segunda-feira, 30 de novembro de 2009

[Liga Sagres] 11.ª jornada: Sporting CP 0-0 SL Benfica

Um jogo entre os 'grandes' de Lisboa tem sempre associado um grau de emoção acrescido, mercê de uma rivalidade secular. Porém, um «derby» sem golos trava a emoção do espectáculo. Daqui por meia dúzia de anos, ninguém se vai lembrar do encontro que teve lugar no dia 28 de Novembro: este «derby» não deixa história e tem poucos episódios de interesse para recordar. Assim, à falta de motivos para festejos, de qualquer dos lados da 'batalha', sobra o lado mais racional do próprio jogo: a beleza artística de um belo quadro futebolístico deu lugar a um rigoroso embate estratégico, transformando o relvado num inflamado tabuleiro de xadrez...

Do lado do Sporting, Carlos Carvalhal teve uma abordagem inteligente. Sabendo que o Benfica é muito forte nas 'aberturas' e nas técnicas utilizadas nos 'finais', leia-se movimentos ligados à organização ofensiva, o treinador leonino apostou, e bem, nas virtudes do 'meio jogo': sem supresa, um 4x2x3x1 bem reforçado nas 'casas' centrais. Não sendo sempre possível dominar a partida, havia que controlar o apetite sanguíneo do adversário, encurtando espaços e bloqueando as 'peças' mais valiosas do Benfica. Em vários momentos do jogo, a estratégia foi bem sucedida: em primeiro lugar, o duplo pivot, constituído por Adrien Silva (mais fixo) e Miguel Veloso (com maior liberdade para iniciar a transição), funcionou como uma 'parede de peões' difícil de contrariar; em segundo lugar, à direita, Vukcevic era o 'bispo' que prometia estragos no flanco mais fraco do rival; por fim, enquanto Matías pisava terrenos do lado esquerdo, o capitão João Moutinho, ao centro, era uma espécie de 'cavalo' capaz de condicionar a primeira fase de construção centrada em Javi García.

Do lado do Benfica, 'mestre' Jorge Jesus tinha um handicap: o adversário conhecia a sua forma de actuar, mas existiam muitas dúvidas quanto à estratégia que Carlos Carvalhal iria implementar. Consequência: o Benfica, mesmo sem perder identidade, teve de reagir aos primeiros 'lances' contrários, como se jogasse do lado 'das pretas'. Deste modo, o treinador encarnado teve de abrandar a sua fidelidade a um modelo proactivo e ajustar as 'peças' do tabuleiro de uma forma mais reactiva. O sinal inicial foi dado pela troca posicional entre Pablo Aimar e a 'torre' Ramires, ajudando a proteger o 'rei' Javi García numa zona nevrálgica do tabuleiro. Neste caso, do relvado. Com alguma complexidade na 'abertura', graças a uma estratégia bem montada pelo 'mestre' contrário, o desenrolar do jogo ficou afectado por dificuldades evidentes no 'meio jogo', poucas vezes solucionadas por mudanças posicionais capazes de infligir o tão ansiado 'xeque-mate'.

Pragmaticamente, as 'pretas' seguem à frente, com 26 pontos em 11 jornadas. A responsabilidade da vitória estava do lado das 'brancas': a jogar em casa perante o seu público, procurando diminuir uma distância pontual que deve continuar a merecer preocupação. Portanto, respeitando critérios de razoabilidade (óbvios), o resultado final não trouxe motivos para festejar, mas também não justifica argumentos e opiniões a roçar a depressão colectiva. Haja bom senso, quer nas goleadas, quer nas alturas em que a vitória não aparece. Friamente, a confiança no próximo 'xeque-mate' mantém-se inalterável.

3 comentários:

Pedro disse...

Uma delicia este texto!!!

dezazucr disse...

Grande texto mais uma vez meu caro!!!

Só um pequeno reparo, "A responsabilidade da vitória" estava do lado do Benfica. As grandes equipas ganham estes jogos.
Vê quantos clássicos não ganhou Mourinho, vê por exemplo no mesmo fim de semana quem ganhou entre o Chelsea e o Arsenal ou entre o Barça e o Real Madrid.

Neste momento, já jogamos com o Braga, Sporting e fomos eliminados da taça pelo Guimarães.
Resta-nos o jogo com o porto para vincarmos posição, com todas as "condicionantes" que esse jogo costuma ter, tremo, até pela baixa de forma de alguns jogadores.

A única coisa que me conforma, só mesmo o facto da identidade em campo ter-se mantido. Apesar disso preocupa-me os escassos 3/4 remates do jogo.

O Benfica já venceu o bloqueio nos jogos com os pequenos, falta com os grandes e para isso tem de encarar estes jogos de outra forma, sendo bem mais agressivo, desde o início do jogo.

Se bem que com performances diferentes em termos de qualidade, também o ano passado por esta altura o Benfica começou a soçoborar, saindo sem glória da uefa e perdendo o fulgor no campeonato. Quero estar optimista, mas alguns tiros nos pés preocupam-me.

Momento do jogo: lesão de Javi. As sucessivas saídas e entradas quebraram o ritmo do que de bom vinhamos fazendo na segunda parte.

dezazucr disse...

Ah, JJ já devería saber que os adversários cá em Portugal estudam todos bem a forma de jogar do Benfica, pelo que tem de se esforçar algo mais em colocar mais dinâmica e formas diferentes de atacar, senão tornamo-nos presa fácil, sendo mais difícil ganharmos, como se tem visto nos últimos jogos.