Escassez de tempo. Não confundir com ausência de motivação, após a derrota caseira frente ao Vitória. Ao menos, o distanciamento destes últimos dias serviu para acompanhar o crescimento do tom crítico e para que os habituais 'profetas' da desgraça viessem vociferar a sua razão. Assumo, desde já, a minha discordância face aos argumentos utilizados por vários 'notáveis'. Exemplo claro passou-se no Trio D’Ataque quando a moderação teve a amabilidade de ler um email, por mim enviado, o qual resume a minha opinião e que faço questão de transcrever:
Exmos. Senhores,
Chamo-me Ricardo Gil Cunha, tenho trinta e quatro anos e escrevo desde Lisboa. Aproveito para cumprimentar o painel habitual e felicitar a moderação pela qualidade do programa.
Sou o sócio n.º 25.998 do Sport Lisboa e Benfica e discordo do tom crítico do meu consócio António-Pedro Vasconcelos, apesar de respeitar a opinião de alguém com tantos anos de mística. Relativamente à situação actual do nosso emblema, especialmente quanto ao desempenho de Quique Flores, é certo que a estabilidade e prudência não devem obstar a um sentimento de ambição e exigência. Também não me conformo com a falta de títulos! Todavia, sou avesso a constantes revoluções e um ciclo de dois anos deve ser a regra para se avaliar um projecto sustentado à volta de um director desportivo, treinador e respectiva equipa de futebol.
Antecipadamente grato pela atenção, despeço-me com os melhores cumprimentos.
Ricardo Gil Cunha
Em primeiro lugar, convém afirmar que nem sempre concordo com as opções de Quique Flores e, por diversas vezes, critiquei a forma como o treinador espanhol efectua a abordagem estratégica de determinadas partidas. No entanto, ao contrário daqueles que exasperaram com a substituição de Cardozo por Nuno Gomes rejeito os assobios associados à escolha.
Embora uma franja considerável de adeptos suspire pela coexistência de dois avançados, tal não representa condição essencial para a prática de bom futebol e consequente marcação de golos. O quarteto mais recuado do Vitória estava a actuar num bloco baixo, com o ponta-de-lança paraguaio 'enjaulado' entre os centrais, sendo imperioso alterar a dinâmica de movimentos e descobrir outros canais de penetração, de forma a brindar o adversário com novos desafios posicionais. Com a manutenção do duplo pivot, no centro do terreno, a equipa podia: (i) adiantar a linha defensiva; (ii) soltar os laterais para acções atacantes; (iii) recuperar a bola mais facilmente, aguentando a sua posse; e, (iv) potenciar a mobilidade e capacidade de improviso dos homens da frente.
Nem sempre maior presença física na área contrária é sinónimo de mais e melhores oportunidades de golo. De que servem dois avançados, quando a linha defensiva demonstra incapacidade para ultrapassar a linha de meio-campo e lentidão para recuperar, ao mesmo tempo que a equipa revela dificuldades acrescidas para contornar a superioridade numérica do oponente na zona nevrálgica do terreno?
Há exemplos que explicam esta posição: lembro que Ibrahimovic é uma 'ilha' no meio de defesas italianos, o Liverpool tem o hábito de jogar em 4x5x1, com Torres sozinho na frente e também Ferguson já experimentou a mesma fórmula, isolando Berbatov e deixando Rooney no banco. Sem deixar o tema de lado, a propósito da final da Taça Carlsberg, António-Pedro Vasconcelos avançou com o seguinte onze: Quim, Maxi, Luisão, Sidnei, David Luiz (Jorge Ribeiro?), Katsouranis, Reyes (esquerda), Aimar (centro), Suazo (direita), Nuno Gomes e Cardozo. Agradeço que alguém me explique onde está o equilíbrio de uma equipa quando cinco jogadores apresentam, claramente, características ofensivas? Lamento dizer isto, mas grande parte do 3.º anel não prima pelo acerto táctico. A forma de ver futebol ficou parada na década de 60. Infelizmente, para todos nós, Eusébio já não pisa os relvados nacionais.
Quanto ao debate sobre a continuidade de Quique Flores, gostaria de tecer algumas considerações. Vou tentar ser breve, para não repetir-me e maçar os leitores. A derrota frente ao Vitória não alterou, substancialmente, a minha apreciação sobre a competência técnica do treinador encarnado. Para os mais desconhecedores, sugiro a leitura de vários artigos que fui escrevendo ao longo da época. Podem ser encontrados na barra lateral direita.
Por razões anteriomente discutidas, fui bastante crítico da política desportiva seguida por Filipe Vieira, mas retenho confiança infinita na aptidão e orientação de Rui Costa. Do passado recente, podemos retirar importantes ensinamentos: o jejum de títulos não se resolve com tomadas de posição precipitadas. Por outras palavras, insistir num ciclo de 'revoluções' baseadas na rotatividade anual de uma equipa técnica, com as consequentes entradas e saídas de jogadores, não parece ser uma solução que traga resultados.
Assim, esperemos pelo final da época para retirarmos as devidas ilações. Salvo situações especiais, de natureza pessoal e profissional, ou perante um evidente insucesso face aos objectivos iniciais, dou clara preferência à continuidade de Quique Flores. Conto com a máxima ponderação, por parte da Direcção da SAD. Por muito que custe a António-Pedro Vasconcelos, não creio que Fernando Santos mereça uma segunda oportunidade. Lamento que deixe de ir à Luz ver o seu (nosso) Benfica, colocando em causa, inclusive, a interrupção do pagamento de cinco quotas. Infelizmente, seguindo o mesmo discurso lamurioso, também me posso queixar da 'pseudo' representação do clube nos principais programas televisivos sobre futebol.
Exmos. Senhores,
Chamo-me Ricardo Gil Cunha, tenho trinta e quatro anos e escrevo desde Lisboa. Aproveito para cumprimentar o painel habitual e felicitar a moderação pela qualidade do programa.
Sou o sócio n.º 25.998 do Sport Lisboa e Benfica e discordo do tom crítico do meu consócio António-Pedro Vasconcelos, apesar de respeitar a opinião de alguém com tantos anos de mística. Relativamente à situação actual do nosso emblema, especialmente quanto ao desempenho de Quique Flores, é certo que a estabilidade e prudência não devem obstar a um sentimento de ambição e exigência. Também não me conformo com a falta de títulos! Todavia, sou avesso a constantes revoluções e um ciclo de dois anos deve ser a regra para se avaliar um projecto sustentado à volta de um director desportivo, treinador e respectiva equipa de futebol.
Antecipadamente grato pela atenção, despeço-me com os melhores cumprimentos.
Ricardo Gil Cunha
Em primeiro lugar, convém afirmar que nem sempre concordo com as opções de Quique Flores e, por diversas vezes, critiquei a forma como o treinador espanhol efectua a abordagem estratégica de determinadas partidas. No entanto, ao contrário daqueles que exasperaram com a substituição de Cardozo por Nuno Gomes rejeito os assobios associados à escolha.
Embora uma franja considerável de adeptos suspire pela coexistência de dois avançados, tal não representa condição essencial para a prática de bom futebol e consequente marcação de golos. O quarteto mais recuado do Vitória estava a actuar num bloco baixo, com o ponta-de-lança paraguaio 'enjaulado' entre os centrais, sendo imperioso alterar a dinâmica de movimentos e descobrir outros canais de penetração, de forma a brindar o adversário com novos desafios posicionais. Com a manutenção do duplo pivot, no centro do terreno, a equipa podia: (i) adiantar a linha defensiva; (ii) soltar os laterais para acções atacantes; (iii) recuperar a bola mais facilmente, aguentando a sua posse; e, (iv) potenciar a mobilidade e capacidade de improviso dos homens da frente.
Nem sempre maior presença física na área contrária é sinónimo de mais e melhores oportunidades de golo. De que servem dois avançados, quando a linha defensiva demonstra incapacidade para ultrapassar a linha de meio-campo e lentidão para recuperar, ao mesmo tempo que a equipa revela dificuldades acrescidas para contornar a superioridade numérica do oponente na zona nevrálgica do terreno?
Há exemplos que explicam esta posição: lembro que Ibrahimovic é uma 'ilha' no meio de defesas italianos, o Liverpool tem o hábito de jogar em 4x5x1, com Torres sozinho na frente e também Ferguson já experimentou a mesma fórmula, isolando Berbatov e deixando Rooney no banco. Sem deixar o tema de lado, a propósito da final da Taça Carlsberg, António-Pedro Vasconcelos avançou com o seguinte onze: Quim, Maxi, Luisão, Sidnei, David Luiz (Jorge Ribeiro?), Katsouranis, Reyes (esquerda), Aimar (centro), Suazo (direita), Nuno Gomes e Cardozo. Agradeço que alguém me explique onde está o equilíbrio de uma equipa quando cinco jogadores apresentam, claramente, características ofensivas? Lamento dizer isto, mas grande parte do 3.º anel não prima pelo acerto táctico. A forma de ver futebol ficou parada na década de 60. Infelizmente, para todos nós, Eusébio já não pisa os relvados nacionais.
Quanto ao debate sobre a continuidade de Quique Flores, gostaria de tecer algumas considerações. Vou tentar ser breve, para não repetir-me e maçar os leitores. A derrota frente ao Vitória não alterou, substancialmente, a minha apreciação sobre a competência técnica do treinador encarnado. Para os mais desconhecedores, sugiro a leitura de vários artigos que fui escrevendo ao longo da época. Podem ser encontrados na barra lateral direita.
Por razões anteriomente discutidas, fui bastante crítico da política desportiva seguida por Filipe Vieira, mas retenho confiança infinita na aptidão e orientação de Rui Costa. Do passado recente, podemos retirar importantes ensinamentos: o jejum de títulos não se resolve com tomadas de posição precipitadas. Por outras palavras, insistir num ciclo de 'revoluções' baseadas na rotatividade anual de uma equipa técnica, com as consequentes entradas e saídas de jogadores, não parece ser uma solução que traga resultados.
Assim, esperemos pelo final da época para retirarmos as devidas ilações. Salvo situações especiais, de natureza pessoal e profissional, ou perante um evidente insucesso face aos objectivos iniciais, dou clara preferência à continuidade de Quique Flores. Conto com a máxima ponderação, por parte da Direcção da SAD. Por muito que custe a António-Pedro Vasconcelos, não creio que Fernando Santos mereça uma segunda oportunidade. Lamento que deixe de ir à Luz ver o seu (nosso) Benfica, colocando em causa, inclusive, a interrupção do pagamento de cinco quotas. Infelizmente, seguindo o mesmo discurso lamurioso, também me posso queixar da 'pseudo' representação do clube nos principais programas televisivos sobre futebol.
5 comentários:
Ricardo, saúdo o teu optimismo e convicções relativamente à competência de Quique Flores, infelizmente, não posso partilhar nada disso contigo, antes pudesse.
Naturalmente, que considero que os costantes "anos 0" são um entrave óbvio ao desenvolvimento do futebol do Benfica, o que muito lamento.
Rui Costa, é sem dúvida alguma, o maior e melhor "elixir" que nós benfiquistas poderíamos ter, por todas as razões e mais algumas. Nem vale a pena mencioná-las. Contudo, isso não implica que possa ter falhado na avaliação que fez do espanhol. Aliás, como bem sabemos, não era quique a primeira opção do Rui...
Sinceramente, desde o início, cá no íntimo, torci o nariz á contratação.Tenho uma clara convicção de que o perfil de treinador indicado para o Benfica é um perfil diametralmente oposto ao perfil de Quique. Mas isso são contas de outro rosário. Reprimi esse sentimento em nome da crença que tudo poderia ser positivo, porque no fundo é o que mais desejo quando é o Benfica que está em causa. A minha razão ao pé do sucesso do meu clube vale zero.
Dei todos os benefícios da dúvida a Quique, quando os resultados e as exibições começavam a coincidir com a minha impressão inicial. Neste momento, passados 7 meses, esgotaram-se-me os benefícios da dúvida. O Espanhol tem à sua disposição (naquele que foi também um dos maiores investimentos dos últimos anos) um plantel de qualidade e com várias soluções (algumas das quais ele fez o favor de desperdiçar), e o futebol do Benfica não apresenta uma única ideia de jogo. Quique permanece entricheirado - com o seu "doble pivot" e o seu meio campo disposto em linha - nas suas ideias fixas sem denotar qualquer preocupação em perceber o meio em que está envolvido. Apenas isso explica o facto de se manter fiel a um sistema que não favorece os jogadores que tem à disposição e que não "encaixa" naquilo que são os principais dítames do futebol luso. E a dinâmica? Perguntar-me-às tu. Mas qual dinâmica? A do chutão para a frente á procura das correrias de Suazo ou Dí Maria? Se juntarmos a isto tudo, a aberrante colocação de David Luiz a lateral esquerdo, a incipiente e estéril colocação de Rúben Amorim como falso ala, para assim poder disfarçar as debilidades de um sistema face ao contexto, desperdiçando um dos melhores médios centro do plantel e tornando assim o sistema, para além de desajustado, coxo, temos de facto a sensação de que o espanhol não serve...
Friamente tenho que assumir que Quique Flores é o verdadeiro "flop". Filho das "artes espanholas", bem parecido, de discurso eloquente e bem relacionado com a imprensa, o espanhol viu logo no momento da sua estreia na profissão, os favores imensos que o seu estatuto lhe confere. Desde comparações com José Mourinho (!!!???) entre muitas outras coisas totalmente descabidas...
Quanto ao e-mail que mandaste para o trio de ataque. Ricardo, desculpa que te diga, aliás, repita (já o fiz no twitter), é pena que essa perspectiva, que eu saúdo, não seja sempre válida. Não o foi com Fernando santos, um dos melhores treinadores que passou no Benfica nos últimos anos. Não é, é fotogénico, nem tem um discurso atraente...mas sobre isso, já lá vamos.
Resumir a crítica a Quique, à questão dos dois pontas de lança, não me parece razoável. Quem me dera que fosse esse o problema do espanhol...
Concordo contigo relativamente ao 3ºanel ter ficado parado no tempo, no que a questões tácticas diz respeito. Mas, olha, devo dizer-te o seguinte: suspirar pela coexistência de dois avançados no sistema táctico do Benfica é um argumento tão estéril como aquele que sustentava a incompetência de Fernando Santos devido a este não ter sido campeão com o Jardel no plantel...
Quanto ao resto, há outra coisa em que estamos de acordo: O Vasconcelos não percebe nada do assunto e tem, no geral, uma prestação muito "fraquinha" no programa.
Epá, e com isto tudo, já escrevi mais aqui do que muitas vezes no meu blog...
Abraço
Quanto a permanência do Quique, da estabilidade e às criticas ao APV estou 100 % de acordo, no último programa irritou-me profundamente ouvir homem falar.
Já quando falas que o Quique fez bem em continuar a jogar com 2 avançados, eu pergunto:
Não valeria a pena correr o risco?
Como tu dizes o Guimarães estava completamente encostado lá atrás e não criava perigo absolutamente nenhum lá na frente. E o Cardozo poderia resolver num cabeceamento ou num livre...
O Nuno Gomes poderia servir para arrastar as marcações e o Cardozo deixaria de estar tão "rodeado". Os laterais poderiam ter espaço na mesma para subir.
Porque é que somos sempre mal representados nos programas de televisão!?
* com um avançado
"Flores para Quique"
É fácil perceber porque Quique Flores não triunfou no futebol português.
O discurso elevado de um estudioso do futebol, o seu "fair-play", os seus grandes valores morais, a sua forma de estar, não se coadunam com a linguagem brejeira utilizada pelos senhores do futebol cá do burgo onde se misturam compadrios entre políticos, empresários, advogados, jornalistas, árbitros e dirigentes desportivos. Um futebol de calças na mão, endividado, que louva a desonestidade, onde a verdade desportiva é questionada e o campeão é proclamado quase por decreto.
Os métodos inovadores no plano técnico-táctico do espanhol, na pele de um verdadeiro gentleman, amplamente reconhecidos e elogiados no seu país, não foram suficientes para o desvirtuado futebol português que realmente provou desconhecer.
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