sábado, 5 de março de 2011

Benfica. Sporting. Mais que inimigos, são irmãos!

Chamo-me Sport Lisboa, do lado da mãe, e Benfica, da parte do pai. Nasci em Belém a 28 de Fevereiro de 1904, no seio de uma família humilde, na Farmácia Franco. Posso afirmar que tive uma infância feliz, com o convívio de vários companheiros pertencentes à «Associação do Bem», embora materialmente difícil, na medida em que fui obrigado a mudar de casa por diversas ocasiões. Nessa altura, mas também nos anos vindouros, eram habituais as exigências do senhorio da época. Foram dias, meses, anos e décadas a batalhar por mais um bocado de cimento, mais um pedaço de relva, com o céu estrelado a cobrir o sonho terreno. Tempos complicados, em que (muitas vezes) não tínhamos roupas para nos vestir, ou água quente para nos lavarmos. Só uma vida de trabalhos, mascarada pelo esforço de coragem de todos os que ousaram sonhar, tornaram possível que o meu nome fosse admirado e reconhecido por milhões.

Vida diferente teve o meu irmão. Nascido em 1906, da mesma mãe Lisboa, abraçada pelo Tejo, mas de outro pai, senhor ilustre e respeitado pelos seus pares, a sua infância e juventude foi muito mais generosa. Desde cedo, nunca teve de sofrer as agruras de uma existência marcada por condicionalismos materiais. Se a memória não me atraiçoa, recordo-me das elitistas partidas de ténis entre nobres convivas e, também, dos chás dançantes onde senhoras esbeltas de alta sociedade rodopiavam naqueles magníficos palacetes, ali para os lados de Alvalade. Era difícil, às gentes da terra, não ficarem deslumbradas com o brilho e charme emanado pelo meu irmão. Por isso, custa-me a entender, passados todos estes anos, o porquê de tanto ciúme e inveja. Talvez porque, com muito esforço, soube trilhar o caminho das vitórias. Sempre tive quem olhasse por mim, com paixão redobrada.

Porquê tudo isto? Ao revisitar o passado, dei-me conta que o estado de saúde do meu irmão tem piorado, de ano para ano, mas com implicações graves nas últimas semanas. Não sei se conseguirá suportar a dor que o aflige. No outro dia, ao vê-lo deitado na marquesa de família, murmurando palavras avulsas sem sentido, lembrei-me de um primo nosso, coitadinho, que vive ali para o Restelo, no limiar da pobreza, e do qual não temos notícias há um tempo. Temo que lhe possa acontecer semelhante tragédia. Como a vida é irónica. Pensar que passei dificuldades que muitos não aguentariam e hoje, passados 107 anos, sinto-me com a força e vitalidade de um jovem pronto a enfrentar os desafios do futuro. Só tenho a agradecer o apoio e carinho que sempre me dispensaram. E, a verdade é que continuam a fazê-lo. Por onde quer que passe, o meu nome é aplaudido e ovacionado por gentes independentes de qualquer credo, raça ou religião. Contudo, é quando abro as portas de minha casa que mais me sinto feliz e reconfortado. Tenho sempre onze papoilas saltitantes no meu jardim, prontas a desenhar um sorriso no rosto de uma criança ou um abraço colectivo aos seus familiares e amigos próximos. Sei que me amam, no mais puro e genuíno sentimento. Por isso também que, mesmo com esta idade centenária, essa energia e paixão que transportam nunca me deixará morrer. Eu, Sport Lisboa e Benfica, graças a todos vocês, sinto-me com força redobrada para viver. E para vencer.

9 comentários:

João Bizarro disse...

Excelente :)

Anónimo disse...

Do melhor que já li na Gloriosasfera. Parabéns!

Hugo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hugo disse...

Muito bom....


É da tua autoria?!?

Se sim, acho que, se não o és, bem podes vir a ser um grande "escriba":)

Saudações Benfiquistas!

PS - Gostava de saber a tua opinião sobre o jogo de ontem. Sei que te focas mais no relvado mas gostaria de saber a tua opinião sobre o jogo e as incidências...

Catenaccio disse...

Bom dia Hugo,

Sim, é da minha autoria. Penso que estava inspirado. Creio que a ideia resultou bem.

Sobre o jogo de ontem, pouco há a dizer: ficou marcado por uma expulsão absurda, digna de um filme de ficção científica, que condicionou o resto do jogo. Não tivesse sido o golo do empate e, mesmo com 10, a ganhar 1-0 ao intervalo, teríamos vencido a partida, num estádio de um clube que quer ser grande, mas não passa de um clubezeco reles, uma cópia barata de outro não muito longe dali.

Obrigado a todos pelos comentários até agora registados.

Grande abraço.

João Bayam disse...

Boa Xico,

grande artigo.

Tenho de facto pena do estado eu que se encontram os "Rivais da 2ª circular". Mas só se podem queoxar dele próprios, não fora a aliança com PdC, e talvez não tivessem sido enganados ano após ano durante os ultimos 20. Mas eles assim quiseram, não conseguiram resistir às migalhas que lhes foram caindo do prato do PdC...

Hugo disse...

Estavas, de facto, inspirado:)

Muito bom, sinceramente...

Permites que o post no meu blog e, desta forma, te faça a devida e merecida promoção?

Quanto ao jogo de ontem, é pena que em Portugal a CS apenas olhe a penaltis e golos anulados como erros capazes de influenciar um resultado.

Ontem foi visível que fomos xistrados ao máximo e, desta forma, impediram-nos de acalentar o sonho de renovar o título.

Abraço!!

Viva o Benfica!!!

Chama Imensa disse...

o texto está realmente muito bom, e espelha bem as dificuldades por que tivemos de passar para sermos o que somos hoje: o maior clube do mundo.

(peço desculpa, mas vou aproveitar para divulgar o meu blog, que nasceu à bem pouco tempo:
http://discussoesbenfiquistas.blogspot.com/ )

jose garcia disse...

Excelente!
Que orgulho no meu Benfica!