quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

4x4x2 clássico em vias de extinção?

Luís Freitas Lobo escreve hoje, no jornal 'A Bola' sobre o posicionamento de Ruben Amorim na lateral direita do meio-campo encarnado. Aqui fica um breve excerto que resume o essencial:

"Nesse caso então este tipo de sistemas (o 4x4x2 clássico) só funciona no processo construtivo com pelo menos um médio-centro de grande categoria, no pulmão, na técnica e na táctica. Ruben Amorim não é, naturalmente, um caso desses na sua máxima expressão, mas, no actual Benfica, não vejo outro jogador capaz de fazer essa missão."

O enquadramento do duplo pivot defensivo leva-nos à seguinte questão: encontra-se o 4x4x2 clássico em vias de extinção? Um bom exemplo será averiguar sobre os sistemas tácticos utilizados pelos dezasseis participantes nos oitavos-de-final da Champions League. Para bom termo de comparação, nada como analisar os predicados dos principais 'tubarões' europeus. Seguem, por ordem alfabética (esquema alternativo entre parêntesis):

Arsenal4x4x2 clássico (4x5x1)
Atlético de Madrid – 4x1x4x1
Barcelona – 4x3x3
Bayern de Munique – 4x4x2 clássico
Chelsea – 4x3x3 (4x1x4x1)
FC Porto – 4x3x3
Inter de Milão – 4x3x3
Juventus4x4x2 clássico (4x4x1x1)
Liverpool – 4x2x3x1 (4x5x1)
Lyon – 4x3x3
Manchester United4x4x2 clássico (4x4x1x1)
Panathinaikos – 4x3x2x1
Real de Madrid – 4x2x3x1
Roma – 4x2x3x1
Sporting – 4x4x2 losango
Villarreal4x4x2 clássico (4x4x1x1)

Como se pode comprovar, o sistema implementado por Quique Flores, no Benfica, tem a companhia de alguns emblemas de elevada dimensão. Ainda assim, dentro dos exemplos descritos, o 4x4x2 clássico, apesar de ser o desenho preferencial, sofre a concorrência de um plano B, consoante as circunstâncias do adversário. O caso mais representativo, daquilo que estamos a tratar, localiza-se em Munique. Com efeito, o 'gigante' alemão podia representar um óptimo modelo, não para Quique Flores imitar, mas para retirar ensinamentos. Vejamos o onze titular que venceu, por 3-2, o Olympique de Lyon no seu próprio reduto:

GR Michael Rensing
DD Massimo Oddo
DC Van Buyten
DC Martin Demichelis
DE Philipp Lahm
MD Schweinsteiger
MC Mark Van Bommel ©
MC Tim Borowski (Zé Roberto)
ME Franck Ribéry
AV Luca Toni
AV Miroslav Klose

A dupla constituída por Van Bommel e Borowski, ou Zé Roberto, preenche os requisitos contemplados por Luís Freitas Lobo: pulmão, técnica (mais o brasileiro) e táctica. Pelo facto do sistema basear-se em três linhas horizontais, exige-se que os homens do centro do terreno acompanhem os movimentos de transição e funcionem como elo de ligação entre os diferentes sectores. Esse vaivém constante é suportado pela enorme capacidade atlética dos seus intépretes: Van Bommel (187cm e 84kg), Borowski (194cm e 84kg) e, em menor expressão, Zé Roberto (172 cm e 71kg).

No Benfica, várias sociedades foram testadas. Entre as mais utilizadas, evidenciam-se: Yebda - Carlos Martins, Katsouranis – Yebda e Bynia – Katsouranis. Enquanto o português brilha pela técnica, o franco-argelino dá nas vistas pelo vigor nas tarefas de pressão e recuperação. Por sua vez, Bynia é aquele que, porventura, apresenta menos recursos futebolísticos e, sem grande contestação, Katsouranis é o mais completo nos vários domínios de jogo. Sobre este tema, chamo a atenção para o brilhante texto publicado no 'Entre Dez'.

Chegados a este ponto, deveria Quique Flores seguir a recomendação de Luís Freitas Lobo e experimentar uma dupla constituída por Katsouranis e Ruben Amorim? Penso que sim, nomeadamente nas partidas em que o Benfica 'manda' no jogo e o adversário privilegia o processo defensivo. Seria interessante observar o futebol da equipa, em termos de dinâmica, posse e circulação de bola, deixando o grego mais posicional, como um típico n.º 6, e o português mais liberto para acções de condução, vestindo a camisola do denominado n.º 8. Contudo, há sempre um mas. Em distintas circunstâncias - condições meteorológicas, qualidade do oponente e desenrolar do marcador - Yebda apresenta argumentos bastante válidos. Quique Flores tem a palavra. De qualquer forma, caso seja possível, não percam a ocasião de seguir uma partida do Bayern de Munique. Depois, descubram as diferenças.

5 comentários:

Ricardo disse...

Mais uma excelente análise.

Confesso que nunca tinha feito essa análise de quantas equipas do top europeu jogam no mesmo 442 clássico que nós e a conclusão é algo surpreendente.

Ainda assim, considero-o um modelo algo manco e que só pode funcionar se:

- tiver grandes jogadores que o interpretem na perfeição;
- as posições que, no papel, são estanques, possam fazer evoluir os jogadores para outras posições ao longo do jogo e consoante as necessidades do mesmo, ou seja, dinamizem os jogadores para ocuparem espaços que, no papel, não ocupam, criando mais linhas do que aquelas que o modelo rígido apresenta (o mesmo será dizer que já não seria um 442 clássico).

Hei-de estar mais atento ao Bayern, de qualquer forma.

Abraço!

Paulo Santos disse...

Sou daqueles que acredita que todos os sistemas são bons, desde que bem assimilados e interpretados. No entanto, confesso que o 4-4-2 clássico não é daqueles sistemas que goste muito...

No entanto, relativamente ao Benfica, independentemente do desenho, gostava de ver Amorim no centro, sem dúvida. E como para mim, independentemente do desenho táctico, e até de todos os factores possíveis e imaginários, Katsouranis teria que ser sempre titular, subscrevo Freitas Lobo nesse particular.

Ricardo, só uma questão. O Atlético Madrid, do que tenho visto, também faz parte do lote do 4-4-2 clássico. E o Inter está a passar para o 4-4-2 losango. O Inter tenho seguido com particular atenção, falhei poucos jogos até ao momento.


Grande abraço

Catenaccio disse...

Ricardo,

O primeiro requisito é, porventura, o mais importante. O Liverpool, por exemplo, pode jogar neste sistema porque quem conta com um jogador como Gerrard pode-se dar a esse luxo. Obviamente, há outros exemplos, onde é possível enaltecer as virtudes de um box-to-box de grandíssima qualidade.

Quanto às posições, é natural que estejamos a considerar o desenho 'no papel', ou seja, na prática, a bola e a movimentação dos jogadores vai fazer com que as três linhas horizontais ganhem maleabilidade, nunca ficando os jogadores completamente de perfil. Assim, resulta claro que um dos médios centro ficará sempre mais posicional, da mesma forma que um dos avançados será ligeiramente mais fixo.

Paulo,

Trata-se de uma verdade inquestionável. Todos os sistemas podem resultar, desde que bem assimilados e interpretados. Alguns, podem é demorar mais tempo a serem implementados, mas qualquer desenho táctico tem as suas vantagens e desvantagens. Um dos exemplos tem a ver com o 3x4x3, típico da escola holandesa.

Sim, o Atlético de Madrid costuma variar entre o 4x4x2 clássico, o 4x2x3x1 e, também, o 4x1x4x1. Convém referir que a minha pesquisa centrou-se na abordagem táctica tendo em conta o universo Champions League. Por outras palavras, não estive a averiguar, profundamente, todas as competições, até porque seria um trabalho mais demorado. Neste sentido, o Inter de Milão também adopta, como bem escreveste, o 4x4x2 losango, mas o 4x3x3 costuma ser o esquema preferencialmente utilizado por José Mourinho.

Fico a aguardar mais comentários...

Catenaccio disse...

Ricardo,

É certo que teremos de esperar até Fevreiro, mas a eliminatória com o Sporting representa uma boa oportunidade para observares o Bayern de Munique.

Nuno disse...

Catennacio, ia fazer a mesma observação que o Paulo. O Atlético joga preferencialmente em 442 clássico, com Aguero e Forlán de perfil. Admito, contudo, pois não vi todos os jogos, que tenham jogado noutro esquema. O Inter de Mourinho, ultimamente, tem jogado sempre em 442 losango.

Cumprimentos.