segunda-feira, 21 de abril de 2008

E se fosse Michel Preud´homme...

...o novo treinador do Sport Lisboa e Benfica? Como forma de esquecer uma semana negra, que me dizem analisarmos a carreira de um homem que tão boas recordações deixou na nação benfiquista?
A imprensa desportiva, fazendo jus à sua genética especuladora, já avançou imensos nomes para futuros treinadores do clube encarnado. Assim de repente, podendo me esquecer de algum, recordo-me de: Jorge Jesus, Manuel Cajuda, Humberto Coelho, Carlos Queiróz, Alberto Malesani, Marcelo Lippi, Roberto Donadoni, Luiz Felipe Scolari, Michael Laudrup.
Voltemos a Michel Preud´homme. Atentem na notícia:

Preud´homme conduz Standard Liège ao título de campeão

O Standard Liège sagrou-se este domingo campeão belga, algo que já não acontecia desde 1983. O antigo guarda-redes do Benfica Michel Preud´homme é o grande responsável pelo feito do clube.
O Standard Liège conquistou o nono título do seu palmarés depois de vencer o rival Anderlecht por 2-0, beneficiando também do empate (0-0) do Club Brugge no reduto do Gent.


[Dados da carreira] Depois dos relvados

2006/07 Standard Liège - Treinador (A partir de 30 de Agosto de 2006)
2005/06 Standard Liège - Director Desportivo
2004/05 Standard Liège - Director Desportivo
2003/04 Standard Liège - Director Desportivo
2002/03 Standard Liège - Director Desportivo
2001/02 Standard Liège - Treinador
2000/01 Standard Liège - Treinador
1999/00 S.L.Benfica - Director De Relações Internacionais

Já sabemos que não existem treinadores perfeitos. Estes, caso existam, encontram-se em Manchester, Liverpool, Milão ou, nos últimos meses, Setúbal. Por outras palavras, os treinadores de top estão fora das possibilidades financeiras permitidas pela SAD encarnada, existindo até a dúvida de, neste momento conturbado, o clube poder apresentar um projecto estável e ambicioso.
Deste modo, trata-se de um ponto a favor do belga: a sua contratação poderia cumprir desígnios ligados a plataformas orçamentais e, aos olhos dos benfiquistas, é um treinador que pode atingir a marca da perfeição. Na baliza, deixou um registo de qualidade superior. Se for tão bom a treinar, como era a defender...
A circunstância de Michel Preud´homme ser um nome admirado e respeitado pela nação encarnada joga, sem dúvida, a seu favor. À partida, seria muito bem recebido e os focos de insatisfação - nem José Mourinho reuniria unanimidade - seriam pouco visíveis e sem expressão. Para além disso, o treinador belga defendeu as redes do clube desde a época 1994/95 até 1998/98 (5 temporadas) levando-o a interiorizar a tão famosa mística. Em suma, o seu conhecimento do futebol português, das suas idiossicracias e funcionamento muito próprio, apontariam para uma adaptação feita à velocidade da luz.
Para finalizar, nem tudo se resume a um amontoado de afectividades e lembranças. Há curriculum para apresentar e trabalho prático para ser valorizado. O título conquistado este fim-de-semana é sinal de que estamos perante um treinador ambicioso e competente. Ainda por cima, é adepto do 4x4x2 clássico, sistema táctico mais do agrado de sócios e adeptos encarnados.
Estes foram alguns dos pontos fortes que me levaram a colocar a hipótese de Michel Preud´homme poder vir a ser treinador do Benfica para 2008/09. E os leitores? Querem contrariar, enumerando prováveis desvantagens desta opção? Qual a vossa opinião?

14 comentários:

Anónimo disse...

Catennacio: como director desportivo,no tempo de V.azevedo existiram algumas coisas que ele fez,que não recomendam para o cargo de treinador...

E agora estou pessoalmente convencido de outra coisa: um treinador italiano.
Por favor alguém que organize aquela equipa defender.......

Catenaccio disse...

Lá voltamos ao italiano...eu concordo, mas devemos constituir uma percentagem de 1% no seio dos benfiquistas!

Abraço.

Anónimo disse...

Catenacio: estás a brincar.

Só 1% ????

Mas está tudo tão tapado das ideias????
Isto é o fim de tudo...

ma o que é que as pessoas julgam?!???

Paulo Santos disse...

Quando li a notícia hoje, também me ocorreu o mesmo pensamento.

Fui sempre grande admirador de Preud´homme, mesmo antes dele representar o Benfica. O feito alcançado agora também é assinalável, de facto. No entanto, continuo a ter a firme convicção de que, neste momento de atrapalhação total, o que seria mais sensato, era um treinador com curriculum, com títulos, enfim, com estatuto...
Apesar de ser grande admirador da escola italiana, julgo que esse deve ser o critério fundamental. Existem treinadores com o perfil de que falo, de outras nacionalidades que não a italiana.


Abraço

Nuno disse...

Não acho que o Preud'homme seja o treinador ideal para o Benfica, embora seja o meu guarda-redes de todos os tempos e das pessoas que passaram pelo Benfica que mais admiro. Não conheço o seu trabalho, tenho apenas os resultados, e isso não é nada. Mas a opção pelo 442 clássico para o Benfica seria um tiro no pé. O Benfica está no que está porque não evoluiu no tempo. No Porto, trabalha-se de forma moderna há anos; no Sporting a aposta na formação tem mantido o clube num patamar elevado. No Benfica, continua-se a viver do passado e sempre que as coisas correm mal, pensa-se nos Mários Wilsons e nos Dons Sebastiões todos. Apetrechar o clube com pessoas que deram muito ao clube no passado é a tentativa de manter viva a alma benfiquista, a mística. Mas os Rui Águas, os Álvaros Magalhães, os João Alves, são pessoas, em termos de métodos de trabalho, claramente ultrapassadas. O Benfica precisa esquecer (por momentos) o seu passado e apostar no futuro. Precisa olhar para o lado, para o Sporting e para o Porto, por exemplo, e não para o Benfica dos anos 60 e 70. Precisa de apostar em força na formação e em métodos de treino modernos. Precisa de assegurar profissionais competentes e não pessoas que possam dar amor ao clube. Nesse sentido, jogar em 442 clássico é regressar ao passado. Qual foi o último campeão nacional a jogar em 442 clássico? Na melhor das hipóteses, foi-o no início dos anos 90. O 442 clássico não pode ser uma solução para uma equipa de topo em Portugal no século XXI. É antiquado, obsoleto, fácil de anular e não temos poderio financeiro para contratar jogadores que a nível individual sejam capazes de resolver as coisas. O Benfica não precisa de um 442 clássico, como não precisa de um treinador e de responsáveis com ideias antiquadas. Precisa de gente moderna, com ideias novas. Pode ser alguém com créditos dados, mas também pode ser alguém que ainda não mostrou tudo aquilo de que é capaz. Os nomes que me agradariam seriam, a nível internacional, Hiddink, Laudrup ou Lippi, mas nenhum destes me parece provável. A nível nacional, Peseiro, Paulo Sousa ou Carvalhal. Infelizmente, a não ser que a amizade de Rui Costa com Paulo Sousa possa ter algo a dizer, não me parece que nenhum destes venha a ser o futuro treinador do Benfica. Quanto à questão dos italianos, depende de quem seja. Não se pode generalizar. O Lippi, por exemplo, não é bem o protótipo do treinador italiano e agradar-me-ia. Agora, um treinador italiano de antigamente, cujas bases sejam um futebol cínico, de contenção, de dar a iniciativa ao adversário, não, muito obrigado. É verdade que o Trap foi bem sucedido e com poucos recursos, mas acho que ficou visível, para toda a gente, que aquele campeonato caiu do céu e que não foi pela competência da equipa que se sagraram campeões. Se se queixam da filosofia de Camacho, não podem ao mesmo tempo achar que um treinador italiano defensivo possa ser bom.

Catenaccio disse...

Paulo,

Confesso que prefiro um óptimo treinador a um fabuloso jogador. Porquê? Porque um treinador competente e, como dizes, com curriculum e estatuto, faz milagres, pois retira o máximo rendimento dos atletas disponíveis.

Tenho preferência por treinadores italianos, mas também vejo que a escola espanhola tem vindo a despontar grandes valores.

De qualquer modo, é tudo uma questão do nome certo, para as circunstâncias exactas e, não tanto, uma escolha baseada na nacionalidade.

Nuno,

Antes de mais, agradeço o seu comentário detalhado e bem estruturado.

Vários aspectos que focou são pertinentes. Vamos tentar debater alguns pontos mais interessantes.

Em primeiro lugar, existe a ideia - errada, a meu ver - de que antigas glórias benfiquistas não reúnem atributos de competência. Se falarmos de Chalana, por exemplo, aceito que não tem perfil para treinador principal, mas já não compreendo as críticas feitas a homens como João Alves e Rui Águas. Nesse sentido, qual a diferença face a Paulo Sousa?

Julgo que o ideal é apostar no equilíbrio, ou seja, juntar profissionais ambiciosos, competentes na sua área de jurisdição, a homens que denotam conhecimento da mística encarnada. É a união que faz a força e um clube como o Benfica deve, sim, apostar na juventude, na irreverência e em conhecimentos actualizados, mas moldar com a experiência de homens que sabem o que é o Benfica.

Posso dar um exemplo: eu sou adepto e apologista da periodização táctica, concepção de treino e de jogo idealizada pelo Prof. Vítor Frade da Faculdade de Desporto do Porto. Não conheço, obviamente, os meandros teóricos, mas conheço os resultados práticos conseguidos por José Mourinho. Carlos Carvalhal, outro treinador que admiro bastante, segue estes predicados. Tenho lido imensa literatura sobre este tema e vou reforçando as minhas convicções. Dê aqui uma espreitadela, repeitante à minha última aquisição:

http://www.omniservicos.pt/temas_passo3.php?id=2457

Mudando de assunto. Não vejo que o sistema táctico possa ser impeditivo de sucesso. Tudo passa por uma dimensão superior, a que chamo de modelo de jogo. O 4x4x2 clássico tem vindo a ser substituído pelo 4x2x3x1, 4x4x2 losango e 4x3x3, mas é ligeiro entender que possa estar ultrapassado.

Veja o Liverpool: muitas vezes, actua em 4x4x2 clássico, com as duas linhas a formar um bloco médio-baixo bastante coeso. Os resultados falam por si, pelo menos na Europa. Penso que é tudo uma questão de escolher as peças certas, para o desenho que se pretende.

Cumprimentos.

Paulo Santos disse...

Já agora, deixo também a minha achega.

Nuno, por favor, deixa lá o Paulo Sousa estar a falar no programa da rtpN, que está lá muito bem! Digo isto, como sabes, por razões eminentemente emocionais, mas não só. O que é que Paulo Sousa já fez como treinador principal, para além de uma experiência totalmente falhada nas camadas jovens da selecção nacional?

No resto, estou de acordo contigo, o clube precisa de deixar de olhar para os feitos de 60, aliás, não penso que seja preciso ir tão longe. A obra feita na década de 80é menos antiga e portanto, quiçá, mais fácil de copiar, ou pelo menos dela extrair alguns ensinamentos, mas isso era tema para uma outra e longa conversa...

Aliás, essa coisa de olhar para a década de 60, é mais um problema que se reflecte em muita da massa adepta do clube (a mais velha que por sua vez vai passando este pesado testemunho às gerações mais novas). Facilmente se percebe que esta situação acarreta um pesado fardo para todo o clube, dos jogadores, passando por técnicos e chegando a dirigentes.

Sou mais favorável a uma solução do género da que defende o catenaccio, juntar os tais elementos "portadores da mística", com sangue novo que prime pelo rigor profissional, qualificação e competência. Os primeiros mais não são do que pessoas que passaram pelo clube em tempos bem sucedidos e que, acima de tudo, conhecem toda a realidade do clube, do futebol português etc. Os segundos porque na actual conjuntura me parece algo de incontornável.

Quanto ao 4-4-2 clássico, ser um sistema de jogo antiquado, permite-me que discorde. Há neste momento equipas de top a jogarem nesse sistema, para além do Liverpool, lembro-me assim de repente do Bayern, do Sevilla e muitas equipas da liga espanhola. Não falo de Inglaterra, porque aí sim, existem autênticas antiguidades no que respeita à abordagem táctica do jogo, no entanto, julgo que as razões para que assim seja não passam pelo tanto pelo sistema de jogo, mas mais pelo modelo e filosofia de jogo, mas isso também dava para uma outra conversa!

.g disse...

quando falam em "conhecer os meandros do futebol português" ou "carregar a mística", lembro-me do fernando santos. conhecia os meandros do futebol português [a fundo o dos 2 rivais] e sempre foi benfiquista. A mística essa, sempre lhe foi retirada pela imprensa.
Eu, confesso, não gostava dele mas sempre defendi que o problema não estava nele. e agora queimámos o camacho, o chalana [coitado, que nunca pediu para ser metido neste filme], vamos queimar o rui costa e o traficante da borracha continua impecável.
queremos treinadores? é preciso eles nos quererem.

Nuno disse...

"Em primeiro lugar, existe a ideia - errada, a meu ver - de que antigas glórias benfiquistas não reúnem atributos de competência. Se falarmos de Chalana, por exemplo, aceito que não tem perfil para treinador principal, mas já não compreendo as críticas feitas a homens como João Alves e Rui Águas. Nesse sentido, qual a diferença face a Paulo Sousa?"

Bom, estava a falar de ideias, de filosofia de jogo e métodos de trabalho. Do que conheço dos 3, o melhorzito seria o João Alves, mas ainda assim as suas ideias são demasiado antigas e não me convencem. O Paulo Sousa não tem nada a ver com estes 3. É uma pessoa de outra geração, que teve uma experiência internacional muito relevante, e, sobretudo, que tem ideias bastante diferentes. Não sei se trabalha em "periodização táctica", isto é, nos mesmos moldes que o Mourinho e o Carvalhal, por exemplo, mas tive conhecimento dos seus métodos e sei que, pelo menos, são mais aproximados destes do que dos métodos tradicionais. Nesse sentido, creio que pode vir a ter algum futuro como treinador e gostaria de ver aquilo de que seria capaz. Respondendo ao Paulo sobre ele, sei que não te agradaria por tudo o que fez ao Benfica, mas não concordo que, por não ter feito nada como treinador principal não possa ser uma boa solução. Quando Vale e Azevedo trouxe o Mourinho para o Benfica, ele ainda não tinha feito nada como treinador principal, mas a verdade é que isso não importava, pois não? O Paulo Bento também não tinha nada além da experiência dos júniores do Sporting e, no entanto, provou ser um treinador adequado para os leões. Quanto à experiência do Paulo Sousa nas camadas jovens da selecção, há explicações. Sei, por exemplo, que preferia miúdos tecnicamente evoluídos e inteligentes a miúdos atleticamente mais fortes. Ora, em termos de resultados, nas camadas jovens, o tamanho é muito importante e a sua equipa foi vítima disso. Apesar de não ter tido bons resultados, aposto que os miúdos que ele escolheu terão mais futuro que os que lhe poderiam possibilitar vitórias naquela altura. Admiro a coragem que ele teve, nesse sentido.

Quanto ao equilíbrio entre pessoas que conhecem a casa e jovens competentes, concordo, catennacio. Embora a nível técnico não seja muito importante ter homens com esse saber da mística. Acho que, tendo um director desportivo como o Rui Costa, não é preciso mais ninguém da casa.

Quanto ao livro que comprou, é curioso, pois ando precisamente a lê-lo. Já tinha lido coisas como o livro do Carvalhal, sobre recuperação, e o livro "Mourinho, Porquê tantas vitórias?", nos quais a periodização táctica é a metodologia privilegiada. Conheço os meandros teóricos da mesma, embora, em termos práticos, não saiba completamente como é aplicada. Considero que o futuro do futebol só pode passar por esta metodologia e a verdade é que não é por outra razão que Mourinho teve o sucesso que teve e que Carvalhal lhe começa a seguir as pisadas. Nesse sentido, o Porto leva anos de avanço e gostaria que o Benfica seguisse um caminho parecido. É essencialmente por isso que digo que o Benfica deve parar de olhar para trás e acompanhar o futuro.

Quanto ao 442 clássico, mantenho que é um sistema obsoleto. É um sistema que não permite uma correcta formação de apoios e que só pode viver de inspirações individuais e de mobilidade constante. O Liverpool joga em 442, é verdade, embora este ano o Gerrard jogue nas costas do Torres. Mas uma equipa, para ser bem sucedida neste esquema, tem de ter grandes jogadores a nível individual. Em termos colectivos, jamais é capaz de atacar com eficácia em futebol apoiado. Num 442 clássico, o futebol ou é directo, o que exige uma capacidade individual dos atacantes extraordinária, assentando então num bloco baixo (como o Liverpool), ou vive da mobilidade dos jogadores, mobilidade essa com muito pouco critério (falo aqui do Manchester, quando joga neste esquema, com Ronaldo e Rooney na frente, e do Arsenal, com Hleb ou Van Persie nas costas de Adebayor). O 442 clássico não é um esquema equilibrado, tem três linhas rígidas que, ao se desmontarem em função da mobilidade, provocam buracos. A forma de não criar buracos é jogar com um bloco muito baixo, com a linha de defesa e de meio-campo muito recuadas, e num futebol directo (como o 442 de Capello ou o de Benitez), mas isso, além de ser, a meu ver, pouco adequado a uma equipa de topo, que deve ter a iniciativa de jogo, requer jogadores capazes de resolver individualmente lá na frente, jogadores que, em Portugal, só em sonhos.

Dou preferência ao 433, com um só trinco, como o de Mourinho ou o de Carvalhal, ou o de Jesualdo, ou o 442 losango, como o de Mourinho no segundo ano do Porto, ou o do Paulo Bento (sobretudo o do ano passado) e o do Peseiro. Estas 2 tácticas são, para mim, aquelas que melhor se adequam para um futebol de apoios. Tirando estas, só tácticas com 3 defesas, mas isso teriam de ser muito bem trabalhadas, sobretudo a nível do pressing, pois são de maior risco. O Porto de Adrianse foi um bom exemplo de como uma táctica puramente ofensiva como o seu 334 é perfeitamente capaz de vingar num campeonato como o português.

Catenaccio disse...

Nuno,

Gostei muito do seu comentário. Amanhã respondo com mais calma.

Abraço a todos. E, obrigado pela participação.

Catenaccio disse...

Caro Nuno,

Antes mais, informo que não tenho qualquer contacto profissional com o mundo do futebol. A minha intervenção resume-se ao Catenaccio, assim como às colaborações com a Revista "Futebolista" e o site "Futebol Finance". Sugiro que leia o meu post inicial, onde faço uma breve apresentação.

Posto isto, comecemos por Paulo Sousa. Não conheço tão pormenorizadamente o seu percurso, ao nível de métodos de treino e conceito de modelo de jogo. Dou o meu benefício da dúvida.
De qualquer modo, relembro que José Mourinho foi adjunto por vários anos e, no meu entender, essa aprendizagem foi fundamental. O "Special One" trabalhou no Sporting, no FC Porto e no Bacelona, com treinadores como Manuel Fernandes, Bobby Robson e Louis Van Gaal. Quando chegou ao Benfica já reunia condições para assumir o comando.
Paulo Sousa deveria fazer o mesmo ou começar por um clube de média ambição, na bwin liga. No fundo, seguindo o exemplo de homens como Jorge Costa ou Domingos.

Falemos, agora, do 4x4x2 clássico. Compreendo e até concordo com o seu ponto de vista. Os argumentos são razoáveis e encontram-se bem justificados.
Porém, não creio que estejamos perante uma verdade absoluta. É possível a um clube de topo europeu jogar em 4x4x2 clássico. Exemplo? O AC Milan de Sacchi e, mais tarde, de Capello.
Recordo-me de ter lido um livro onde José Mourinho explicava a forma como o FC Porto perdeu a Supertaça Europeia frente à equipa italiana: o 4x4x2 losango, assente em 5 linhas (4 defesas + 1 pivot defensivo + 2 interiores + 1 playmaker + 2 avançados), teve muitas dificuldades para fazer face a um 4x4x2, assente em 3 linhas. Foi a batalha da pressão em profundidade face à pressão em largura.
O AC Milan de Sacchi era o expoente máximo desta fórmula e marcou a história táctica do futebol, com a introdução da zona pressionante.
Ou seja, ao invés de um 4x4x2 clássico moldado sob um bloco médio-baixo e passe directo, é possível conceptualizar um 4x4x2 assente na zona pressionante alta.

Ainda assim, concordo consigo num aspecto: o 4x3x3 preenche requisitos posicionais e é de mais fácil assimilação por parte dos jogadores. Quanto ao 4x4x2 losango, a vantagem encontra-se na suposta superioridade numérica da zona central e na construção do tal futebol apoiado, feito de triângulos e combinações várias.

Para finalizar, um breve apontamento sobre literatura. O livro de Xavier Tamarit é muito interessante, pela descrição dos fundamentos da periodização táctica. Os outros que referiu também representam obras de leitura obrigatória.
No entanto, um dos livros que mais influenciou o meu pensamento é do Nuno Amieiro, intitulado "Defesa à zona no futebol". É um livro de capa laranja, imperdível. Podes encontrar na livraria "Omniserviços", situada em Telheiras. Espreita este link: http://omniservicos.pt/temas_passo3.php?id=2150

Cumprimentos.

Nuno disse...

Também adquiri recentemente o livro do Nuno Amieiro, embora ainda não o tenha lido. Procurava ainda outro que me tinham recomendado e que é muito citado por toda a gente, mas na Omniserviços não conheciam. É o livro de Simão de Freitas, com um título gigantesco começado por "A Especificidade". Não conheço o trabalho de Sacchi e, pela minha experiência, não consigo conceptualizar um 442 clássico como uma táctica ofensiva, sem criar desequilibrios. Concordo que a pressão em largura, no 442, é mais eficaz, mas esse tem de ser um 442 com bloco baixo. Mas isto tudo em termos de pressão e ocupação de espaços defensivos. O que digo que o 442 não promove é o jogo em apoios constante, assente em triângulos, como o permite o 442 losango e o 433 com um trinco. Mas seriam questões a debater, claro.

Cumprimentos

Nuno disse...

Sobre o Paulo Sousa, é evidente que o percurso por clubes de menor dimensão poderia fazer bem em termos de aprendizagem. Mas nem sempre um treinador começa por baixo. Há inúmeros casos de treinadores que começaram logo pelo topo e que não deixaram de ser bem sucedidos: Paulo Bento; Capello; Cruijf; etc. Não acho que a experiência seja um requisito assim tão importante e é, na minha opinião, um critério que o Benfica, face à pouca oferta de qualidade, não deve ter em conta. Claro que seria ideal um Lippi, ou um Hiddink, mas tendo em conta que são treinadores reputados e experientes, há poucas probabilidades de virem para a Portugal. Nesse sentido, acho mais importante recrutar pelas ideias do que pela experiência e, pelo que sei de Paulo Sousa, podia ser uma boa solução. Mas, tendo em conta o passado recente do clube, não tenho muita fé nisso.

Pedro Neto disse...

O Preud'Homme é grande demais para se meter na desgraça que é o Benfica actual. Não quero mais uma lenda benfiquista destruída pela actual Direcção.