lahm, enquanto Michael Ballack queima linhas e Miroslav Klose (ou Mario Gómez) cai na faixa. Com a defesa contrária desposicionada, Lukas Podolski aparece em zona de finalização, fazendo uso certeiro do seu óptimo pé esquerdo.
Este cenário só faz sentido no caso de Joaquim Low manter a estrutura habitual. Muito provavelmente, será Bastian Schweinsteiger a fazer o papel de médio ala, substituindo o melhor marcador alemão no corredor esquerdo e em detrimento da menor inspiração chamada Mario Gómez.
Também é prevísivel que Cristiano Ronaldo e Simão, no decorrer da partida, troquem de flancos. No entanto, os primeiros minutos vão mostrar o verdadeiro Portugal. Se Simão aparecer na direita, cobrindo as subidas de Lahm, será um sinal de claro respeito pela selecção alemã. Se, pelo contrário, for Cristiano Ronaldo a pisar o lado destro, será uma aposta com o intuito de aproveitar o maior balanceamento ofensivo do lateral alemão.
Estou convicto que os desequilíbrios vão-se tornar mais visíveis quando a bola chegar perto de ambos os flancos. Portugal pode explorar a velocidade de Bosingwa. A Alemanha pode potenciar o dinamismo de Philipp Lahm. Portugal tem um ala mais rigoroso do ponto de vista táctico, Simão. A Alemanha conta com a disponibilidade de Clemens Fritz. Portugal tem Cristiano Ronaldo do seu lado. A Alemanha dispõe, como se viu, da mobilidade de Lukas Podolski. Quem vencer esta batalha (estratégica), ganhará o jogo. Amanhã, ficaremos a saber.

Fonte: Imagens retiradas da "Marca" online.

4 comentários:

Bruno Pinto disse...

Portugal actua normalmente em 4-3-3 e a Alemanha em 4-4-2 clássico. Não havendo razões para acreditar em mudanças, à partida, não se verificará um encaixe táctico, daí que a sagacidade dos treinadores possa assumir um papel fundamental. A distância entre Portugal realizar um bom jogo e passar por dificuldades, poderá estar numa simples opção central de Scolari: João Moutinho ou Fernando Meira? Se optar pelo médio do Sporting estará a dar uma prova de personalidade, mantendo o estilo de jogo e a identidade da própria equipa que comanda. Se, pelo contrário, escolher Meira, mostrará receio, alterando os princípios básicos da equipa, para se adaptar à turma alemã.

Oxalá esteja enganado, mas estou com a sensação que o brasileiro talvez escale um meio-campo composto por Meira, Petit e Deco. Se assim for, erro do tamanho do mundo. Scolari desvirtuaria a nossa equipa, para se moldar aos alemães, não estando disposto a correr quaisquer riscos, pelo menos na sua cabeça. Pois para mim, este é o grande risco de ficarmos pelo caminho. Uma opção destas significaria debilitar o meio-campo, perdendo capacidade de posse e de passe, seria uma escolha deliberada em actuar com o bloco mais baixo, deixando os homens da frente menos apoiados, forçando-os a acções individuais e potencialmente mais inconsequentes. Tudo para não ter de jogar lá atrás em igualdade numérica, com Pepe e Carvalho para Klose e Podolski. Neste caso, Meira encostar-se-ía mais aos centrais, ficando um a sobrar. O meio-campo ficaria entregue a Petit e Deco que teriam pela frente Frings e Ballack. As equipas ficariam então mais encaixadas, ganhando relevo os duelos individuais, as parelhas formadas nas diversas posições pelos jogadores de ambas as equipas.

Mantendo Moutinho como titular (mesmo podendo trocar simplesmente Petit por Meira, algo que até compreenderia), assumindo o risco de jogar em igualdade numérica no sector defensivo, a selecção poderia gozar de superioridade numérica no miolo, com Moutinho e Deco a assegurar supremacia nas trocas de bola e mantendo os homens da frente bem mais suportados. A ligação entre sectores seria, desta forma, bem maior. Não existindo o tal encaixe táctico, existiria a primazia das dinâmicas colectivas sobre os duelos individuais. Confiando na qualidade dos centrais lusos para jogar 2 para 2, o elemento a mais no centro do terreno poderia ser a chave do jogo, pois constituíria uma forma de Portugal poder actuar em posse, controlar o jogo, manter a bola no meio-campo adversário e jogar mais perto da baliza contrária. Claro que isto exigiria muita atenção na transição defensiva, uma vez que seria de prever que a Alemanha se 'especializasse' no contra-ataque.

Ou seja, torço veementemente para que Scolari não se acovarde, confie na qualidade dos jogadores que tem à disposição e mostre, sem reservas, que quer ser campeão europeu. O meio-campo só tem de ser Petit (ou Meira), Moutinho e Deco. Sem invenções. Neste caso, à superioridade numérica alemã na defesa, responderia Portugal com superioridade numérica no meio-campo, numa opção arrojada mas racional. O jogo português tem de se basear nos nossos pontos mais fortes. Se somos mais talentosos e melhores tecnicamente, o nosso jogo tem de cultivar a posse de bola e não o confronto físico. Isto não me parece possível com Meira e Petit ao mesmo tempo. Adicionalmente, se Simão (e não Ronaldo) se mantiver atento às subidas de Lahm, se Bosingwa conseguir secar Schweinsteiger, e se Petit cobrir a sua zona de forma correcta, não deixando Ballack lá penetrar, ora para rematar ora para assistir, podemos sonhar com as meias-finais. Portugal tem melhores jogadores e tem tudo para vencer a Alemanha. Veremos o que Scolari pensa disso...

Equipa provável da Alemanha (4-4-2 clássico): Lehmann; Friedrich, Mertesacker, Metzelder, Lahm; Fritz, Frings, Ballack, Schweinsteiger; Klose, Podolski.
Equipa de Portugal para ganhar à Alemanha (4-3-3): Ricardo; Bosingwa, Pepe, Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira; Petit, João Moutinho, Deco; Simão, Nuno Gomes, Cristiano Ronaldo.

Cumprimentos

Catenaccio disse...

Bruno,

Excelente contributo para a antevisão do jogo. Ponto de vista bem escrito e superiormente fundamentado. Muito pertinente essa questão do meio-campo português. Com Meira? Com Meira, Petit e sem João Moutinho? Concordo com a explicação que disponibilizaste.

Já agora, acrescentaria o seguinte:

1 - Sabendo que o lado esquerdo alemão será mais ofensivo (mesmo com Schweinsteiger e Podolski como avançado centro), é natural que P. Ferreira faça um movimento de aproximação aos centrais. Ficaria garantido, de certa forma, a superioridade numérica, face aos dois pontas-de-lança alemães;

2 - Sendo natural que P. Ferreira raramente ultrapasse a linha de meio-campo, Fritz não sentirá tanta necessidade de marcação às subidas do lateral. Desta forma, é previsível que jogue no apoio aos dois médios (Ballack e Frings), interiorizando a sua zona de acção. Provavelmente, seria uma forma da Alemanha dar mais consistência à zona central.

Uma coisa é certa. Vai ser uma partida muito interessante de seguir, não só em termos emocionais (obviamente), mas olhando para os aspectos tácticos e estratégicos.
Não esquecer que a inteligência dos jogadores em decidir bem vai ser fundamental, quer na questão da posse de bola (descobrir linhas de passe, aproveitar os espaços), quer na importância dedicada ao rigor posicional.
Mais do que o desenho no papel, a dinâmica é que vai decisiva.

Abraço.

César disse...

Gosto muito deste blog. Mas é minha opinião que o triângulo de meio campo, na selecção, é ao contrário do grafismo.

Catenaccio disse...

Olá César,

Esqueci-me de mencionar: as imagens foram retiradas da "Marca" online. Só na última é que fiz uma ligeira montagem, de forma a elucidar o perigo da movimentação de Podolski.

Eu percebo a chamada de atenção. No fundo, a imagem representa um 4x2x3x1, com duplo pivot defensivo. Na tua opinião, Portugal joga em 4x3x3, com Petit na posição do chamado trinco e João Moutinho mais a par de Deco.

Penso que ambas as ideias estão correctas, porque o desenho ilustra a posição fixa dos jogadores. Sendo certo que Petit é um n.º 6 mais posicional e Deco assume as despesas de criação típicas de um n.º 10, João Moutinho é o homem das transições. Aquilo a que denominamos de um n.º 8. No meu entender, dependendo da posição onde está a bola (e os adversários), o esquema tanto é um 4x2x3x1, como um 4x3x3.

Abraço e volta sempre.