Façamos um breve intervalo. Diga-se que o conteúdo desta crónica distancia-se ligeiramente do âmbito deste espaço. Por um lado, porque centra-se numa perspectiva histórica, procurando descrever a importância do acontecimento no seio da sociedade portuguesa da época. Por outro lado, porque este episódio encerra a faculdade de me proporcionar elevado valor sentimental. Como, aliás, podem comprovar no final do texto.
O dia 10 de Junho é já o prenúncio, embora desta vez preparado pelo regime, das enormes massas que este desporto iria atrair na segunda metade do século XX. «A inauguração revestiu-se da esperada solenidade em acontecimento de tal vulto», diz o República. O desfile, com que se inicia o programa, abre com 3.600 filiados das classes de ginástica da MP, seguindo-se a exibição da classe de ginástica feminina da FNAT. O festival fecha com o desafio entre o Benfica e o Sporting para a Taça Império.
E quanto ao jogo propriamente dito?
O encontro inaugural do Estádio Nacional é ainda hoje apontado como uma espécie de «sessão experimental» da Supertaça Cândido de Oliveira. Perante a maior assistência até então registada num recinto desportivo, defrontaram-se o campeão em título, Sporting, e o detentor da Taça de Portugal, Benfica.
Numa tarde amena, marcada por vento forte, as equipas alinharam:
SPORTING: Azevedo; Carlos e Manuel Marques; Canário, Barrosa e Eliseu; Mourão, João da Cruz,Peyroteo, António Marques e Albano.
BENFICA: Martins; César e Carvalho; Jacinto, Albino e Francisco Ferreira; Espírito Santo, Arsénio, Júlio, Teixeira e Rogério.
Peyroteo marcou o golo inaugural da partida, aquele que ficaria nos registos do Estádio Nacional como o primeiro da sua história. No recomeço, as águias equilibraram a contenda e, aproveitando a hesitação da defensiva contrária, chegaram à igualdade, por intermédio de Espírito Santo.
Seguiram-se mais 30 minutos de futebol, nos quais o Sporting obteve mais dois golos. Peyroteo fez o segundo da sua conta pessoal e Eliseu fechou a contagem para os leões. Júlio ainda reduziu para 3-2. Um desfecho que não impressionou Salazar Carreira, enviado da Stadium ao evento. «A grandeza do Estádio Nacional merecia outra espécie de futebol», destacando a estupenda exibição dos dois guarda-redes.
Estamos praticamente no fim da crónica. Chegou o momento de levantar o véu sobre as razões associadas à minha ligação pessoal com o dia 10 de Junho de 1944. O motivo prende-se com o seguinte: eu tenho em minha posse o bilhete da inauguração do Estádio Nacional.
Fonte: Os dados históricos foram retirados da colecção «Os anos de Salazar», volume n.º 6, 1946/48 - As oportunidades perdidas da Oposição.
2 comentários:
Não quero ser picuinhas mas o link dos "Anos de Salazar" a mim manda-me para o profile do Javier Balboa no zerozero eheh.
Grande reliquia esse bilhete. Quando tiveres com falta de dinheiro mete-o no ebay que orientas-te logo
Tens razão. Situação resolvida :)
É uma grande relíquia, sem dúvida. E, realmente dá que pensar: quanto estariam dispostos a oferecer pelo bilhete da inauguração do Estádio Nacional? Será que ainda há muitos em Portugal, em bom estado?
Porém, o mais provável mesmo é fazer o mesmo que o meu avô e passar de testemunho para um futuro sucessor.
Abraço.
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